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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 1. Lingüística Aplicada
EQUUS: A CONSTRUÇÃO DO PERSONAGEM ALAN STRANG NO TEXTO CINEMATOGRÁFICO
Lucyana do Amaral Brilhante 1 (lucyanabrilhante@hotmail.com)
(1. Mestrado Acadêmico em Linguística Aplicada, Universidade Estadual do Ceará- UECE)
INTRODUÇÃO:
Peter Levin Shaffer é um dramaturgo inglês conhecido pela qualidade de suas peças e a variedade de assuntos discutidos em seus trabalhos. Entre os de maior destaque podemos citar: The Royal Hunt of the Sun (1964), Equus (1973) e Amadeus (1979).
A peça Equus tem por base em uma história real: a história de um jovem que cega seis cavalos. A peça lida com diferentes assuntos, como: religião, adoração, convencionalismo, insanidade e sexualidade. Em 1977, Equus foi adaptada para as telas de cinema pelo cineasta Sidney Lumet, com roteiro do próprio Shaffer
Quando uma obra literária é adaptada para as telas, segundo Jackobson (1995:65), diz –se que foi traduzida. Trata-se da tradução intersemiótica, que consiste na “interpretação de signos verbais por meio de sistemas de signos não-verbais”(1995). Na tradução da peça para o filme, entretanto, a obra sofre modificações, uma vez que as traduções formam novos objetos que se desvinculam do original.
Neste trabalho, tenciona-se analisar as diferenças entre a peça e o filme Equus. Contudo, concentrar-se-á especificamente nas diferenças que afetam a construção de um único personagem, Alan Strang. Através do trabalho, pretende-se solucionar algumas questões, como por exemplo: até que ponto a transmutação da obra literária em filme afetaria a construção desse personagem e quais seriam essas diferenças? Essa pesquisa contribui nos estudos de tradução intersemiótica e em reflexões sobre a construção do personagem em Equus.
METODOLOGIA:
Inicialmente, coletou-se material sobre tradução intersemiótica, bem como foram lidos alguns textos, no intuito de oferecer suporte para a pesquisa. Foram levados em consideração alguns princípios de tradução como re-escritura de Lefevere, alguns pontos metodológicos de Diniz, conceitos de tradução intersemiótica de Plaza e textos de Brito no intuito de fornecer fundamentação teórica para o trabalho em relação à tradução.
Posteriormente, coletou-se material de teoria da literatura, como também das teorias relacionadas ao estudo dos personagens, como por exemplo obras de Massaud Moisés e Victor Manuel.
Em seguida, foi feita uma leitura apurada da peça, bem como assistiu-se a sua tradução fílmica. Observou-se as características de Alan Strang na peça e no filme, analisando-se aspectos próprios da tradução.
Dessa forma, baseado nas teorias de tradução e nas teorias de personagens, a construção do personagem foi analisada, resultando em um artigo que apresentou o resultados da análise.
RESULTADOS:
Através da análise do personagem concluiu-se que o Alan de um sistema (peça) difere do outro do filme em alguns aspectos, mas também se percebe que algumas das características do personagem foram mantidas.
Uma das características do personagem do filme é que ele é menos hermético. Em vários momentos de Equus o espectador pode ver o que Alan vê, ou seja, a câmera funciona como os olhos de Alan. Acredita-se que este é um recurso que aproxima o espectador do personagem.
Outro aspecto do personagem que é diferente da abordagem na peça está em seu envolvimento com Jill (a garota que o leva para trabalhar no estábulo). Na peça, a primeira vista não há qualquer menção do envolvimento entre os dois.
Também é mais evidente no filme a ligação que Alan faz entre os cavalos e Deus. Na peça, apenas se menciona que Alan substituiu a imagem de Cristo no calvário por uma foto, no filme, além do comentário, podemos observar a cena na qual Dysart posiciona uma foto ao lado da outra. Portanto, compreendemos o que representa para o personagem a imagem dos olhos do cavalo.
Pode-se citar como exemplo da manutenção de característica o fato do personagem continuar ambíguo. Isto se deve ao uso do recurso de se revelar e de se esconder o personagem que continua perdido entre dois mundos diferentes e antagônicos: de um lado seu mundo particular e fantástico no qual cavalos são deuses e caubóis são admiráveis, de outro o mundo real habitado por gente que ele despreza e não compreende.
CONCLUSÕES:
Objetivou-se, neste trabalho, analisar a tradução da peça Equus para o cinema, atendo-se à construção do personagem Alan Strang. O estudo, feito a partir das teorias de tradução e das teorias dos personagens, demonstrou que, na adaptação do personagem para as telas, algumas características foram mantidas e outras sofreram modificações.
Percebeu-se que, tanto o personagem da peça, como o do filme, é ambíguos, atormentados, multifacetados e redondos, pois só podemos ter uma percepção geral de sua personalidade e seus conflitos após termos visto toda a obra. Constatou-se, entretanto, que a tradução cinematográfica manifestou essas equivalências através de outros elementos. O filme introduziu algumas novas atitudes do personagem para enfatizar suas angústias e expôs a ambigüidade e a confusão do personagem através de outras formas.
Conclui-se que, em sistemas semióticos diferentes, o personagem Alan Strang é caracterizado de maneira semelhante. Contudo, para enfatizar as mesmas características, os diferentes meios (filme e peça) fazem uso de recursos diversos. Conclui-se, outrossim, que o personagem do filme, por se tratar de uma tradução do personagem da peça, não pode ser apreciado pelo critério da fidelidade, uma vez que as diferenças são inevitáveis.
Palavras-chave:  tradução intersemiótica; personagem; equivalentes.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005