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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
O COMPASSO LETRADO: UMA CORPORAÇÃO DE TRABALHADORES NEGROS E O DESAFIO DA INSTRUÇÃO EM PERNAMBUCO (1830-1850)
Itacir Marques da Luz 1 (itacirluz@cidadeinternet.com.br) e Ana Maria de Oliveira Galvão 1
(1. CENTRO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - UFPE.)
INTRODUÇÃO:
Este estudo – parte de uma pesquisa mais ampla - buscou investigar a educação das “pessoas de cor” na primeira metade do século XIX, através da analise de uma corporação criada neste período – a Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais de Pernambuco, e seu papel educacional junto aos trabalhadores jovens e adultos que compunham a mão-de-obra operária do Recife, de forma a relacionar tal iniciativa com o tipo de participação dos negros na cultura escrita da época.. A apreciação deste tema nos remete não apenas uma maior reflexão sobre as oportunidades educacionais dos negros na história do Brasil, mais principalmente sobre as expressões e iniciativas destes, em relação ao mundo das letras no início do século XIX, apesar das determinações sociais em contrário.
METODOLOGIA:
Com base nos pressupostos da Nova História Cultural, consultamos o acervo referente a Sociedade dos Artistas e o Liceu de Artes e Ofícios de Pernambuco no período delimitado, constituído por livros de registro de sócios na corporação e nas aulas promovidas por ela, como também ofícios e relatórios expedido à Irmandade de São José do Ribamar e ao governo da Província. Consultamos ainda, os relatórios de instrução pública e a legislação educacional, e neles, alguns aspectos da escola na província de Pernambuco, o que contribuiu para que estabelecermos relações de semelhanças e diferenças entre as escolas pensadas para negros e para brancos. Nos documentos emitidos pelas autoridades locais, como a Presidência da Província, Prefeitura do Recife e Câmara Municipal, e nos jornais de grande e pequena circulação da época, analisamos as obras em andamento, critérios para contratações, atividades mais procuradas e remunerações, de modo que pudéssemos ter uma maior compreensão sobre o cotidiano dos trabalhadores locais livres e escravos da cidade do Recife.
RESULTADOS:
A Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais de Pernambuco surge num contexto de urbanização do Recife da primeira metade do século XIX. Sua fundação caracterizou uma reação diante das dificuldades que encontravam estes trabalhadores em Pernambuco em função da contratação de profissionais estrangeiros, devido à falta de instrução profissional dos operários locais. Dos 155 profissionais e aprendizes registrados no seu livro de matrículas dos sócios praticamente todos eram pernambucanos de diversas idades e moradores dos bairros do Recife, Santo Antonio, São José e Boa Vista. Verificamos ainda que 143 destes sócios eram pretos, mulatos e pardos e apenas 12 dos inscritos eram brancos. Em 1845, as aulas da Sociedade dos Artistas passaram a ser realizadas num dos consistórios da Igreja de São José do Ribamar, fundada por carpinteiros em 1653 no bairro de São José e cuja irmandade religiosa também era neste período uma espécie de reduto dos “artistas do compasso”. As aulas no consistório desta igreja se estenderiam até a segunda metade do século XIX, transferindo-se posteriormente para a Praça das Princesas no bairro de Santo Antonio, após a construção do edifício para a instalação do Liceu de Artes e Ofícios de Pernambuco.
CONCLUSÕES:
Consideramos que a existência da Sociedade dos Artistas significou fundamentalmente uma iniciativa de afirmação dos negros recifenses ante as determinações da ordem escravista do começo do século XIX. A organização por instrução para além das práticas informais e cotidianas com relação à cultura escrita. seria mais um instrumento de inserção social na medida que a cor negra parecia ser ainda mais estigmatizada pela falta do conhecimento letrado, sob o pressuposto da vivência na completa oralidade e do atributo das letras restrito aos brancos mesmo nos diferentes contextos sociais aqui existentes.
Instituição de fomento: CNPq
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Multiculturalismo; Letramento; Irmandade.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005