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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 8. Psicologia do Trabalho e Organizacional
QUANDO A PSICOLOGIA SE FAZ COTIDIANA...: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE AS CONCEPÇÕES DO TRABALHO E DA PRÁTICA DOS PSICÓLOGOS
Jaqueline Tittoni 1, 2 (jaquemin@terra.com.br), Janaína Turcato Zanchin 2, Juliana de Lima Muller 2, Karina Brauner Blom 2, Mateus Pizzamiglio Kappel 2, Maurício Pinto Marques 2, Raquel Valiente Frosi 2, Renata Ghisleni 2, Sílvia Reis 2 e Vera Lúcia Inácio de Souza 2
(1. Profa.Dra. do Depto. de Psicologia Social e Institucional, Instituto de Psicologia-UFRGS; 2. Integrante do Programa de Educação Tutorial (PET), Instituto de Psicologia-UFRGS)
INTRODUÇÃO:
Este estudo surgiu a partir do interesse de graduandos em psicologia por discutir a forma como são vistos e compreendidos o psicólogo e sua prática profissional. Cabe considerar que a temática da psicologia e dos chamados “aspectos psicológicos” tem se ampliado nos últimos anos, sendo visível, por exemplo, na literatura sobre o tema, por vezes, inclusive, sendo confundida com temas de auto-ajuda e aconselhamento. Estes são alguns aspectos que colocaram em questão as visões do trabalho do psicólogo na vida cotidiana, onde se realiza o trabalho do psicólogo. As experiências vividas a partir das abordagens que nos são feitas enquanto psicólogo também motivaram para esse estudo, pois indicam destas concepções cotidianas da psicologia, que até podem confrontar os saberes acadêmicos. Assim, temos como objetivos analisar as visões cotidianas sobre a psicologia e a prática do psicólogo; entender como estas abordagens podem problematizar a formação; como o saber acadêmico pode ser confrontado pelo saber cotidiano e como os estudantes de psicologia compreendem as tensões entre estes saberes. Cabe considerar que as visões produzidas cotidianamente podem demonstrar os modos como os saberes acadêmicos se reconstroem no cotidiano e, por estarmos em formação acadêmica, somos sensibilizados por estas questões. Para tanto, usamos como referência teórico-conceitual a discussão da psicologia enquanto campo de conhecimento e de intervenção, ressaltando suas conexões com os saberes cotidianos.
METODOLOGIA:
Para realização deste estudo foram analisados relatos de estudantes de psicologia sobre suas experiências quando interpelados como portadores de um saber da psicologia. Os relatos foram colhidos aleatoriamente, buscando abarcar as diversas etapas do curso de psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e registrados de forma escrita e/ou gravada. Os participantes autorizaram a sua participação por meio de um consentimento livre e esclarecido. Foram construídas categorias com base na Análise de Conteúdo, que indicavam sobre conteúdos presentes nos relatos, tais como 1) o tipo de abordagem ou a descrição da situação na qual o estudante foi abordado como psicólogo 2) a argumentação que fundamentou a reação do estudante 3) a visão de psicologia do estudante abordado 4) elementos da formação acadêmica que auxiliaram na produção da argumentação do estudante que indicam sobre os efeitos da formação nos modos do estudante pensar a psicologia, e 5) a visão atual do estudante sobre a psicologia. A partir desta categorização definimos eixos temáticos para analisar as diferentes noções cotidianas sobre a psicologia presentes nas falas dos estudantes, apesar de sua formação acadêmica, e das pessoas que os abordaram. Esta última, obtida indiretamente, através do relato dos estudantes e, portanto, inferida por meio de seus relatos.
RESULTADOS:
Os resultados indicam as temáticas seguintes. 1)Situações relatadas: elas envolveram, principalmente, familiares e amigos, a busca de compreensão dos seus comportamentos, ou de outras pessoas e ajuda para tomar decisões. 2)Reação dos estudantes: alguns reagiram sugerindo terapia, “interpretando” as possíveis causas do problema, refletindo sobre a situação ou indicando atitudes que tomaria sem ser psicólogo. Também sugeriram que a psicologia não oferecia resposta imediata para o problema. 3)Visão sobre a psicologia do abordador: a atividade do psicólogo foi associada à solução de problemas com facilidade, maior conhecimento a respeito do outro do que ele próprio e ter características especiais, como empatia e sensibilidade. 4) Reflexão feita pelo estudante: não responder à demanda, na maioria das vezes, foi justificada pela falta de experiência do estudante, havendo também crítica à postura de não responder como isenção de responsabilidades. 5) Visão atual de psicologia dos estudantes: o fato de não ter uma resposta prévia à situação, pode indicar a complexidade da psicologia ou o fato do estudante não se sentir preparado. Os estudantes entendem que a psicologia envolve uma técnica, com embasamento teórico, que vai além de um envolvimento afetivo. 6) Reflexões sobre a formação: os relatos sugerem que a maior quantidade de conhecimento traria melhores condições de resposta, e que a formação acadêmica poderia suscitar a não assumir um lugar onipotente.
CONCLUSÕES:
A concepção do profissional da psicologia que predomina é a de um profissional que sabe mais sobre o sujeito do que ele próprio, sendo considerado como quem ouve, avalia e aconselha. Ele pode explicar as situações e predizer outras a partir de fragmentos de um relato. Algumas reflexões sobre a forma como o estudante de psicologia situa-se neste contexto indicam que ele ingressa na faculdade com concepções de psicologia que muito se parecem com as encontradas neste trabalho. Se quando começa o curso o estudante pensa que poderá dar respostas e interpretações para tudo, ao longo da sua formação percebe que isso não é possível e chega a questionar se a psicologia existe e tem alguma finalidade. No decorrer da formação pode ir se apropriando de um suporte teórico-metodolológico, que possibilita compreender a psicologia para além do senso comum e diferente de concepções mágicas, totalizantes ou onipotentes. Sobre o entendimento da psicologia, a demanda e a expectativa estão centradas na resolução de problemas, e não na sua problematização. A idéia do “dar respostas” é sugerida como incômodo, pois a pergunta do outro produz uma maior desacomodação. Surgem questões: Como responder? O melhor é não dar respostas? Qual o lugar do o psicólogo? Também questionam o “para quê” responder. Este estudo indicou como desdobramento, a possibilidade de relacionar as construções sociais e cotidianas da psicologia com o campo teórico e a formação acadêmica.
Instituição de fomento: PET/ MEC
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  psicologia; saberes cotidianos e acadêmicos; formação e atuação profissional.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005