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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia
ASSOCIATIVISMO JUVENIL NO BRASIL CONTEMPORÂNEO: CAMPO DE ANÁLISE DO CAPITAL SOCIAL EM UMA REDE DE MOVIMENTOS DE JUVENTUDE EMPENHADOS NA CONQUISTA DE DIREITOS HUMANOS DE VÁRIAS DIMENSÕES.
Penildon Silva Filho 1 (penildonsilvafilho@yahoo.com.br)
(1. Programa de Pesquisa em Educação da Universidade Federal da Bahia - UFBA)
INTRODUÇÃO:
O Capital Social (CS), considerado como cooperação e confiança sociais, segundo Robert Putnam, é a base em que as lutas pelos direitos humanos (DH) de desenrolam. Se há práticas associativas, tradição de participação política dos cidadãos e engajamento cívico dos indivíduos, a reivindicação por DH das diversas dimensões terá um lastro de mobilização e pressão social. Mas a consolidação de determinados DH, como a liberdade de expressão, de organização, de professar uma religião, ou de participar de um partido político, abrem possibilidades da vida comunitária ser intensificada e incrementada. E o resultado dessas lutas garante condições mínimas de sobrevivência, de acesso ao emprego formal, à educação e saúde públicas, a projetos habitacionais, tudo isso garante condições superiores para o exercício da cidadania, que também contribuem para o Capital Social.Entendemos que estamos vivendo atualmente no Brasil um florescimento e articulação do movimento associativo juvenil. Analisamos essas características argumentando que são movimentos que contribuem para o fortalecimento da cooperação e da confiança entre os jovens, que estimulam a participação em atividades associativas, logo concorrem para o fortalecimento do Capital Social e uma mudança na cultura política brasileira a médio e longo prazo, e ao mesmo tempo fazem isso na demanda e reivindicação por diversos DH, inclusive de terceira geração, culturais, de reconhecimento simbólico no espaço público.
METODOLOGIA:
A metodologia utilizada foi o estudo de caso múltiplo. “O estudo de caso é a estratégia escolhida ao se examinarem acontecimentos contemporâneos, mas quando não se podem manipular comportamentos relevantes” (YIN, 2001, p. 27), pois a pesquisa por experimento é que permite a manipulação dos comportamentos na investigação, e a pesquisa histórica é que possibilita analisar acontecimentos passados. Mas o estudo de caso, assim como o experimento e a pesquisa histórica é que proporciona ao pesquisador lidar com “ligações operacionais que necessitam ser traçadas ao longo do tempo, em vez de serem encaradas como meras repetições ou incidências” (ibdem, p. 25). Trata-se do tipo de questão que é formulada na pesquisa que orienta a nossa escolha do estudo de caso. Faremos o estudo de caso de três experiências de organização de redes de juventude que estão se consolidando desde 2003 em âmbito nacional. Para isso utilizamos alguns instrumentos de pesquisa. Houve a observação sistemática dos eventos, congressos como o Encontro Vozes Jovens em maio de 2004, a 1ª Conferência Nacional de Juventude em junho de 2004. A pesquisa documental analisou e fez análise de conteúdo dos documentos dessas redes. A pesquisa bibliográfica e eletrônica contribuiu para a fundamentação teórica e as entrevistas com as lideranças dessas redes permitiram a análise do discurso da atuação militante das mesmas.
RESULTADOS:
Há hoje no Brasil diversas redes temáticas, como a Rede Nacional de Meio Ambiente (REJUMA), ou locais, como o Movimento Interartístico Cultural (MIAC), em Salvador. As redes têm atuação tanto nas ações do cotidiano, com eventos, intervenções, como se utilizam muito do espaço virtual. Mas podemos identificar hoje três grandes redes de caráter nacional que congregam movimentos associativos juvenis mais gerais: 1) Há a Plataforma de juventudes partidárias, fundada em maio de 2004, que vêm ganhando força interna nos partidos. 2) Há a Rede Nacional de Organizações de Juventude, que se caracteriza como uma rede de Ongs, que começou a ser criada no evento Vozes Jovens, promovido pelo Banco Mundial, em Brasília, entre 24 e 26 de maio de 2004. Está muito clara a prioridade desta rede como espaço de, em primeiro lugar, estimular o protagonismo juvenil, o que significa a participação ativa, cidadã, no espaço público, e de forma associativa, ligando isso diretamente ao fortalecimento da democracia como resultado dessa intervenção.3) Fórum Nacional de Movimentos e Organizações Juvenis, constituído pela UNE, Ação Educativa, Coletivo de Jovens da CUT, MST, Rede de Jovens do Nordeste, Redes e Juventudes e MHHOB, que foi reunido na Universidade de Brasília em 26 de maio de 2004 e que realizou uma nova reunião na 1ª Conferência Nacional de Juventude, agregando tanto membros da primeira reunião quanto organizações da Rede Nacional de Ongs e de juventudes partidárias.
CONCLUSÕES:
Os jovens são sujeitos com demandas específicas, o que caracteriza um movimento policlassita, de caráter plural, numa cidadania ativa em busca de políticas públicas. A especificação destas políticas pública é elencada como educação pública e gratuita, saúde pública e gratuita, direito ao lazer, direito ao trabalho, que são direitos humanos de segunda geração. Há a reivindicação também contra grupos de extermínio nas periferias das grandes cidades, o direito de ir e vir, o que é muito denunciado pelos movimentos negros e Ongs que combatem a violência policial, o que são direitos de primeira geração. E está sempre cada vez mais forte a luta contra a exclusão simbólica, muito fortalecida nos últimos anos pela discussão sobre políticas de ação afirmativa, nas universidades, no trabalho e na visibilidade pública dos meios de comunicação, o que podem configurar como direitos de terceira geração. Enquanto uma permanente comutação de estrutura e ação, Capital Social e Direitos Humanos estão se intercambiando, há um substrato no qual se desenvolvem as ações políticas e uma sociedade que é permanentemente ressignificada pela ação de seus movimentos sociais. Movimentos sociais de novo tipo, que atuam em rede, de um caráter muito plural, e que têm um caráter de educação informal, de construção de novos valores e novas normas sociais que dessa maneira sedimentam um novo Capital Social ao longo do tempo. Assim, essas redes contribuem para esse novo Capital Social.
Palavras-chave:  Direitos Humanos; Capital Social; Associativismo juvenil.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005