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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 5. Educação de Adultos
TRABALHADORES E ESCOLARIZAÇÃO: UM ESTUDO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
Vania Laneuville Teixeira 1, 2 (laneuville@urbi.com.br)
(1. Universidade Federal Fluminense; 2. Fundação Municipal de Educação de Niterói)
INTRODUÇÃO:
Os alunos/as e professores/as observados e que motivaram a investigação que ora sistematizo, pertencem a uma turma denominada, na proposta pedagógica em que se inserem, de Turma de Reorientação da Aprendizagem. Esta pertence à Escola Municipal Francisco Portugal Neves, localizada na Região Oceânica, Município de Niterói, Rio de Janeiro. Ao professor/a-reorientador/a da aprendizagem cabe, conforme documento institucional, explicitar conteúdos e conceitos que não tenham sido entendidos por estes alunos e alunas, dando prioridade absoluta às áreas de Língua Portuguesa e Matemática. Existe o entendimento de que esta turma poderá, com suas vivências, trazer uma “revisão dos processos pedagógicos utilizados pela Unidade Escolar”. Neste sentido, este trabalho apresenta algumas reflexões referentes à escolarização e das expectativas que movem adultos e jovens a freqüentarem o ensino de jovens e adultos noturno.
METODOLOGIA:
As análises suscitadas têm como referencial teórico os estudos realizados por Pierre Bourdieu, com contribuições, igualmente valiosas, de outros autores. Inicialmente, este estudo partirá de um breve esboço sobre as principais noções elaboradas por Bourdieu, no intuito de melhor compreender os caminhos e descaminhos percorridos pelos diferentes atores do processo ora pesquisado. A seguir, procurarei fazer um melhor detalhamento sobre as experiências vividas junto a esses jovens e adultos, relacionando-as às noções anteriormente comentadas. Como conclusão, não pretendo esgotar a reflexão acerca desta proposta, nem tampouco abranger toda a discussão teórica que a mesma suscita, mas sim, apontar algumas pistas que contribuam para que esses jovens e adultos participem desse mundo letrado e tenham a possibilidade de realmente participar do mundo social que os rodeia.
RESULTADOS:
Será que uma nova maneira de encarar as funções da escola, procurando novas estratégias, que não sejam a de “deixar passar” pela escola os jovens e adultos das classes desfavorecidas social, cultural e economicamente, sem paternalismos, não poderia evitar o que Bourdieu intitula de sanções negativas da Escola, que acabam por levá-los a renunciar às aspirações escolares e sociais que a própria Escola lhes havia inspirado, e, em suma, forçados a diminuir suas pretensões, levando adiante, sem convicção, uma escolaridade que sabem não ter futuro. Outro aspecto a ser destacado nesta conclusão se refere à formação dos professores/as que, ao relacionarmos às noções desenvolvidas por Bourdieu, suscitam algumas reflexões. A maior parte dos professores desta escola vem, conforme questionário feito, com algumas exceções, de primeiras gerações de grupos familiares que tiveram uma escolarização de longa duração. O habitus primário desses professores em relação à escrita e à leitura parece ter surgido a partir de uma forte mobilização familiar para as competências e disposições relacionadas à leitura e escrita escolar, mas não em relação aos usos não-escolares das mesmas, pois tais usos estariam distanciados do universo cultural de tais famílias. Pode estar neste fato a razão pela qual a escola não consiga se desvencilhar de amarras didáticas que vem reproduzindo práticas pedagógicas superficiais.
CONCLUSÕES:
A maior parte desses jovens e adultos vem a comprovar que passados os momentos iniciais da aquisição das habilidades básicas da leitura, através das práticas de alfabetização elementar, a escola deixa de realizar todo um trabalho de formação de leitores. Entender o processo de escolarização de jovens e adultos, como uma estrada para a liberdade e democracia requer não só pensar em “recuperar” as partes de um conjunto, mas, pensar o sistema em seu todo, com toda a disposição política que esta mudança requer. Pesquisar mais atentamente os alunos e a prática pedagógica das Turmas de Reorientação da Aprendizagem poderá motivar professores, dirigentes e esferas de comando político a reorientar, não só a aprendizagem dos alunos, como a forma desta aprendizagem e o sistema de relações em que ela se insere. Caso não seja assim, teremos sempre alguém a reorientar, sem sabermos bem para onde ele caminhará. Modificar a problemática do curso noturno, com alterações administrativas, didáticas, de conteúdo, de carga horária, não basta. É preciso manter vivo o questionamento entre as relações das condições dos estudantes-trabalhadores e a escola, conscientizando todos os atores no campo educacional das contradições que a escola alimenta e reproduz. É necessário que educadores e educadoras se tornem grandes leitores, no sentido amplo desta noção, para serem capazes de entender e desvelar os mecanismos de dominação que a própria escola vem perpetuando.
Palavras-chave:  Educação de Jovens e Adultos; Sociologia da Educação; Educação de trabalhadores.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005