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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental | ||
EDUCAÇÃO AMBIENTAL ENQUANTO INSTRUMENTO DE PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL EM ÁREAS URBANAS: O CASO DA COMUNIDADE DO TETRA, OLINDA, PE | ||
Edneida Rabêlo Cavalcanti 1, 2 (erc@fundaj.gov.br) e Thiago José Costa Alves 2 | ||
(1. Fundação Joaquim Nabuco - FUNDAJ; 2. Núcleo de Gestão Ambiental, Faculdade de Ciências da Administração - NGA/FCAP/UPE) | ||
INTRODUÇÃO:
Os instrumentos tradicionais de planejamento e gestão para áreas urbanas (normativos, de fiscalização, preventivos e corretivos), não têm sido suficientes para propiciar a qualidade ambiental urbana, aonde é necessário trabalhar incorporando dois conceitos importantes: o de ecossistema urbano e o de qualidade de vida. O primeiro, compreendido enquanto um sistema complexo, com estreita vinculação entre o meio natural e o construído, e o segundo, em que pesa a presença de muita subjetividade nas discussões e definições, incorpora necessariamente indicadores de ordem social, ambiental e econômica considerando não apenas a noção de atendimento das necessidades básicas de sobrevivência, mas aspectos relacionados à qualidade e também a sensação de bem estar. No entendimento do presente trabalho, o uso desses instrumentos dificulta um envolvimento efetivo das comunidades, principalmente aquelas mais carentes, na execução de programas e projetos, inclusive aqueles ligados à temática ambiental. Nessa perspectiva, o objetivo do trabalho desenvolvido foi identificar, a partir de um estudo de caso realizado através de pesquisa na Vila do Tetra, Bairro de Passarinho, município de Olinda/PE, a necessidade de incorporação de novos instrumentos de gestão urbana, tendo como foco a questão da água, que possibilitem maior envolvimento da comunidade e mudanças efetivas de atitudes. |
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METODOLOGIA:
A localidade foi selecionada pelo fato de já ser uma área de trabalho dos autores e das instituições envolvidas e pelo fato de apresentar sérios problemas ambientais, principalmente associados à contaminação da água com resíduos sólidos e esgotos domésticos; por outro lado, figura como área piloto para implantação do PROMETRÓPOLE, Programa de Infra-Estrutura em Áreas de Baixa Renda da Região Metropolitana do Recife. A pesquisa foi estruturada através de questionário aplicado junto a moradores da Vila do Tetra, especificamente nas localidades: Beira Rio, Barão Vermelho, Nova Jerusalém e Rua Viola, surgidas a partir de um processo de invasão no ano de 1994 e que contam com 200 moradias. O perfil do entrevistado foi associado ao fato de ser adulto residente na moradia, e a espacialidade na aplicação do instrumento foi levada em consideração na medida do possível, em função da indefinição no traçado das ruas ou mesmo pela questão da inacessibilidade. O questionário cobriu 15% do universo considerado, e foi codificado para que na seqüência pudesse ser feita a apuração. Além disso, também foi realizado levantamento bibliográfico e entrevistas com Agentes de Saúde Ambiental – ASA -, Agentes Comunitários de Saúde – ACS -, e lideranças locais. |
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RESULTADOS:
A área estudada apresenta, segundo dados dos ACS, vários casos de doenças relacionadas à inexistência de saneamento básico e ao destino do lixo doméstico por parte das famílias que, apesar da coleta regular realizada pela prefeitura, colocam o mesmo diretamente no rio ou nas valas que passam em determinadas áreas. Nessa mesma direção, existem dificuldades em alterar alguns hábitos e atitudes junto aos moradores, o que levanta a reflexão quanto aos pontos de estrangulamento existentes, relacionados com os instrumentos utilizados. Dos entrevistados, 72,5% identifica algum problema ambiental no local onde mora e apontam a ausência de saneamento básico como causa, sendo que desses, 37,5 % citam ainda a poluição do rio, 30% a coleta de lixo, 10% os esgotos a céu aberto e 7,5% a presença de doenças. Por sua vez, 100% dos entrevistados acredita que é possível fazer algo para melhorar os problemas ambientais do lugar onde mora, só que, quando perguntados quem deve ser responsável por isso 82,5% indica que deve ser a prefeitura e desses apenas 20% cita também os moradores. Apesar da ação sistemática dos ACS e ASA, existem dificuldades em alterar a situação, fato relacionado diretamente com a condição socioeconômica que deixa poucas alternativas para as famílias no tocante ao uso e destinação de certos recursos. |
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CONCLUSÕES:
A identificação da existência de problemas ambientais por parte dos moradores não vem acompanhada de um envolvimento concreto em atitudes que estão ao alcance deles, mesmo no atual contexto. Esse certo distanciamento, além dos aspectos relativos as precárias condições socioeconômicas, refletidas diretamente na questão da moradia, pode também ser atribuído aos mecanismos de gestão normalmente utilizados ou mesmo na ausência deles. Existe a urgência de incorporação de novos mecanismos de planejamento e gestão que trabalhem na perspectiva de construção de uma cidadania ativa, que leve a soluções com transformação da consciência individual e coletiva e ultrapasse o puro pragmatismo ou as questões puramente ideológicas. Nesse sentido a educação ambiental, estruturada a partir de processos de mobilização social, tendo como suporte o resgate da história ambiental do local e a articulação com movimentos em outras escalas, representa um pilar importante na construção de sinergias positivas e no traçado de novos caminhos para essas comunidades. Tal concepção é de fundamental importância no sentido de permitir um maior envolvimento na implementação de programas como o PROMETRÓPLE, assim como na definição de novos horizontes e buscas a serem perseguidos. |
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Palavras-chave: Educação ambiental; Gestão ambiental urbana; Mobilização social. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |