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C. Ciências Biológicas - 2. Biologia - 1. Biologia da Conservação
CARACTERIZAÇÃO DA ATIVIDADE DE CAÇA DESENVOLVIDA POR COMUNIDADES RURAIS NA RESERVA EXTRATIVISTA (RESEX) DO TAPAJÓS-ARAPIUNS
Paulo Guilherme Pinheiro dos Santos 1, 3 (pauloguilhermez@yahoo.com.br), Ana Cristina Mendes de Oliveira 2, 3, Ana Carolina Pinto Guimarães 1, Joice do Socorro Farias Da Silva 1, Shirley Soares Prata 1, Stela Angélica Brito 1, Thiago Lobato da Rocha 1, 3 e Iori Leonel Arnold Hussak van Velthem Linke 1
(1. Depto. de Biologia, Universidade Federal do Pará - UFPA; 2. Profa. Dra., Depto. de Biologia, Universidade Federal do Pará - UFPA; 3. Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia - IPAM)
INTRODUÇÃO:
O número de trabalhos de Biologia da Conservação realizados na Amazônia brasileira são proporcionalmente inversos ao seu tamanho, biodiversidade e complexidade. Tanto o histórico de ocupação da região quanto o histórico de uso da terra (uso agropecuário, uso madeireiro, extração de minério, uso tradicional...) evidenciam que a preocupação da conservação dos recursos naturais sempre, ou quase sempre, foi deixada de lado pelas autoridades competentes. Além destas, a exploração da fauna silvestre (caça) é um outro elemento chave para as comunidades amazônicas, pois envolve aspectos nutricionais, econômicos e culturais. A caça se configura como uma importante fonte de proteína e gordura animal, apesar da soberania da pesca; a caça pode gerar renda, seja através de produtos comestíveis (p.ex. carne, ovos, etc) ou peles, couro e penas; a caça funciona como uma forma de transmissão de conhecimentos de “pai-para-filho”, além de servir de recreação para alguns, e proporcionando um status diferenciado dentro da comunidade para aquele que é um bom caçador. Dentro desse contexto, esse estudo montou o perfil inicial da atividade de caça desenvolvida nas comunidades rurais da RESEX do Tapajós-Arapiuns, sendo que para isso buscou: a) avaliar quantitativa e qualitativamente a atividade na RESEX; b) avaliar a importância da atividade para as comunidades; e c) levantar dados que auxiliem no monitoramento da atividade de caça e na elaboração de estratégias de manejo para a caça na RESEX.
METODOLOGIA:
A Reserva Extrativista (RESEX) do Tapajós-Arapiuns localiza-se entre a margem esquerda do Rio Tapajós e a margem direita do Rio Arapiuns, nos municípios de Santarém e Aveiro, do estado do Pará (55o e 56o20, Oeste e 2o11, Sul e 3o39, Sul). A Reserva foi criada em 06 de Novembro de 1998 por decreto assinado pelo então Presidente da República, possuindo uma área de aproximadamente 650.000 ha, dos quais acima de 80% são de floresta primária. A Reserva apresenta 64 comunidades locais (mais de 2.500 famílias), somando-se um total de aproximadamente 14.000 habitantes, resultando em uma densidade demográfica de 0,215 habitantes/Km2. Neste trabalho utilizou-se da aplicação de questionário por Unidades Domésticas (UDs) para obter as informações iniciais da pesquisa, os quais foram aplicados em duas viagens realizadas nos meses de Janeiro e Fevereiro de 2004. Os questionários proporcionaram o levantamento de dados para a caracterização geral da atividade de caça nas comunidades da RESEX de forma rápida e consistente. Os questionários não foram aplicados com 100% das famílias em função da dificuldade em encontrar os comunitários, principalmente nos dias de semana, quando os mesmos se encontram nas “colônias” trabalhando em seus roçados. Em todas as nove comunidades foi possível a realização dos questionários com 55% das unidades domésticas. Para se ter uma noção da situação da caça localmente as comunidades do Tapajós e Arapiuns foram comparadas.
RESULTADOS:
Foram amostradas cinco comunidades no Rio Arapiuns (167 questionários desenvolvidos, representando 1046 pessoas amostradas, com uma média de 6 pessoas por Unidade Doméstica, sendo identificados 175 caçadores ao todo) e 4 no Rio Tapajós (124 questionários desenvolvidos, representando 704 pessoas amostradas, com uma média de 5,7 pessoas pó Unidade Doméstica, sendo identificados 66 caçadores ao todo). Em todas as comunidades da RESEX 100% dos entrevistados consomem carne de caça, mas nem todos caçam. Os que não caçam, compram ou ganham carne do vizinho. A caça primariamente é para subsistência, mas pode ser trocada e/ou comercializada. Os principais animais caçados são tatu (30%), cutia (20%), paca (18%), veado (13%) e caititu (7,5%). Os animais preferidos são veado (34%), paca (28%), tatu (18,5%) e caititu (9,5%). As formas de caça detectadas foram através de espera, armadilha, cães, varrida e caminhada. Comparada com a pesca, a caça é menos freqüente. A refeição com carne de caça é considerada farta, nas comunidades do Tapajós e Arapiuns, tendo uma importância maior no Arapiuns.
CONCLUSÕES:
Os trabalhos sobre a atividade de caça na Amazônia brasileira são ainda muito tímidos e, quando existentes, se restringem, na sua grande maioria, à sua caracterização. Porém, esse estudo apresenta um diferencial por fazer parte de umas das vertentes de um plano maior de manejo (Plano de Manejo de Uso Múltiplo) da Reserva Extrativista do Tapajós-Arapiuns. A partir desta primeira fase do projeto de manejo da caça na RESEX Tapajós-Arapiuns, foi possível caracterizar esta atividade sobre os seguintes aspectos: a) a caça de subsistência e para comercialização local são de extrema importância para as comunidades, principalmente para as do Arapiuns, onde o estoque pesqueiro é mais pobre; b) os principais animais caçados são: o tatu, a cutia e a paca e os animais de maior porte já são mais difíceis de serem encontrados; c) a freqüência de pesca é maior do que a freqüência de caça, mas a caça é uma atividade de subsistência complementar de extrema importância para as comunidades; d) existe a percepção dos comunitários em relação à escassez dos animais de caça, mas ao mesmo tempo, também existe o interesse por parte destes em melhorar esta situação, através de um plano de manejo de caça. Este trabalho de pesquisa serviu de subsídio para a escolha de quatro comunidades da RESEX para a realização do monitoramento de caça e conseqüente elaboração de estratégias de manejo.
Instituição de fomento: Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia
Palavras-chave:  caça; fauna silvestre; conservação; comunidades rurais; manejo; sustentabilidade; Amazônia.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005