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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica | ||
OS PROFESSORES FRENTE ÀS REFORMAS EDUCACIONAIS | ||
José Ernandi Mendes 1, 2 (ernandim@terra.com.br) e Arizete Pinheiro Mendes 1 | ||
(1. Dpto. Educação, Fac. de Filosofia Dom Aureliano Matos - FAFIDAM, Univ. Estadual do Ceará - UECE; 2. Prog. de Pós-Graduação em Educ. Brasileira, Fac. de Educ. - FACED, Univ. Federal do Ceará - UFC) | ||
INTRODUÇÃO:
A década de 90 é bastante relevante na construção do cenário educacional brasileiro. Em 1996, o governo federal sanciona as leis de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional – LDB e o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério – FUNDEF. E em 1997 lança os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN. Neste processo a descentralização da educação ganha força mediante a municipalização do Ensino Fundamental. Todas estas medidas são impulsionadas por orientações gerais do Banco Mundial (BM) para a educação. Por um lado, as novas propostas encontram os movimentos sociais em crise e particularmente os professores, desorganizados, desvalorizados e céticos frente às “mudanças”, e por outro, deparam-se com professores municipais ansiosos após presenciar o fracasso de inúmeras políticas educacionais. Na pobre realidade da educação municipal do nordeste brasileiro há um ambiente propício à receptividade, bastante suscetível às mensagens sedutoramente apelativas, que as propostas dos anos 90 trazem no arcabouço teórico-ideológico: participação, democracia e qualidade. O objeto desta pesquisa é a situação da docência na rede municipal de Aracati, Ceará, sobretudo as reações dos professores do Ensino Fundamental frente ao contexto das inovações educacionais (pedagógicas e administrativas) da última década. O presente estudo tem a pretenção de aprofundar a relação entre o desenvolvimento das políticas educacionais e a prática docente no âmbito municipal. |
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METODOLOGIA:
O desenvolvimento da pesquisa exigiu uma investigação documental das políticas educacionais produzidas ou veiculadas pela Secretaria Municipal de Educação de Aracati - SEMEAR, Secretaria de Educação Básica do Estado do Ceará – SEDUC e pelo Centro Regional de Desenvolvimento da Educação nº 10 – CREDE 10, responsável pela coordenação da educação básica na região do Baixo Vale Jaguaribe. A análise de tais documentos permitiu compreender a perspectiva oficial das políticas educacionais para o trabalho docente. Buscando o entendimento da concepção dos professores acerca de como estas políticas interferem no trabalho dos professores, lancei mão do instrumento do Memorial produzido por ocasião do Curso de Formação de professores de Aracati, ofertado pela Universidade Estadual do Ceará. A partir da leitura de trinta (30) memoriais nos quais os professores expuseram sua fatos relevantes de sua vida pessoal, escolar e profissional, pude identificar um conjunto diverso de idéias: infância, aluno, escola, trabalho, cidadania e reformas educacionais, observando sua significação na vida do professorado e as implicações na atividade profissional que abraçaram, tanto em relação ao compromisso com a docência, quanto aos problemas que julgam dificultar seu empenho e motivação. |
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RESULTADOS:
O estado neoliberal impõe uma dinâmica de gestão educacional e uma lógica de escola que ditam e controlam o caráter e ritmo das atividades docentes no conteúdo e forma da educação destinada às camadas populares. Diante da já histórica desvalorização da docência nas políticas educacionais, o magistério nas regiões pobres do país dá ao trabalho docente uma dramática e comovente tonalidade. A curta história da rede pública de ensino municipal, iniciada sob os desígnios da pobreza e a margem de um sistema único nacional de educação, sequer possibilita aos professores municipais a experiência do processo de desvalorização da docência na sua vida concreta, como experimentaram os docentes das redes públicas estaduais, federal e privada. As reações dos professores às mudanças são diversas: Uns admitem que elas são necessárias à solução dos problemas existentes, dispondo-se positivamente à “participação de todos”; outros desejam não se envolver, achando que seu caráter formal em nada modificará sua prática em sala de aula; alguns são completamente reticentes às “novidades”, considerando-as necessárias, porém desconfiados de que venham com o intuito de modificar efetivamente o quadro educacional; e, há ainda, os que apresentam uma reação de adaptação silenciosa ao novo contexto, dando crédito às “mudanças” em comparação à situação de trabalho anterior, de maior precariedade ainda, cuja tônica era a miséria e o total desrespeito à dignidade humana. |
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CONCLUSÕES:
O trabalho docente no Ensino Fundamental na escola pública municipal na cidade de Aracati, Ceará, tem características muito particulares e ao mesmo tempo compartilha de uma lógica estrutural das políticas educacionais amplas, impostas à educação brasileira por organismos internacionais. As inovações educacionais da última década mudam a escola e os professores sobretudo do sistema municipal de ensino. Há uma melhoria salarial a partir das reformas educacionais recentes, acompanhada de uma relativa uniformização do discurso de gestão democrática que extrapola as fronteiras dos países. Os professores, historicamente inseridos em relações sociais de trabalho arcaicas e desfavorecidas, demonstram num primeiro momento grande exultação e deslumbramento, porém, gradativamente apresentam reações de insatisfações quanto à nova realidade, que prometia muito mais às escolas municipais do que de fato vem a oferecer. |
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Instituição de fomento: CAPES | ||
Palavras-chave: Trabalho docente; Reforma educacional; Reações dos professores. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |