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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 6. Sociologia Urbana | ||
IDENTIDADE E CULTURA NA MODERNIDADE. UMA ANÁLISE DA (RE)QUALIFICAÇÃO NO CENTRO DA CIDADE DE FORTALEZA | ||
Leeonardo Costa de Vasconcelos 1 (leonardocosta@bol.com.br) | ||
(1. Curso de Ciências Sociais, Universidade Estadual do Ceará - UECE) | ||
INTRODUÇÃO:
Pensar a noção de uma identidade cultural de uma cidade é uma forma de pensar também o processo pelo qual esta foi se desenvolvendo enquanto sítio urbano e enquanto espaço de difusão de práticas culturais. Dessa forma, ao longo da história da formação urbana vão se constituindo patrimônios históricos, culturais, ou seja, marcos tanto materiais (prédios públicos, praças e ruas) como imateriais (festas, expressões típicas, etc) que carregam consigo o fruto de uma dialética travada entre as diversas forças ideológicas da sociedade respectiva. Atualmente pode ser observada, a partir da parceria do poder público e de instituições privadas ao redor do mundo, uma preocupação em fortalecer essa noção de identidade cultural das cidades. Exemplo disso pode ser notado a partir dos vários projetos que tocam o processo de “requalificação” do centro de Fortaleza, os quais têm como intenção principal “resgatar a memória da cidade e a auto-estima de quem nela vive”. Esta pesquisa tomou então como objetivo a reflexão acerca desse processo tendo como foco o centro de Fortaleza. Para isso, buscou-se um levantamento de como esse conceito é discutido na contemporaneidade; como se deu ao longo do tempo em Fortaleza através de consultas a acervos históricos e iconográficos; e em que tipo de espaço social irá se dar, elaborando através de entrevistas e etnografias, a compreensão de que tipo de reforma urbana está sendo objetivado por este processo. |
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METODOLOGIA:
Esta é uma pesquisa qualitativa que pretendeu uma discussão entre a realidade da requalificação do centro de Fortaleza e estudos pré-existentes nos campos da antropologia, história, sociologia e política. Na coleta de dados, foram objetivados personagens característicos (moradores, lojistas, e freqüentadores das praças) em pontos estratégicos como: praças principais (do Ferreira, José de Alencar, Lagoinha, Estação, do Carmo e Coração de Jesus), o centro lojista e a região habitacional, tomando-se como modelo a divisão do “centro histórico” de Fortaleza, segundo Ponte (2001). Os sujeitos desta pesquisa foram ainda historiadores, intelectuais e técnicos que estão envolvidos no processo de requalificação nas seguintes instituições: Prefeitura, Câmara dos Diretores Lojistas (“Ação Novo Centro” e Planefor). Ressaltamos que se optou por um número indeterminado de informantes. As entrevistas se deram de duas formas: 1) Semi-estruturadas: com um roteiro específico dirigido aos historiadores, técnicos, moradores e lojistas; e 2) Dirigidas: elaboradas junto aos freqüentadores das praças. Foi realizada ainda uma etnografia através de uma observação sistemática simples que buscou captar a realidade do cotidiano do centro. Categorizou-se também os tipos de arranjos sociais em noções como pedaços, manchas, pórticos, trajetos e circuitos (Magnani). As principais fontes secundárias foram, além da bibliografia do tema, jornais, sites da internet, revistas e documentação de historiadores. |
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RESULTADOS:
De uma forma geral esta pesquisa propiciou em seu desenrolar uma oportunidade de se conhecer melhor um espaço que é tido como um dos maiores símbolos culturais de Fortaleza. Percorrendo-o rua a rua, conseguiu-se observar - além do quase sempre descuidado aspecto material do centro -, sobretudo, a vida que através dos arranjos sociais é desenhada por quem o freqüenta ou se encontra por ali. Suas ruas revelaram ainda aspectos curiosos. Esses dizem respeito a alguns conceitos debatidos nas discussões sobre a requalificação, tais como as idéias de esvaziamento ou dessignificação na relação do centro com a população de Fortaleza. Através de uma simples caminhada ou conversa com freqüentadores daquele espaço, percebeu-se que: eles ocupam o centro de maneira particular através dos arranjos sociais, sabem da existência de problemas no centro, mas têm a certeza de ser ali o principal marco cultural da cidade. É óbvio que não se pode negar a importância para Fortaleza de transmitir sua história, seus símbolos e marcos culturais às novas gerações. Mas o que se verificou foi uma visão relativamente estreita de políticas públicas, que denota um enquadramento social da cidade, com a perspectiva somente de determinados atores sociais. Isso se revela, através das respostas dadas ao “esvaziamento” do centro - alardeado nos planos de requalificação – as quais, até agora apresentaram como soluções respostas pontuais - em geral - “estéticas”. |
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CONCLUSÕES:
Destacamos que somente podemos imaginar um processo de requalificação material e imaterial do centro de Fortaleza a partir de uma visão mais ampla, principalmente porque, neste presente estudo, o centro foi revelado como uma espécie de “espelho da cidade”, o qual reflete as distâncias entre as classes sociais de Fortaleza. Essa perspectiva termina por nos fazer pensar que, se centrarmos toda a discussão somente no potencial econômico ali existente, deveremos identificar quem serão os incluídos e os excluídos de todo o processo. Dessa forma, propostas relacionadas à percepção do centro como marco cultural da cidade e como pólo irradiador de renda para as classes menos abastadas, talvez propiciem a tomada de uma perspectiva de cuidado permanente, tanto do ponto de vista social como econômico do centro. Nesse esteio, como primeiros passos, faz-se necessário um estudo que leve em conta a dinâmica atual dos seus espaços, seus arranjos sociais cotidianos e sua cultura. Torna-se importante destacar que esse não pode ter uma perspectiva centrada somente na técnica urbanista, ou sob uma idéia “revivacionista”, já que vivemos um contexto histórico extremamente mutante. Assim, essa noção mais aberta de uma requalificação do centro se daria articulada com a sociedade como um todo, principalmente através da abertura e da aproximação mais intensa possível entre a área central e a periferia da cidade. |
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Instituição de fomento: Fundação Cearense de Apoio à Pesquisa - FUNCAP | ||
Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: requalificação; modernidade; identidade. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |