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D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 5. Saúde Coletiva
CONVIVÊNCIA DOS USUÁRIOS DO CAPS COM FAMILIARES QUE FAZEM USO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS.
Regina Stella Façanha Elias-Cymrot 1 (reginaelias@uol.com.br), Eugenio Moura Campos 2, Juliana e Silva de Oliveira 2, Michele Rose Oliveira Nóbrega 2, Marta Regina de Macedo 2 e Terciana Lima Nogueira 2
(1. Universidade Estadual do Ceará; 2. Universidade Federal do ceará; 3. Prefeitura Municipal de Fortaleza)
INTRODUÇÃO:
JUSTIFICATIVA

A necessidade da pesquisa surgiu a partir de dados da prática clínica dos autores, através de relatos espontâneos por parte dos participantes de grupos terapêuticos chamando atenção para o sofrimento vivido no cotidiano das relações familiares. A saúde mental não pode ser pensada fora do contexto das relações familiares, nem se pode pensar um projeto terapêutico para portadores de transtorno mental sem levar em conta múltiplos aspectos desencadeantes ou agravantes da doença. Várias pesquisas indicam associações entre desestruturação familiar e alcoolismo. Transtorno mental e desestruturação familiar também estão associados intimamente. No Brasil as políticas de saúde atuais dão prioridade aos Centros de Atenção Psicossocial, (CAPS), como articuladores da rede de atendimento ao Portador de transtorno Mental. Faz-se necessário termos dados a respeito do perfil da população atendida nestes serviços. Desejamos assim contribuir para a construção de políticas públicas de saúde, através de uma coleta mais sistemática de dados. Interessa aqui, colher dados para enriquecer a proposta terapêutica dos CAPS e da rede de serviços em saúde mental, para apreender as dimensões da questão do alcoolismo e de sua penetração na população em geral.

OBJETIVO:

O trabalho visa identificar aspectos da convivência dos participantes de grupos terapêuticos atendidos no Centro de Atenção Psicossocial ( CAPS), com familiares que fazem uso abusivo de bebidas alcoólicas.
METODOLOGIA:
O local de estudo foi o Centro de Atenção Psicossocial, ( CAPS), da Regional III de Fortaleza-CE, que não possui nenhuma especificidade para atendimento de pessoas usuárias de álcool ou drogas. A população atendida neste CAPS é predominantemente adulta.
Foram aplicados 165 questionários entre a população de participantes de grupos terapêuticos, (psicoterapia de grupo e oficinas terapêuticas), com os diagnósticos mais diversos de transtorno mental, que aceitaram participar da pesquisa, durante o mês de maio de 2004. Destes, 164 foram considerados válidos..
O questionário, com perguntas fechadas e abertas, foi montado pelos autores para ser auto-aplicável. Foi feito um pré-teste. Na aplicação, foi dada a opção para que os sujeitos pudessem pedir ajuda, para leitura ou preenchimento. Neste caso, o aplicador sentava individualmente para preencher as respostas junto com o usuário. Essa opção foi mais utilizada por analfabetos e pessoas com necessidades especiais. O convite para participação na pesquisa era feito antes do início dos grupos terapêuticos. Neste período, a rotina dos grupos foi prorrogada por meia-hora, para que os participantes que aceitassem responder a pesquisa, pudessem ter resguardado o direito ao atendimento. Cada tipo de oficina ou grupo terapêutico foi visitado três vezes, dentro do mesmo mês, para dar oportunidade aos faltosos ou novatos de participarem da pesquisa.
RESULTADOS:
65% dos sujeitos da pesquisa foram mulheres. A grande maioria das pessoas, 94% estava na faixa dos 18 a 67 anos de idade. 10% dos participantes se dizem analfabetos, 36% tem primeiro grau incompleto, 12% segundo grau incompleto, 29% tem segundo grau completo, 2% tem superior incompleto e também 2% tem nível superior.
80% dos participantes afirmaram ter um familiar fazendo uso abusivo de bebida alcoólica. Em 32% destes casos, este familiar é um irmão ou irmã, em 21% é pai ou mãe, em 9% é filho ou filha e em 21% é esposo ou esposa. Para 49% dos que têm essa convivência, o convívio é diário; para 21% , este se faz no mínimo uma vez por semana ou nos finais de semana. 66% dos participantes convivem com este familiar nesta situação, há mais de cinco anos. Além da convivência atual, 59% dos participantes referiram ter tido essa situação no passado e ter parado de conviver com este tipo de situação por motivo de falecimento da pessoa, por motivo de separação ou por este familiar ter cessado de beber.
Para 32% dos participantes que descreveram os comportamentos dos familiares quando embriagados, estes comportamentos eram classificados como intensos ou muito intensos. 72% dos sujeitos da pesquisa referiram que os comportamentos, os quais o familiar adota quando está embriagado, interferem na sua vida. 73% de todos os que participaram da pesquisa, afirmaram sentir mal-estar por causa da embriagues do seu familiar.
CONCLUSÕES:
A pesquisa mostra a penetração que o problema do alcoolismo tem dentro da população pesquisada, atingindo 80% das famílias e gerando mal-estar para 73% das pessoas pesquisadas. Esses dados mostram-se mais significativos ainda levando-se em conta que este CAPS não é para drogaditos. Percebe-se no resultado da pesquisa, que o problema ronda os portadores de transtorno mental, em seu círculo familiar comprovando dados inferidos na prática clínica pelos autores de que a questão da convivência familiar com o alcoolismo é fonte de intenso sofrimento para os usuários do CAPS e atinge a maioria significativa deles.
Outras pesquisas sobre o impacto do alcoolismo no seio familiar se fazem necessárias, em especial sobre os efeitos do uso abusivo do álcool para pessoas com outros transtornos mentais diagnosticados. Surge também a intrigante curiosidade de saber qual seria a percentagem de famílias atingidas pelo problema dentro do contexto de Fortaleza e quais seriam os dados da pesquisa, se o mesmo instrumento fosse aplicado em outras populações de usuários do sistema de saúde. Os dados parecem alarmantes e se afinam com a afirmação do ministério da saúde de que o alcoolismo é o mais grave problema de saúde pública do Brasil. Fica com esta pesquisa o desafio de enxergar o problema e de dar prioridade a criação de estratégias para redução dos danos que o uso prejudicial de bebidas alcoólicas vêm trazendo aos próprios usuários, aos seus familiares e à sociedade em geral.
Palavras-chave:  Alcoolismo; Saúde Mental; Família.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005