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F. Ciências Sociais Aplicadas - 2. Economia - 8. Economias Agrária e dos Recursos Naturais | ||
A SOJA NO BRASIL E ARGENTINA | ||
Biancca Scarpeline de Castro 1 (bianccastro@ig.com.br) | ||
(1. Centro de Pesquisa em Desenvolvimento da Agricultura e Sociedade - UFRRJ) | ||
INTRODUÇÃO:
Atualmente diversos trabalhos têm sido realizados com o objetivo de comparar resultados econômicos entre as lavouras de soja (transgênica ou convencional) do Brasil e Argentina. Estes dois países estão entre os principais produtores e exportadores mundiais deste produto, e sendo vizinhos competem diretamente pelos mesmos mercados. Contudo, o Brasil e a Argentina apresentam diversas diferenças culturais, sociais e históricas a respeito da introdução da soja e posterior legalização deste produto transgênico. Assim, o presente artigo tem por objetivo apontar tais diferenças entre os dois países através de um resgate histórico da introdução da cultura de soja, do avanço desta lavoura comercial até a introdução e evolução da entrada do produto transgênico. Pretende-se observar as características peculiares de cada região para posteriormente auxiliar no desenvolvimento e compreensão das analises exclusivamente econômicas. |
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METODOLOGIA:
Para a realização do trabalho foram, primeiramente, pesquisadas bibliografias a respeito do tema, buscando autores que haviam feito estudos sobre a história da introdução e consolidação da cultura da soja nos dois países. Foram consultados sites da internet que versavam sobre o tema, onde foram pesquisadas legislações, indicadores agropecuários e indícios históricos. O trabalho também conta com as contribuições do vídeo ”Hambre de soja”, produzido pela Actionaid, dirigido por Marcelo Viñas, sobre a situação da soja na Argentina, além da pesquisa de campo realizada na região de Não-Me-Toque (no Rio Grande do Sul) onde diversos agricultores foram questionados a respeito da sua história e ligação com a cultura da soja (se seu cultivo é uma tradição hereditária, se consomem a soja, se ao migrarem continuam plantando a oleaginosa, entre outras questões consideradas relevantes). |
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RESULTADOS:
Foi possível observar que a cultura da soja entrou nos dois paises a partir do final do século XIX, contudo, esta cultura somente se transformou em um produto comercial a partir da mudança do modelo alimentar, impulsionada pelos Estados Unidos, onde cereais, frutas e legumes abriam espaço para carnes, leite, ovos e derivados. Esta mudança foi acompanhada pela transformação da base técnica produtiva dos dois países, caracterizada como Revolução Verde, que finalmente consolidou a soja como uma cultura comercial no Brasil e Argentina. Assim, foi entre as décadas de 1960 e 1970, que começou a ocorrer nos dois paises uma acentuada deterioração da sua produção de culturas alimentares para o mercado interno e uma nítida expansão de certas culturas de exportação, processo, sem dúvida, liderado pela soja. Contudo, a expansão da soja na Argentina já se deu a partir de plantações em grandes fazendas que anteriormente se dedicavam à pecuária. No Brasil, esta expansão se deu a partir das pequenas e médias propriedades do Rio Grande do Sul, para aos poucos, através de migrantes deste estado se expandir para o resto do Brasil (principalmente na região sul e centro-oeste). No fim da década de 1990, a Empresa Monsanto, desenvolveu a soja geneticamente modificada resistente ao seu herbicida Roundup. Tal tecnologia foi prontamente legalizada e adotada por agricultores (que procuravam diminuir seus custos de produção) na Argentina. No Brasil, está tecnologia suscitou várias disputas legais, ao mesmo tempo em que sementes clandestinas começaram a ser plantadas no Rio Grande do Sul, onde os agricultores não conseguiram colher os benefícios do plantio direto, nem aumentar sua participação na produção nacional dada a estagnação da área plantada com soja no Estado, estes produtores, procurando ganhar escala não mais pelo aumento horizontal da produção (mais área plantada) e sim pela verticalização da produção (mais produtividade com menos custo), optaram por plantar a soja transgênica. |
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CONCLUSÕES:
É possível observar que diferentes “visões de mundo” promovem diferentes resoluções e arranjos institucionais. Assim, o fato da legislação Argentina estar adequada as resoluções da UPOV de 1978, com sua lei de cultivares protegendo os agricultores nacionais em detrimento dos direitos de propriedade intelectual da empresa multinacional Monsanto; a falta de áreas para a expansão do cultivo comercial da soja que já se tornava o único produto realmente significativo na balança comercial Argentina, aumentando o poder e influencia dos sojicultores naquele país; o período de entrada do produto transgênico (momento em que as disputas mundiais a respeito da aprovação ou reprovação dos alimentos geneticamente modificados não era tão acirrada) e a ajuda alimentar baseada na entrega gratuita de soja à população mais carente do país, fez com que ocorresse uma menor mobilização em torno da proibição da entrada da soja transgênica no país. No Brasil, o ambiente em que se deu a introdução da soja transgênica foi totalmente divergente ao que ocorreu na Argentina. O momento em que a empresa Monsanto solicitou à CTNBIO autorização para a liberalização do cultivo comercial da sua soja transgênica, gerando ações judiciais contrárias que embargaram a decisão daquele órgão que emitiu parecer favorável a este produto, foi um período em que as disputas internacionais a respeito da legitimidade dos alimentos transgênicos já estavam totalmente polarizada em tordo de aprovações e reprovações. Agricultores brasileiros ainda expandiam sua produção (principalmente na região centro-oeste do país) podendo aumentar seus ganhos pelo aumento da área plantada e os consumidores não visualizavam ganhos diretos a respeito desta aprovação, a medida em que neste país não ocorreu nenhuma ajuda alimentar baseada na entrega de soja para a população carente. Ainda, no Brasil a lei de cultivares estava adequada a UPOV de 1991, o que permitia que os agricultores brasileiros pagassem royalties a empresa detentora da tecnologia. Todos estes fatores fizeram com que no Brasil houvesse uma grande discussão e disputa a respeito da aprovação dos alimentos transgênicos no país. Desta forma pode-se observar que não são apenas determinações econômicas (como produtividade e menores custos) que influenciam na absorção de uma determinada tecnologia por alguma sociedade, tendo muitos outros fatores históricos, sociais subjetivos, envolvidos nestas questões. |
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Instituição de fomento: Capes | ||
Palavras-chave: soja convencional e transgênica; Brasil; Argentina. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |