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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 4. Sociolingüística | ||
OS ESTRANGEIRISMOS NO COTIDIANO | ||
Cristiano Soares de Lima 1 (cristianjo_z3@hotmail.com) e Maria Denilda Moura 1 | ||
(1. Depto. de Letras Clássicas e Vernáculas, Universidade Federal de Alagoas - UFAL.) | ||
INTRODUÇÃO:
O descontentamento por parte de uma pequena parcela da população quanto aos empréstimos lingüísticos sempre existiram, apesar desse fenômeno ser perfeitamente natural em se tratando de qualquer língua, e a sociolingüística trata esse tema como um dos seus principais assuntos (a variação lingüística). Assim como existem inúmeras línguas diferentes, é perfeitamente comum também que existam grupos em defesa do uso da variação lingüística e outros que a condenem (em se tratando de todos os níveis de variação: gírias, estrangeirismos, enfim, a linguagem não padrão), e é exatamente com respeito a esse tópico dos estrangeirismos que centro minha discussão, atentando para a maneira como essas palavras aparecem na fala cotidiana e se essas palavras realmente são desconhecidas por parte do falante que a utilizou, uma vez considerado o argumento do deputado Aldo Rebelo com o projeto de lei Nº 1676/99 (anti-estrangeirismos). |
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METODOLOGIA:
Para a realização desta pesquisa, embaso-me na sociolingüística variacionista, que considera a heterogeneidade da língua, procurei comprovar a veracidade da afirmação que Aldo Rebelo, deputado do PC do B de São Paulo, faz na justificação da elaboração de seu projeto de lei Nº 1676/99, de que o “homem simples do campo”, bem como os moradores de cidades do interior não conhecem nem compreendem palavras ou expressões “importadas” (em geral do Inglês norte-americano), e que todos os brasileiros, independentemente do rincão que ocupam, do seu nível de instrução e das peculiaridades da fala e da escrita, são capazes de compreender plenamente sua língua. Atentei, então, para o nível de instrução de pessoas da cidade de Murici, interior de Alagoas, quanto à palavras estrangeiras e vernaculares a partir de perguntas que explicitassem o conhecimento dessas palavras por parte dos oito entrevistados (quatro são do sexo masculino e quatro do feminino), apresentando a eles, em seguida, uma lista de doze palavras em Inglês e outras doze em Português brasileiro para que respondessem se conheciam alguma das seguintes palavras: (Inglês) - Hot dog, Love, Brother, Stop, Shopping Center, Office boy, Delivery, Mouse, Ok, Hotel, Menu e Cheeseburguer; (Português) - Térmite, Ludâmbulo, Beberete, Casa de pasto, Lucivelo, Fato de malha, Ludopédio, Convescote, Bufarinheiro, Engate, Endentar e Lanço. |
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RESULTADOS:
Da lista que apresentamos, o primeiro entrevistado (18 anos; 2º Grau completo) não conhecia apenas uma das palavras apresentadas em Inglês e não conhecia onze das doze palavras do português. O segundo, (24 anos; 2º Grau completo), não conhecia seis das doze em Inglês e não conhecia 11 das doze em português. A terceira, (17 anos; cursando o 2º Grau), não conhecia três das doze em Inglês e não conhecia nenhuma das doze em português. A quarta, (16 anos, cursando o 2º Grau), não conhecia uma das doze em Inglês e não conhecia oito das doze em português. O quinto, (19 anos, cursando o 1º ano da faculdade não conhecia duas das doze em Inglês e não conhecia quatro das doze em português. O sexto, (26 anos, 2º Grau completo) conhecia todas em Inglês e não conhecia onze das doze em português.. A sétima, (39 anos, não disse escolaridade), não conhecia uma das doze em Inglês e não conhecia duas das doze em português. A oitava, (42 anos; nível superior completo), conhecia todas as doze em Inglês e não conhecia 10 das doze em português. Dessa forma, pôde-se perceber claramente, com um percentual de quase 100% (cem por cento), a não comprovação da afirmação de que todos os brasileiros conhecem todas as palavras do português e que não estão afeitos às palavras do Inglês. |
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CONCLUSÕES:
Com isso, então, vê-se que o deputado Rebelo não estava totalmente com a razão ao afirmar que o “homem simples do campo” e as pessoas que moram no interior não conhecem palavras em Inglês e conhecem todas as do Português. O constatado foi o contrário disso (o conhecimento de mais palavras estrangeiras do que portuguesas), o que não significa que estejamos abandonando o nosso vernáculo, visto essas palavras serem uma minoria em relação às portuguesas, só aparecendo, nesse caso, porque foram solicitadas. Os estrangeirismos são, portanto, fatos comuns da fala cotidiana, não sendo possível de serem erradicados das conversações no dia-a-dia. |
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Instituição de fomento: MEC/SESu | ||
Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: Heterogeneidade Lingüística; Projeto de lei; Linguagem cotidiana. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |