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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho
TRABALHO: CONSTRUÇÃO DE VALORES E REPRESENTAÇÕES
Osicleide de Lima Bezerra 1 (osicleide@uol.com.br)
(1. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais - UFRN)
INTRODUÇÃO:
Esse trabalho buscou analisar as representações e o lugar que o trabalho ocupa no imaginário de trabalhadores urbanos na Cidade do Natal –RN. Num contexto de profundas transformações no chamado mundo do trabalho, que refletem as configurações vistas em âmbito nacional, o trabalho aparece envolto de um conjunto de valores morais, que norteiam sentimentos de utilidade e dignidade. A idéia de que o trabalho dignifica o Homem se institui no imaginário de uma sociedade de trabalhadores construída ao longo de um processo histórico de legitimação do trabalho produtivo. A partir dessas inquietações, buscamos analisar a construção desses valores e ainda, qual a relação conseqüentemente estabelecida entre o trabalho e o não-trabalho.
METODOLOGIA:
Para o desenvolvimento da problemática exposta, privilegiamos ações de pesquisa com caráter predominantemente qualitativo. A partir dessa orientação, realizamos entrevistas abertas semi-estruturadas, as quais constituíram-se como mecanismos utilizados com o fim de ouvir os relatos de história profissional e de vida de trabalhadores com perfis e histórias diferenciados. O campo que elegemos para dar conta do universo heterogêneo que caracteriza o mercado de trabalho local foi o posto matriz do Sistema Nacional de Emprego - SINE/RN, localizada em Natal, capital do Estado. Nas entrevistas, destacamos os seguintes tópicos: as trajetórias profissionais e de vida, as percepções dos trabalhadores acerca das mudanças ocorridas no mundo do trabalho nas duas últimas décadas e, sobretudo, qual a representação que o trabalho, em sua acepção mais ampla, possui para esses sujeitos.
RESULTADOS:
É a partir da consolidação do capitalismo nas sociedades industriais que o trabalho, norteado pelo produtivismo, passa a ser uma referência na organização social. No Brasil, somente a partir do século XX, observamos os alicerces de exaltação e legitimação dos valores do trabalho. A integração dos trabalhadores na sociedade através da relação de emprego possibilitou o compartilhamento de um conjunto de direitos e seguridades. Esse processo possibilitou a construção de um imaginário fundado por um conjunto de valores e significações, que são expressos ainda hoje pelas falas dos trabalhadores, mesmo num contexto de falência do modelo de sociedade salarial; o trabalho é descrito por esses sujeitos como representante de uma atividade que dignifica e moraliza o Homem. Essa exaltação produz, por sua vez, representações sobre o não-trabalho, que é associado à vagabundagem, a malandragem e à desvalorização social. Alguns indicadores reforçam essa afirmativa: o desemprego tem provocado nos trabalhadores além da desestruturação econômica, um conjunto de sentimentos de anulação, fracasso e inutilidade. Na Região Metropolitana de Natal, o desemprego é entendido por cerca de 88,5% dos trabalhadores sob o ponto de vista de uma forte negatividade. Para esses desfiliados do mercado formal, o não-trabalho tem um forte impacto no plano familiar, econômico e psicossocial.
CONCLUSÕES:
É como herança da própria organização do nosso sistema econômico-social que o trabalho produtivo alienante na nossa sociedade vai se revestir de um caráter positivo e permear hoje a fala dos trabalhadores. Diante da crise no modelo salarial de organização dessa sociedade, os trabalhadores sem trabalho passam a vivenciar o sentimento de nulidade e frustração. Esses sentimentos e valores são compartilhados por jovens que buscam integrar-se no mercado formal, por trabalhadores expulsos do mercado, e mesmo por aqueles que trabalham informalmente, em situação precária. Essa constatação nos leva a destacar a história de gerações de trabalhadores que tiveram suas vidas cotidianas norteadas por uma atividade que assumiu um lugar central no cotidiano. Como a jornada diária de trabalho representa o meio através do qual os trabalhadores em sua grande maioria realizam e satisfazem suas necessidades, o restante do tempo organizou-se em função dessa jornada. Neste sentido, a condição de trabalhador, antes estranhada e confrontada pelos sujeitos a ela submetida vai deixando de ser compreendida como um espaço de confronto para representar um espaço de afirmação dos sujeitos numa sociedade de trabalhadores.
Instituição de fomento: CAPES
Palavras-chave:  Trabalho; Representações; Trabalhadores.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005