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CONTROLE DA MALÁRIA EM MANAUS: TANQUES DE PISCICULTURA, PROLIFERAÇÃO DE ANOFELINOS E MONITORAMENTO
Wanderli Pedro Tadei 1 (tadei@inpa.gov.br), Rosely S. Cordeiro 1, Gervilane R. Lima  1, Antônio E. M. Oliveira 2, Rosemary C. Pinto 2, Joselita M. M. Santos 1, Iléa B. Rodrigues 1, Miriam S. Rafael 1, Carlos P. Lima 1 e Wagner C. M. Terrazas 2
(1. Laboratório de Malária e Dengue - INPA; 2. Fundação de Vigilância em Saúde - FVS/SUSAM)
INTRODUÇÃO:
O estado do Amazonas apresenta um potencial pesqueiro elevado e a cidade de Manaus é o principal centro de consumo e comercialização. A piscicultura vem se projetando como forma alternativa na produção pesqueira nesta região e trata-se de um parâmetro de maior importância para o Estado do Amazonas. Atualmente, na área periurbana e rural de Manaus, há uma imensa malha de tanques de piscicultura, em plena atividade, que totaliza cerca de 600 unidades. Existem localidades com muitos tanques para exploração comercial, mas existem também propriedades que mantêm apenas um tanque e os peixes produzidos é a fonte alimentar da família. Porém, estudos realizados nestes tanques evidenciaram que os mesmos se tornaram em sítios de reprodução de Anopheles darlingi, principal vetor da malária. Com o intuito de avaliar se esta atividade em piscicultura poderia estar interferindo na incidência de malária em Manaus, e encontrar formas de monitoramento desses tanques, neste trabalho foram realizados inquéritos entomológicos com o objetivo de se conhecer a fauna anofélica. Entender a dinâmica de reprodução dos anofelinos nestes habitats, é de fundamental importância para delinear as formas de monitoramento.
METODOLOGIA:
Foram realizadas coletas de anofelinos, na forma imatura, em tanques de piscicultura situados na periferia de Manaus, utilizando-se a concha padrão do OPAS de pesquisas larvária. Os tanques de piscicultura são classificados de acordo com a sua finalidade. Em tanques, nos quais são abrigados peixes novos - recém nascidos, são denominados tanques de alevinos e os peixes aí permanecem por cerca de dois a quatro meses. Após este período, os peixes atingem tamanhos adequados para serem transportados aos tanques de crescimento e engorda, nos quais permanecem por oito ou dez meses, ou mesmo até um ano e meio, quando atingem a fase de despesca nestes tanques. Para dimensionar a densidade larvária, o tempo de coleta foi cronometrado e foi obtido o Índice de Larvas por Homem/Hora - ILHH. Após as coletas, as larvas foram armazenadas em tubitos, fixadas em álcool 70% e transportadas para os Laboratórios de Entomologia dos Distritos da Secretaria de Estado da Saúde do Amazonas e para o Laboratório de Malária e Dengue do INPA, onde foram realizadas as identificações específicas.
RESULTADOS:
Para analisar a positividade dos tanques de piscicultura, foram realizados inquéritos entomológicos em tanques situados na Zona Leste e Oeste da cidade, nos períodos de janeiro/março e agosto/setembro de 2003. Em tanques de alevinos, as inspeções foram negativas, provavelmente porque os alevinos, enquanto pequenos, conseguem se alimentar das larvas dos mosquitos. As inspeções foram positivas em tanques de crescimento e engorda. No início do ano, do total de 141 inspeções realizadas, 100 % foram positivas para anofelinos. No segundo semestre foram feitas 325 inspeções e 73% foram positivas. O índice de positividade para Anopheles darlingi foi maior no início do ano, representando 75% dos criadouros inspecionados. No período de agosto/setembro o índice caiu para 51% dos tanques estudados. Os resultados mostram que existem diferenças marcantes quanto à positividade dos tanques nas localidades estaudadas, existindo áreas com 100% de positividade para Anopheles darlingi no início do ano. Dados obtidos na Zona Oeste, em dezembro de 2003 e no primeiro semestre de 2004, em tanques tratados com biolarvicida, mostraram que a positividade dos tanques para Anopheles darlingi descresceu de 76% em dezembro de 2003 para 28% em janeiro de 2004 e, entre fevereiro a junho deste mesmo ano permaneceu com um índice de positividade entre 15% e 11%. Provavelmente decorrente do efeito residual do Bacillus sphaericus que foi aplicado em janeiro a março nesses tanques.
CONCLUSÕES:
Os dados deste trabalho mostraram que os tanques de piscicultura situados na periferia da cidade de Manaus representam, além de um empreendimento de grande importância econômica para a região, uma atividade que está envolvida com a transmissão da principal endemia da região - malária. Os tanques se constituem em criadouros permanentes no entorno de Manaus e Anopheles darlingi encontra condições de reprodução durante todo o ano. Como os tanques não sofrem influência do pulso da vazante, o nível das águas é constante e a maioria dos tanques permanece os doze meses do ano como sítio de reprodução dos anofelinos. Para controlar a malária nestas localidades, os piscicultores estão sendo instruídos da necessidade do monitoramento das margens dos tanques, retirando a vegetação, e diminuindo a área produtiva de mosquitos destes tanques. Também, para reduzir a densidade de larvas, os proprietários estão sendo instruídos como provocar choque de cota, que consiste na redução abrupta do nível das águas do tanque, em períodos sucessivos. Além disso, está se demonstrando a necessidade de tratamento periódico com biolarvicida, cujo princípio ativo seja Bacillus sphaericus , uma vez que o mesmo é específico para o monitoramento dos anofelinos. Todas estas atividades contribuem para reduzir a densidade larvária nos tanques e, conseqüentemente, para diminuir a quantidade de anofelinos que conseguem evoluir para o estágio adulto na área.
Instituição de fomento: FAPEAM / PIATAM / CTPETRO / SUSAM
Palavras-chave:  Anopheles; Malária; Piscicultura.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005