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G. Ciências Humanas - 5. História - 9. História Social | ||
TRAJETÓRIAS DE LIDERANÇAS E CAMINHOS DO SINDICALISMO RURAL NO ALTO ACRE - AMAZÔNIA (1975-2005) | ||
Paulo Maia de Andrade 1 (chicobento_ac@yahoo.com.br), Elicleudes Souza dos Santos 1, Joelma Lima de Souza 1, Keilânia Cristina Silva dos Anjos 1, Eliane Ferreira de Moraes 1, Verônica Moura da Costa 2, Michele Ferreira Sandrin 2, Rayana Lima Siqueira 2, Benedita Maria Gomes Esteves 1 e Elder Andrade de Paula 3 | ||
(1. Departamento de História, Universidade Federal do Acre - UFAC; 2. Centro de Documentação e Informação Histórica, Universidade Federal do Acre - UFAC; 3. Departamento de Filosofia e Ciências Sociais, Universidade Federal do Acre - UFAC) | ||
INTRODUÇÃO:
Este trabalho é o resultado de um projeto de pesquisa desenvolvido nos últimos três anos, na micro-região do Alto Acre, Amazônia brasileira, área limítrofe à Bolívia e ao Peru, focalizando os municípios acreanos de Assis Brasil, Brasiléia, Epitaciolândia e Xapuri. O recorte temporal 1975-2005, marca o período que vai da fundação do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Brasiléia, até os dias atuais, possibilitando uma ampla análise em torno dos caminhos trilhados pelos movimentos de homens e mulheres da floresta em suas lutas pela permanência nos seringais, articulando sindicatos, associações, cooperativas, num enfrentamento contra a devastação imposta pela introdução dos grandes projetos agro-pecuários na região. Nesses movimentos surgiram lideranças carismáticas e legitimadas por suas lutas e vitórias, muitas das quais foram assassinadas a mando dos grandes latifundiários ou silenciadas pelas artimanhas daqueles que controlam o poder no Acre. Dentre essas lideranças destacam-se Wilson Pinheiro, Chico Mendes e Osmarino Amâncio, cujas trajetórias que se confundem com as lutas em defesa da Amazônia, consolidando-se em torno da constituição das Reservas Extrativistas, encerram o objetivo central das reflexões aqui propostas. |
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METODOLOGIA:
Dentre os referenciais metodológicos adotados na primeira etapa da pesquisa de campo, foi possível realizar todo um levantamento dos acervos documentais, especialmente, mantidos pelos sindicatos de trabalhadores rurais de Brasiléia e Xapuri (atas de reuniões, cartas, bilhetes, fotografias, croquis, recortes de jornais, boletins informativos, panfletos, entre outros). Numa segunda etapa, tendo sido mapeados e catalogados todos os documentos, seguindo as pistas e caminhos das próprias movimentações das mulheres e homens envolvidos nas lutas e nas práticas organizativas de seus movimentos, identificou-se um leque de pessoas à serem entrevistadas. Nessa fase, a opção pela coleta de histórias de vida, ao invés das tradicionais entrevistas, fez-se necessária e oportuna em razão de que propiciaram pensar as trajetórias das lideranças e dos próprios movimentos não pela ótica daquilo que foi constituído pela imprensa ou pelas inúmeras representações discursivas que partiam de sujeitos e instituições externas, mas pela ótica daqueles que o vivenciaram. Após essas fases, a equipe envolvida na pesquisa desenvolveu a análise dos documentos, levando em consideração não a evolução cronológica dos fatos, mas os significados das experiências vividas, bem como das vitórias e derrotas dos movimentos de trabalhadores rurais do alto Acre. |
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RESULTADOS:
Na década de 1970, o governo brasileiro sob a égide do militarismo imposto pelo golpe de 64, passou a desenvolver uma política de "desenvolvimento" para a Amazônia, alicerçado na lógica da expansão da fronteira agrícola e no discurso de integração nacional. O lema principal do governo, "terra sem homens para homens sem terra", propiciou um processo de tentativa de desarticulação das práticas e dos modos de vida de centenas de famílias de trabalhadores agro-extrativistas e de populações indígenas, substituindo-as pela implantação de um modelo de economia "moderna" e "rentavel", embasado nos grandes projetos agro-pecuários. Tal proposta culminou em um conjunto de assassinatos e expropriações de famílias de mulheres e homens, muitas das quais com mais de cinqënta anos de vida nos seringais e florestas da região. Procurando manter seus modos de vida e suas tradicionais moradias, os trabalhadores rurais organizaram-se em sindicatos e passaram a promover uma série de estratégias para impedir a derrubada da floresta para a constituição de campos de pastagens. Essas lutas foram, por eles denominadas de "empates" e culmiram com a criação do Conselho Nacional dos Seringueiros e com a criação de uma alternativa de reforma agrária para a região: as reservas extrativistas que, inspiradas nas reservas indígenas, representaram uma forma eficaz de liberdade contra os antigos e os novos patrões e latifundiários. Os líderes desses movimentos ganharam uma enorme reputação regional, nacional e internacional, como é o caso de Wilson Pinheiro, Chico Mendes e Osmarino Amâncio. |
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CONCLUSÕES:
Num de diálogo com a vasta documentação (escritas, orais, visuais) produzida pelos movimentos de trabalhadores rurais do alto Acre, nos últimos trinta anos, tendo como marco de origem a criação do mais importante e atuante Sindicato de Trabalhadores Rurais, o de Brasiléia, escola das lideranças mais expressivas como Chico Mendes, por exemplo, que foi seu primeiro secretário, foi possível reconstruir contextos históricos de enfrentamentos pela questão da terra na Amazônia Sul-Ocidental e de definição de alternativas de desenvolvimento, pensadas pelos próprios trabalhadores rurais, que foram incorporadas pelo discurso dos grupos que, atualmente, governam o Acre e, em certo sentido, o Brasil. Nos processos de lutas pela permanência na floresta, os trabalhadores rurais produziram e se espelharam em suas lideranças que assumiram papéis políticos marcados por múltiplas tensões, conflitos e jogos de interêsses político-partidários, contradições com as perspectivas de desenvolvimento e as tramas dos grandes fazendeiros e, posteriormente, madeireiros que passaram a atuar na região. Com suas intervenções e formas de fazer política as lideranças locais ultrapassaram a dimensão local e projetaram-se para o mundo, ampliando os significados das lutas de seringueiros amazônicos. |
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Instituição de fomento: CNPQ - UFAC - Fundação Ford | ||
Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: Trajetórias; Trabalhadores Rurais; Movimentos. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |