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A. Ciências Exatas e da Terra - 3. Física - 2. Ensino de Física
MUSEU OU ARQUEOLOGIA DOS CONCEITOS DE FÍSICA?
Vinícius Santana Pedreira 1 (vinicius@uesb.br), Ildeflávio dos Santos Silva 1, Valmir Henrique de Araújo 1, Rosimayre Dias Carvalho 1 e Naiara Silva dos Santos 1
(1. Depto. de Ciências Exatas, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB.)
INTRODUÇÃO:
Este trabalho é uma análise nos livros didáticos de física do Ensino Médio (DINIZ, 1998), quanto ênfase dada à Cinemática: a não aplicação dos conceitos físicos na resolução dos problemas ilustrativos resolvidos, bem como a que tipo de conhecimento o estudante é conduzido com tal procedimento. O tema implicará numa reflexão sobre o estudante, construtor do processo de apreensão do mundo (GIORDAN, 1996) e implicará na análise das condições onde essa ação se realiza (RODRIGUES, 1995). Os livros apresentam os conceitos fundamentais de movimento, repouso, corpo extenso, ponto material, distância percorrida, deslocamento, posição e referencial; em seguida há um clássico exercício ilustrativo (YAMAMOTO, 1998; PARANÁ, 1999), que é o objeto de nossa análise. Nesse citado exercício objetiva-se calcular o tempo necessário para um trem atravessar uma ponte (ou um túnel). Para a resolução do problema os livros fazem uma operação aritmética somando o comprimento do trem com o da ponte (ou túnel), sem justificar tal procedimento, levando o estudante a uma mera manipulação aritmética sem a compreensão dos conceitos ensinados na resolução dos exercícios (ZANETIC, 1998). Os conceitos definidos e discutidos ficam sem aplicação. Entretanto, propomos a utilização explícita dos conceitos fundamentais para a resolução física natural do problema. Para alcançar os objetivos desenvolvemos uma proposta de uso natural dos conceitos na resolução dos problemas e testamos a proposta junto aos alunos. Nessa etapa da pesquisa não envolvemos a relação de outros professores com o livro didático.

OBJETIVO PRINCIPAL: Propor uma forma de resolução de um problema específico da Cinemática com a aplicação dos conceitos fundamentais que leve o estudante ser agente de seu conhecimento.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Discutir a que nível de conhecimento leva a manipulação numérica na resolução; Mostrar como os conceitos são aplicados na resolução natural dos problemas; Levar o estudante a perceber que ele pode ser agente na construção de seu conhecimento.
METODOLOGIA:
O procedimento de resolução do problema analisado é, basicamente, a escolha de dois pontos arbitrados pelo agente do conhecimento (professor ou aluno). O primeiro ponto deve ser fixo e é denominado REFERENCIAL. O segundo é escolhido no trem (corpo extenso) pelo qual será observado o movimento (como se fora o trem um ponto material). Este ponto deve ser localizado no início do movimento (quando o trem estiver entrando no túnel ( ou ponte) em relação ao referencial e no fim do movimento (quando o trem estiver saindo da ponte (ou do túnel). A utilização deste ponto para a construção da equação do deslocamento do trem será da seguinte forma: a localização no início será denominada So, e no fim S. Far-se-á a diferença entre a posição final e a inicial S - So, denominado deslocamento ΔS. Sabendo-se a velocidade do trem, divide-se o deslocamento pela velocidade encontrando o tempo decorrido na travessia. Com este procedimento cada agente do conhecimento elaborará uma equação a partir dos conceitos explicitados (que será diferente para cada agente, já que o referencial e o ponto no trem serão individualizados). Assim o problema será resolvido com o uso natural dos conceitos ensinados.
RESULTADOS:
No teste os alunos desenvolveram equações e verificaram que apesar de serem diferentes, o resultado era o mesmo. Constatamos, entretanto, que a grande maioria insistiu em ficar com a resolução do livro. Questionados o porquê da escolha responderam ser a resolução do livro muito mais simples, mesmo que não soubessem porquê de somar os comprimentos (procedimento adotado pelo livro).
CONCLUSÕES:
Concluímos que devemos não somente reproduzir os problemas ilustrativos dos livros didáticos, mas questionar com os alunos a que tipo de aprendizagem leva certas abordagens perpetradas em nossa educação científica escolar. Nesse caso analisado, a princípio, tudo se passa como se os autores dos livros privilegiassem a transmissão de conhecimento por manipulação das fórmulas ou substituição dos dados aritméticos naquelas, induzindo à mera operacionalização das equações sem procurar os significados físicos. Com isso se apenas seguimos a orientação dos livros didáticos, sem nenhuma crítica, o modo como temos ensinado não leva à formação de um indivíduo, pessoa, para compreender a natureza, para ser criativo e muito menos para resolver os grandes problemas que se nos apresenta o mundo, mas apenas repetidores de fórmulas ou procedimentos simples de resolver exercícios didáticos sem nenhuma conexão ou referência aos aconteceres da vida, com os conceitos ou nexo de reflexão do significado de sua ação.

Referência Bibliográfica
DINIZ, Renato Eugênio da. Concepções e práticas do professor de ciências. In: NARDI, Roberto (org.) Questões atuais no ensino de ciências. São Paulo : Escritura Editora, 1998.
GIORDAN, André. As Origens do Saber: Das Concepções dos Aprendentes aos Conceitos Científicos, 2a ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
YAMAMOTO, Kazuhito et. al. Os alicerces da física. 1 Mecânica. 12ª . edição reformulada. São Paulo: Editora Saraiva, 1998.
PARANÁ, Djalma Nunes da Silva. Física. Mecânica, volume 1. 7ª edição. São Paulo: Editora Ática, 1999.
RODRIGUES, Antonio Edmilson Martins. Ciência, Cultura e Modernidade: Um ensaio sobre a genealogia do saber moderno. In História da Ciência: o mapa do conhecimento. Coordenadores, Ana Maria Alfonso-Goldfarb, Carlos A. Maia. Rio de Janeiro : Expressão e Cultura; São Paulo: EDUSP, 1995.
ZANETIC, João. Literatura e cultura científica. In: ALMEIDA, Maria José P.M. de (org.). Linguagens, leituras e ensino da ciência. Campinas, SP: Mercado de Letras: Associação de Leitura do Brasil - ALB, 1998.
Palavras-chave:  Transmissão de conhecimento; Operacionalização; Cognição.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005