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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 6. Educação Especial | ||
O BRINCAR COMO POSSIBILIDADE DE SINGULARIZAÇÃO PARA A CRIANÇA EM SITUACÃO INSTITUCIONAL | ||
Maria Lidiane de Araújo Mota 1 (mlidianem@ig.com.br) e Maria de Fátima Vasconcelos da Costa 1 | ||
(1. Faculdade de Educação - FACED / UFC) | ||
INTRODUÇÃO:
Considerando as instituições governamentais e não-governamentais, destinadas a abrigar crianças e/ou adolescentes, vigentes em nossa sociedade, é fundamental ponderar acerca dos efeitos conseqüentes desse tipo de estruturação e o seu modo de funcionamento, tendo em vista que nestes ambientes é focado o conglomerado, a totalidade de sujeitos e não suas individualidade e peculiaridades. Aliada a essa massificação dos sujeitos há, no caso específico das crianças, um outro agravante: a ausência de objetos pessoais. Todo e qualquer objeto que lhe circunde não é de uso único e individual, tais como as roupas, iguais e pertencente a todos, a alimentação padronizada, os brinquedos coletivizados, etc. Deste modo, a criança em situação institucional, vê-se impelida a fantasiar, tendo, às vezes, nesta atividade, uma de suas únicas possibilidades de diferenciação do grupo em que se encontra inserida. Portanto, sua construção imaginativa, no ato do brincar, permite-lhe um espaço de liberdade, criatividade, sonho, do prazer, do uso da imaginação e da possibilidade da criança investir afetivamente em determinado objeto. Tudo isso favorece o surgimento da individuação e a descoberta do eu, pois “(...) é no brincar e talvez apenas no brincar que a criança ou o adulto fruem sua liberdade de criação e podem utilizar sua personalidade integral” (Winnicott, apud Altoé, 1990, p 74). Portanto, o presente trabalho é resultado de uma pesquisa monográfica acerca do brincar da criança em situação institucional, comumente denominada por “criança institucionalizada”. Objetivo fundamentalmente, compreender o modo de estruturação, as implicações, bem como a importância do brincar, em especial do “faz-de-conta”, da criança acolhida em um abrigo da rede estatal. |
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METODOLOGIA:
Considerando esses elementos, entende-se como de fundamental importância o estudo do brincar da criança em situação institucional, compreendendo essa prática como um espaço disponibilizado à criança para a compreensão e (re)elaboração das vicissitudes que lhes são propostas pelas pessoas e pela realidade com a qual interagem, no caso, do presente estudo, com os profissionais do abrigo e as circunstâncias advindas do estar institucionalizado.Para tanto, foi selecionada a metodologia de trabalho que mais se adequasse à temática, sendo a pesquisa etnográfica o procedimento compreendido como mais apropriada. A análise das representações sociais de infância vinculadas ao lugar de investigação; as dimensões do processo de institucionalização, a importância dada ao brincar no cotidiano institucional, foram os aspectos investigados que permitiram responder a questão de pesquisa. Os dados foram obtidos a partir de registro videográfico de interações lúdicas construídas entre criança-criança e criança-adulto (pesquisadora). Em seguida, foram analisados segundo o enfoque psicodramático do desenvolvimento humano (matriz de identidade). |
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RESULTADOS:
A partir dos dados coletados foram revelados cinco temas principais presentes em seus discursos, sendo eles: Eu-comigo; Solicitação para interação eu-outro; Disputa pela atenção da pesquisadora; Comunicação; Família. O primeiro (eu-comigo) e segundo tema (solicitação para interação eu-outro) ocorreram de forma indiscriminada desde o primeiro encontro da pesquisa até sua finalização. A disputa pela atenção da pesquisadora, terceiro tema, foi o que mais surpreendeu não em decorrência de sua emergência, pois no projeto-piloto e mesmo antes da efetivação desse estudo, já supunha que as crianças em situação institucional deveriam travar uma verdadeira disputa por quem lhes significasse ainda que por um curto período de tempo. Contudo, a emergência dessa disputa pela atenção da pesquisadora em nossos encontros lúdicos foi excessiva, por vezes chegando a impossibilitar a brincadeira. O tema comunicação foi o que teve maior repercussão entre as crianças. Comunicação entendida aqui como processo pelo qual idéias e sentimentos se transmitem de um indivíduo ao outro, tornando possível a interação social. Essa transmissão de idéias e sentimentos pode ser estabelecida por linguagem verbal, corporal ou a junção de ambas. As crianças trouxeram as suas representações de maternidade e paternidade plural, isto é, não há uma ausência de representação familiar, mas um modo característico e singular de representá-las. |
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CONCLUSÕES:
A partir dos resultados acima mencionados é possível estabelecer uma interconexão entre os cinco temas centrais, estabelecidos a partir dos encontros lúdicos com as crianças. Donde o eu-comigo caracteriza-se como um prenúncio à solicitação para a interação eu-outro, seja ela do tipo criança-criança ou criança-aulto. O estabelecimento de uma vinculação positiva na interação adulto-criança, onde me disponibilizava de modo ímpar para o contanto, para a brincadeira, geram em conseqüência uma disputa entre as crianças pela atenção individualizada da pesquisadora. Essa interação genuína entre pesquisadora e criança propiciou que questões internalizadas fossem expressas, comunicadas. Evidente que, da comunicação de suas vivencias emergiria o tema família, não enquanto ausência de modelos, mas como um outro modo de representação familiar. Assim, credita-se importância fundamental para a estimulação e aprimoramento do brincar da criança em situação institucional, posto que tal atividade lúdica favorece a construção de vínculos positivos entre equipe institucional e crianças abrigadas. Vinculação positiva essa que permitirá a percepção e expressão da singularização de cada criança, em detrimento do coletivo. |
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Instituição de fomento: FACED - LUDICE / NUCEPEC - UFC | ||
Palavras-chave: Institucionalização; Faz-de-conta; Criança. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |