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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
O SOLILÓQUIO DE HAMLET COMO POSSÍVEL POEMA PAI DE AGREGADO INFELIZ DE SANGUE E CAL DE AUGUSTO DOS ANJOS
Sandra Erickson 1 (sferickson@ufrnet.br) e Danielle de Paiva Vilela 1
(1. Departamento de Ciências Humanas Letras e Artes, Universidade federal do rio grande do norte)
INTRODUÇÃO:
A obra do poeta paraibano, cuja poesia impacta o leitor tanto pelas imagens grotescas de morte e decomposição provocando um “terror catársico” tem sido objeto de estudo do projeto A submissão do terror pelo sublime na poesia de Augusto dos Anjos (UFRN). Consideramos, que essas imagens, classificadas como mórbidas, são na realidade máscara para o sublime que Augusto ironicamente emula em seus versos. Além de disfarçarem o sublime, as imagens e o vocabulário de que o poeta faz uso são armas com as quais ele partilha do eterno “agon” poético com outros poetas pela sua permanência no cânone, expressando ainda a “angústia da influência”, definida por Harold Bloom como esforço criativo para vencer os chamados “pais poéticos”. O soneto Agregado infeliz de sangue e cal (Augusto dos Anjos, 1911) é considerado um dos mais mórbidos e grotescos do poeta. Propomos aqui, uma leitura do soneto em questão tendo como pano de fundo o Solilóquio de Hamlet, que acreditamos ser um possível “pai poético” para o soneto. A pesquisa é relevante no sentido de trazer uma nova visão de poesia e do fazer poético, como sendo uma eterna tentativa consciente ou inconsciente do poeta de vencer aqueles que provocam nele o que Bloom define como “inveja criativa”, seguida do desejo de superação e finalmente forjar seu lugar e permanência no cânone, o que seria uma forma de eternizar o poeta e sua obra.
METODOLOGIA:
Essa nova leitura de Augusto dos Anjos se baseia teoricamente no Revisionismo Dialético do crítico norte-americano Harold Bloom segundo a qual todo poema é uma resposta a um poema anterior, sofrendo o poeta, no caso Augusto dos Anjos, do “Mal do Tardio”, que seria a certeza de ter nascido depois da criação das grandes obras. Isso explica a “Angústia da Criatividade”, o medo de não conseguir superá-las. Nessa perspectiva, percebemos que os textos analisados e comparados, tanto o influenciador (Solilóquio de Hamlet) quanto o influenciado (Agregado infeliz de sangue e cal) convergem em termos de vocabulário, imaginário, temática e simbologia. Quanto ao temas, as vozes líricas expressam uma completa incerteza quanto à situação pós-morte e ambos os textos exploram o imaginário neoplatônico da morte como sendo um sono—observe-se os seguintes versos: “Possas tu dormir feto esquecido” (soneto) e “Morrer: dormir; não mais [...] Morrer, dormir; dormir, talvez sonhar: eis o dilema...” (Solilóquio)--; além de discutirem o estatuto do ser, o que realmente “se é”. No que diz respeito à simbologia, ambos se referem a um lugar desconhecido ou ainda não descoberto, que seria o destino do ser depois da morte; Shakespeare se refere a esse lugar como “A região não descoberta”, enquanto Augusto dos Anjos cogita apenas o lugar ao referir-se do feto: “Em que lugar irás passar a infância”.
RESULTADOS:
Os resultados do presente trabalho, ainda que preliminares, consolidam a relevância da aplicação da teoria de Harold Bloom à obra de Augusto dos Anjos e comprovam a forte influência shakespeareana em sua obra, particularmente no soneto estudado aqui, reivindicando a melancolia da criatividade como tema principal no imaginário do poeta paraibano.
CONCLUSÕES:
Os resultados desse projeto apontam ser Augusto dos Anjos, conforme já reconheceu ERICKSON (A melancolia da criatividade na poesia de Augusto dos Anjos, João Pessoa: UFRN, 2003) o que Bloom denomina “poeta forte”, pois ele não apenas recebe influências, simplesmente se apropriando de temas ou imagens dos seus “pais poéticos”, mas habilmente ele as recria em sua poética, exercendo também influência sobre outros poetas fortes do nosso cânone nacional, entre eles Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Tendo em vista os resultados obtidos, podemos afirmar que os objetivos da pesquisa foram satisfatoriamente atingidos. Partindo do que já obtivemos em termos de resultados, pretendemos continuar na mesma linha de pesquisa, dissecando outros poemas de Augusto dos Anjos com a intenção de traçarmos sua “genealogia poética”, confrontando etimologias, imaginários, simbologias e temas da sua obra com seus possíveis “pais” ou “filhos” poéticos.
Instituição de fomento: CNPq
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Revisionismo; Augusto; Hamlet.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005