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H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 8. Teatro e Ópera | ||
TEATRO COMO INSTRUMENTO DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL | ||
Miracy Barbosa de Sousa Gustin 1 (msgustin@task.com.br), Fernando Antonio de Mello 1, 2 e Elaine Cristina de Abreu Coelho 1 | ||
(1. Programa Pólos de Cidadania, Faculdade de Direito, Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG; 2. Teatro Universitário - UFMG) | ||
INTRODUÇÃO:
Em diversos momentos de sua história, o teatro foi instrumento de mobilização e conscientização social. Alguns clássicos da dramaturgia mundial, Molière, Brecht, dentre outros, promoveram um teatro de resistência instigante que não oferecia uma catarse aristotélica, mas provocava inquietação, questionamento, discussão. Tal condão dramatúrgico, entretanto, não produz per si as circunstâncias nas quais o teatro, por meio da sensibilização e educação, promove transformações sociais efetivas. Para tanto, a estética adotada e o conteúdo do texto devem atender a critérios rigorosos de elaboração. No presente projeto, afirma-se que as teorias que sustentam o teatro do oprimido, na qual as opressões e práticas sociais não observadas cotidianamente são reveladas, e o teatro épico-didático que propicia o distanciamento necessário a analise multiangular e a problematização do conflito apresentado no espetáculo, cumuladas, proporcionam condições ideais para que a comunidade espectadora lance um outro olhar sobre si mesma e promova, por meio do debate-reflexivo, uma releitura de suas práticas sociais. Deve-se destacar que há dez anos o Programa Pólos de Cidadania da Faculdade de Direito da UFMG - PÓLOS atua em comunidades com histórico de violência e exclusão socioeconômica na região metropolitana de belo horizonte e no Médio Vale do Jequitinhonha - MVJ - interior de Minas Gerais. |
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METODOLOGIA:
A metodologia utilizada pelo PÓLOS é a pesquisa-ação (THIOLLENT, M.) Que, por meio da observação e escuta, embasados em seus marcos teóricos (HABERMAS, J; SANTOS, BS; FOUCAULT, M.) promove, em parceira com a comunidade, ações que interfiram na realidade local. A comunidade passa a ser sujeito transformador e não mero destinatário de ações externas. Nesse sentido, procedeu-se à presente pesquisa que objetivou demonstrar em quais circunstâncias o teatro é instrumento capaz de promover transformações sociais efetivas, transfigurando agentes passivos em agentes criadores. A testagem realizou-se em cidades de alta exclusão social do MVJ. O estudo técnico-teórico-dramatúrgico e a identificação do tema-problema de maior interesse para a comunidade alvo são imprescindíveis ao estudo analítico aprofundado de sua linguagem, discurso, aspectos comportamentais e práticas sociais e à elaboração do esquete. Finalizado, o esquete é apresentado aos atores sociais relacionados ao tema abordado. Após, promove-se um debate-reflexivo entre atores e espectadores acerca das relações e práticas sociais representadas, no qual é destacada a co-responsabilidade dos grupos sociais nos rumos de sua comunidade. O acompanhamento dos resultados é feito por meio dos relatórios das equipes do PÓLOS que atuam continuamente nessas comunidades, da re-apresentação do esquete no intuito de verificar em que medida houve transformação e da análise comparativa do discurso local antes e certo tempo após a apresentação. |
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RESULTADOS:
Apesar da diversidade de público e dos variados temas abordados, a reação dos espectadores durante a apresentação do esquete (seu entusiasmo, inquietação e interesse pelo tema e sua forma de abordagem) foi sempre positiva, apontando para o êxito da estética adotada. As transformações sociais, contudo, apresentaram resultados heterogêneos. Verificou-se que o debate-reflexivo promovido após o espetáculo que envolveu apenas um grupo social engendrou resultados de menor impacto. A pesquisa acerca da Efetividade das Ações do Poder Público no Combate a Exploração Sexual no Médio Vale do Jequitinhonha, detectou constrangedora negligência dos conselhos tutelares em suas ações de proteção à criança e ao adolescente, bem como, o costume local de não denunciar violência e abusos cometidos contra esses. Elaborado o texto dramático que pontuava sobremaneira as relações e práticas ali estabelecidas, procedeu-se à apresentação do espetáculo e posterior debate envolvendo representantes do poder público e de organizações não-governamentais, além de conselheiros municipais e tutelares e da própria população que compareceu maciçamente. Durante a discussão foram avaliadas a participação e o comprometimento dos grupos sociais presentes e sua co-responsabilidade no processo de melhoria da qualidade de vida local. As ações propostas e os compromissos de apoio, colaboração e parceria firmados deram início a novas formas de conduta em relação à mencionada questão. |
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CONCLUSÕES:
Constatou-se que o teatro é instrumento capaz de promover transformações sociais efetivas e sustentáveis. Para tanto, critérios rigorosos de elaboração e execução dos esquetes devem ser observados, especialmente, quanto à escolha do tema (que deve ser de extrema relevância para a comunidade), à análise e ao levantamento in loco da linguagem, do discurso e das práticas sociais da comunidade alvo. Tal procedimento permite a construção personagens que revelam comportamentos e vivenciam circunstâncias bem familiares aos espectadores. Ao explicitar as relações sociais da comunidade e seus conseqüentes problemas, o teatro demonstra que todos são co-responsáveis, uma vez que participam, mesmo que passivamente, dessas relações. Diante disso, é fundamental que o esquete seja apresentado ao maior número possível de atores sociais envolvidos na questão abordada, pois o espetáculo viabiliza o encontro desses atores em um espaço de discussão alternativo, promovendo um confronto de idéias direto em um momento em que estão sob a influência inquietadora e, ao mesmo tempo, sensibilizadora do teatro. Trabalha-se, portanto, fatores intelectuais e emocionais de forma integrada, no intuito de constituir uma nova tensão entre a informação e a ação capaz promover a implicação da comunidade em solucionar seus problemas. |
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Instituição de fomento: Pró-Reitoria de Pesquisa e Extensão da Universidade Federal de Minas Gerais | ||
Palavras-chave: Pesquisa-ação; Dramaturgia; Debate-reflexivo. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |