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D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 1. Epidemiologia
TRANSMISSÃO VERTICAL DO VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA E DO Treponema pallidum NO CEARÁ: AVALIAÇÃO DE ASPECTOS RELATIVOS À ATENÇÃO BÁSICA
Adriana Valéria Assunção Ramos 1, 2 (adrassuncao@hotmail.com), Maria do Socorro Cavalcante 3, 4 e Alberto Novaes Ramos Jr. 1
(1. Departamento de Saúde Comunitária, Universidade Federal do Ceará - UFC; 2. Unidade Básica de Saúde da Família César Cals de Oliveira Filho, SMS Fortaleza - UBASF César Cals; 3. Hospital Geral Dr. César Cals, SESA Ceará - HGCC; 4. Célula de Vigilância Epidemiológica, SMS Fortaleza - CEVEPI-Fortaleza)
INTRODUÇÃO:
A redução da transmissão vertical do HIV e o controle da sífilis congênita pode ser alcançada de forma mais efetiva caso haja o diagnóstico precoce da infecção durante o período de pré-natal, o que ressalta a importância das ações na rede de atenção básica. No Brasil, embora essas intervenções estejam disponíveis para toda a população de gestantes infectadas pelo HIV e pelo Treponema pallidum e seus filhos, as dificuldades da rede em prover diagnóstico laboratorial da infecção, a cobertura insuficiente de mulheres testadas no pré-natal, principalmente nas populações mais vulneráveis e a qualidade do pré-natal, ainda aquém do desejável, resultam em uma situação ainda bastante precária em algumas regiões, como na Nordeste. Frente à necessidade de aprofundamento das questões relativas à integração das ações de controle na atenção básica, esse estudo visa ampliar o conhecimento a respeito da morbidade materno-infantil relacionada à infecção pelo HIV e à sífilis nas ações de atenção básica, bem como de aspectos epidemiológicos e operacionais, com vistas ao controle desses agravos em Fortaleza.
METODOLOGIA:
O estudo apresenta delineamento transversal e descritivo e foi desenvolvido no Município de Fortaleza, Ceará. Os dados relativos à infecção pelo HIV e à sífilis no período de 2003 a 2004 foram obtidos a partir das notificações no SINAN. O banco de dados do SINAN foi obtido junto à Célula de Vigilância Epidemiológica do Município de Fortaleza. Foram identificadas as mulheres que tiveram partos nesse período (11/2003 a 11/2004) em uma maternidade de referência do município e foram coletados dados demográficos e da assistência pré-natal nos prontuários. De cada caso investigado em prontuário, procedeu-se à análise da declaração de nascidos vivos e da ficha de notificação/investigação para complementar as informações. A partir de então, constitui-se uma base de dados no programa Epi-Info versão 6.04d. Foram analisadas de forma descritiva as seguintes variáveis: dados de identificação como idade, escolaridade (em anos de estudo), situação conjugal, município de residência; dados do pré-natal, como realização do pré-natal, número de consultas, presença de cartão de pré-natal no prontuário, idade gestacional (IG) na primeira consulta, se é gestação de alto risco, se o diagnóstico de infecção pelo HIV foi feito no pré-natal, se é caso confirmado de AIDS e se faz tratamento com anti-retrovirais, IG de início da profilaxia com anti-retroviral, realização e quantidade de VDRL na gravidez, diagnóstico de sífilis na gravidez e esquema de tratamento (adequado ou inadequado na gestação).
RESULTADOS:
Foram estudadas 31 mulheres com o HIV, com idades entre 16 a 41 anos (mediana de 24 anos). A maioria era procedente de Fortaleza (58,1%), tinha de 4 a 7 anos de estudos (41,9%) e era solteira (74,2%). Quanto à realização de pré-natal, 93,5% o fizeram (19,4%, 6 ou mais consultas). A IG de início do pré-natal variou de 7 a 34 semanas, 35,5% no primeiro trimestre. Dezoito (58,1%) mulheres tinham gestação de alto risco, sendo que em 48,4% o diagnóstico da infecção pelo HIV foi feito durante a gravidez. Das 31 mulheres, 12,9% já eram casos de aids e 6,5% usavam anti-retrovirais para tratamento. Em termos da profilaxia anti-retroviral da TV do HIV, o tempo de início variou de zero a 36 semanas, sendo que 71,0% até o segundo trimestre. Para as 21 mulheres com o T. pallidum, a idade variou de 13 a 39 anos (mediana de 25 anos). A maioria era procedente de Fortaleza (85,7%), tinha de 4 a 7 anos de estudos (42,9%) e era solteira 71,4%. Quanto ao pré-natal, 71,4% o fizeram (9,6%, 6 ou mais consultas). A IG de início do pré-natal foi de difícil avaliação: apenas em 2 (9,6%) essa informação estava disponível. Em relação à realização do VDRL no pré-natal, 38,1% o realizaram. Das que realizaram VDRL, o número de exames no pré-natal foi de 3 ou mais em 12,5%. A positividade do VDRL no pré-natal foi observada em 33,3% das mulheres, mas em 42,9% delas essa informação era ignorada. Em todas as mulheres tratadas o tratamento foi inadequado sendo que em 19,0% o tratamento não foi realizado e em 42,9% a o tratamento era ignorado.
CONCLUSÕES:
Apesar da importância, falhas vêm sendo identificadas em várias etapas das estratégias de controle da transmissão vertical do HIV e do T. pallidum. Paradoxalmente, de uma forma geral, a TV de sífilis congênita vem apresentando um comportamento diferenciado, de manutenção de sua freqüência e, em algumas regiões, de aumento significativo. Nesse estudo, tal fato foi comprovado a partir da análise das mulheres infectadas, inclusive em relação à baixa qualidade dos dados desses prontuários. Frente a essa desigualdade de expressão epidemiológica e de priorização do ponto de vista político destas duas condições, está sendo necessária e urgente uma priorização no enfoque da sífilis na gestante, um agravo que tem diagnóstico e tratamento disponíveis, mas que vem se mostrando como um incômodo desafio para a Saúde Pública, não apenas no Brasil, mas também em várias outras partes do mundo, inclusive em países desenvolvidos. Em relação à infecção pelo HIV, os esforços devem ser mantidos e aprimorados no sentido do alcance de níveis baixos de transmissão, comparáveis aos dos países desenvolvidos. A integração das ações de controle dessas duas condições na atenção básica representa, portanto, um dos caminhos mais viáveis.
Palavras-chave:  Transmissão Vertical de Doença; Vírus da Imunodeficiência Humana; Treponema pallidum.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005