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F. Ciências Sociais Aplicadas - 12. Serviço Social - 5. Serviço Social da Saúde
CONDIÇÕES DE TRABALHO E QUALIDADE DOS SERVIÇOS PRESTADOS EM UMA ORGANIZAÇÃO PÚBLICA DE SAÚDE: O HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA
Mickelline Chaves de Brito 1 (millekelly@bol.com.br) e Liduina Farias Almeida da Costa 1
(1. Depto. de Serviço Social, Universidade Estadual do Ceará - UECE)
INTRODUÇÃO:
Os serviços públicos de saúde apresentam graves problemas em todo o país: escassez de recursos financeiros, humanos e de oferta de serviços em relação à quantidade de usuários que a eles recorrem, são algumas das debilidades facilmente observadas. Tal cenário remete à necessidade de construção de instrumentos capazes de elucidar aspectos relevantes acerca das especificidades do Sistema Único de Saúde no Ceará e que possam acarretar efeitos danosos para a população usuária bem como para os profissionais de saúde. Nosso interesse pela temática da saúde e seu atendimento em unidade terciária de referência, emerge ao vivenciarmos as experiências de estágio curricular do Curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Ceará e de pesquisas no Hospital Geral de Fortaleza, na qualidade de bolsista de iniciação científica da referida universidade. O trabalho ora apresentado trata-se de subprojeto da pesquisa ‘Satisfação dos usuários e profissionais do HGF: avaliação dos serviços prestados’ e tem como principais objetivos: conhecer as características da força de trabalho do hospital com relação às variáveis socioeconômicas e de trabalho; apreender aspectos do processo e organização hospitalar que atuem como indicadores de condições de trabalho; estabelecer correlações entre a satisfação no trabalho e entre a qualidade dos serviços realizados; contribuir para a discussão de aspectos insalubres ou que causam desconforto nos profissionais e que comprometem o desempenho de suas funções no hospital ou mesmo sua vida extra-hospitalar.
METODOLOGIA:
O caminho metodológico constou de pesquisa bibliográfica com base em autores tais como: Mendes (1993); Laurell (1996) visando a compreensão da saúde enquanto parte integrante das políticas brasileiras de seguridade social; Foucault (1992) e Ribeiro (1993) que traçam a trajetória histórica da instituição hospitalar; Guilhon (1987) e Castoriadis (1991) que nos conduzem a considerar a importância do componente simbólico que constitui e sanciona a existência das instituições. Trata-se de estudo de natureza quantitativa e qualitativa, cuja pesquisa empírica realizou-se no HGF no período de setembro de 2002 a outubro de 2003. A constituição da amostra baseou-se em critérios estatísticos e de representatividade, tomando por base o total de funcionários do hospital. Visando garantir a estratificação dos entrevistados foram considerados os todos os setores em que os profissionais estão lotados, diferentes horários, assim como a natureza de seu vínculo empregatício. A realização da pesquisa de campo constou da utilização de técnicas e instrumentos, destacando-se: a observação participante que propiciou a compreensão das rotinas dos diversos setores do hospital, bem como as relações travadas entre usuários e profissionais no decorrer dos atendimentos; entrevistas semi-estruturadas com base em roteiros previamente construídos com a participação dos profissionais lotados nos setores; consultas e sistematização de informações colhidas a partir dos Livros de Ocorrência, especialmente do Setor de Serviço Social.
RESULTADOS:
Relativamente ao perfil sócio-econômico dos entrevistados, observamos que 66% profissionais são do sexo feminino; 3% tem até 21 anos, 22% tem entre 22 e 29 anos, 29% tem entre 30 e 39, 27% entre 40 e 49 e 21 % tem mais de 50 anos. Quanto ao vínculo trabalhista, pode-se perceber que 33% vinculam-se á cooperativas, 46% à Secretaria de Saúde do Estado e 21% ao Ministério de Saúde. Relativamente à renda mensal, revela-se um perfil salarial positivo, porém esse dado pode revelar a sobrecarga de trabalho à qual os profissionais se submetem, uma vez que, 40% desses profissionais afirmam cumprir, semanalmente, acima de 41 horas de trabalho. Avaliando elementos que possam interferir em sua satisfação no trabalho, dentre uma série de indicadores apontados os mais citados foram: “gostar da atividade que realiza” é o que mais interfere na satisfação dos servidores (83%), logo abaixo vem a condição de vida do servidor (72%). A maioria (44%) qualifica como regular as instalações físicas do hospital; os recursos materiais disponíveis como ótimo ou bom para 43% dos servidores; os equipamentos, como regular (69%) e o número de leitos é visto como ruim ou péssimo (45%). Quanto ao número de profissionais, a avaliação é de que os mesmos são insuficientes para 45% dos entrevistados. Já a remuneração é o item pior avaliado, somando regular, ruim e péssimo um total de 84%. Por fim, na avaliação mais global do nível de satisfação do profissional com seu trabalho, apesar de todas as dificuldades apontadas, 85% informa estar satisfeito com a função que realiza.
CONCLUSÕES:
A pesquisa propiciou-nos perceber que os profissionais compreendem seu trabalho de uma perspectiva individual, estabelecendo poucos vínculos com o contexto institucional e social. Constatamos como ambigüidade que perpassa o significado do trabalho em saúde o sofrimento e o prazer. Esses profissionais, além de sofrerem pelo trabalho em condições insalubres, sofrem por temerem não satisfazer as imposições legais e institucionais sem que lhe sejam oferecidas todas as oportunidades necessárias. Por outro lado, mostram-se profundamente satisfeitos por estarem inseridos no mundo do trabalho. Isso, não só os conforma, mas os faz sentirem-se privilegiados mediante o crescente índice de desemprego atual, mostrando-se muitas vezes passivos não cogitando melhores perspectivas econômicas, sociais e políticas. Estudar o hospital enquanto ambiente de trabalho e as relações aí estabelecidas pelos seus trabalhadores, exige a compreensão do atual sistema econômico e seu modo de produção que multiplica as atividades dos diferentes níveis, mas também as agressões à vida e a saúde dos trabalhadores; além de, não ampliar as possibilidades de acesso dos que necessitam dos serviços de saúde. Os trabalhadores de saúde, comprimidos em suas instituições vêem concretamente como as condições de serviço são reduzidas e procuram diversas alternativas para prestar atendimento da forma que está ao seu alcance e para isso passam por diversos conflitos.
Palavras-chave:  sistema único de saúde; condições de trabalho; profissionais de saúde.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005