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F. Ciências Sociais Aplicadas - 9. Comunicação - 8. Comunicação
MEDIAÇÕES CULTURAIS E IDENTIDADES FRONTEIRIÇAS: COMUNICAÇÃO E CULTURA NA FRONTEIRA BRASIL-ARGENTINA
Roberta Brandalise 1 (betalise@terra.com.br) e Solange Martins Couceiro de Lima 1
(1. Depto. de Ciências da Comunicação, Universidade de São Paulo-USP)
INTRODUÇÃO:
Investigamos se o consumo cultural reforça ou dilui as fronteiras simbólicas entre as identidades culturais que se articulam na fronteira entre Uruguaiana (BR) e Paso de Los Libres (AR). Os modelos teórico-metodológicos adotados são os dos usos sociais dos meios de comunicação e do consumo cultural, desenvolvidos na América Latina por pesquisadores como Jesús Martín-Barbero e Néstor García Canclini. Para tanto, articulamos comunicação e cultura, descrevemos as relações sociais dos fronteiriços e pesquisamos as suas representações, principalmente no que diz respeito ás identidades nacionais e regional, á etnicidade, a memória e ao consumo cultural. Através da entrevista e da observação participante, observamos que o receptor da fronteira reelabora o sentido das informações veiculadas pela televisão. Verificamos que a instabilidade econômica da região fronteiriça afeta as relações sociais entre as comunidades de fronteira, promovendo um certo distanciamento na convivência entre brasileiros e argentinos. Neste contexto, o telejornalismo brasileiro e a argentino exercem um papel que alimenta os conflitos entre brasileiros e argentinos ao sublinhar os ganhos e as perdas econômicas nas relações Brasil-Argentina, ajudando, assim a construir representações que se confrontam no espaço fronteiriço.Por outro lado, a ficção televisiva brasileira parece aproximar brasileiros e argentinos.
METODOLOGIA:
A pesquisa se definiu como um estudo de caso, uma investigação qualitativa. Fizemos uso da observação participante, da entrevista semi-estruturada, do diário de campo e da técnica de história de vida. Nos inserimos no contexto dos entrevistados, participamos do cotidiano fronteiriço, do espaço público, do trânsito na ponte internacional. Foi preciso fazer um diário de campo para servir como memória das situações vividas, das reações dos entrevistados durante a pesquisa, bem como registrar informações adquiridas em conversas informais.
Na tentativa de alcançar como as representações acerca das identidades culturais são construídas a partir do consumo televisivo, das competências da cultura e do cotidiano na fronteira, organizamos a pesquisa empírica em duas etapas: primeiro, fizemos um estudo piloto e selecionamos uma amostra de vinte pessoas; na segunda etapa, investigamos as representações acerca de brasilidades, argentinidades e gauchidade. Para isso, utilizamos a entrevista do tipo semi-estruturada. A seleção da amostra foi intencional e de acordo com o critério de classificação de grupos socioeconômicos, faixa de renda e padrão de consumo, da ABA/ABIPEME. Estudamos a classe média, porque procuramos escolher um grupo no qual o pesquisador pudesse se inserir rapidamente.
RESULTADOS:
Ao analisar o depoimento dos entrevistados, observamos que o modo como argentinos e brasileiros se miram na fronteira tem a colaboração das mediações culturais que lhes são peculiares. As representações construídas são permeadas pela cotidianidade fronteiriça, por questões de etnicidade, carregam marcas de suas respectivas culturas nacionais e da cultura regional comum, da memória vivida e midiática e, também, daquilo que os entrevistados consomem em termos de meios de comunicação.Verificamos que os argentinos que vivem na fronteira consomem televisão brasileira e argentina, gostam particularmente das telenovelas brasileiras. Já os brasileiros fronteiriços não têm o hábito de consumir televisão argentina.
O telejornalismo brasileiro e argentino participa da construção de representações acerca do patriotismo de ambos os povos, gera comparações. Também colabora para definir a imagem que uns tem dos outros acerca dos pobres, dos ricos e dos políticos nacionais. O Mercosul é um tema recorrente em todos os depoimentos permeados pelo consumo de telejornalismo.
A telenovela brasileira é particularmente importante no imaginário que o argentino tem acerca da família brasileira, da mulher brasileira e do Brasil-evento. Além disso, os temas levantados pelas novelas tornam-se pauta de diálogos no cotidiano fronteiriço, gerando mais sociabilidade.
CONCLUSÕES:
1)O telejornalismo brasileiro e argentino alimenta os conflitos entre as comunidades de fronteira ao sublinhar as disputas econômicas entre os dois Estados. Salvo o telejornalismo local, que não estimula conflitos e nem trocas simbólicas;
2) Já a telenovela brasileira parece aproximar os fronteiriços, é consumida por argentinos e brasileiros, gera sociabilidade e destaca-se no perfil que os argentinos traçam acerca dos brasileiros;
3)A memória vivida e a memória midiática unem os fronteiros porque retomam episódios em que receberam apoio um do outro, como é o caso da disputa argentina pelas Ilhas Malvinas;
4)A escola reproduz a ideologia da civilização X barbárie contribuindo para o enfraquecimento das relações sociais na fronteira. Ao mesmo tempo, quanto maior o grau de escolaridade, maior é o poder de crítica em relação a esta ideologia;
5)A etnicidade separa argentinos e brasileiros porque reproduz a dicotomia colonizadora entre portugueses e espanhóis. Por outro lado, reforça os laços na fronteira em função da ascendência guarani, comum entre uruguaianenses e librenhos;
6) A região de fronteira desempenha um papel central para orientar as representações das pessoas, embora a nação seja a principal forma de identidade dos fronteiros em época de crise econômica;
7) Há indícios de uma desregionalização na fronteira Libres-Uruguaiana porque as relações sociais interfronteiriças se distanciam em função das políticas dos Estados Nacionais.
Instituição de fomento: CNPq
Palavras-chave:  Consumo Cultural; Identidades Culturais; Fronteira Brasil-Argentina.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005