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G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana | ||
DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA E TRANSFORMAÇÕES DA ATIVIDADE AGRÁRIA: CAMPESINATO E PRODUÇÃO DO ESPAÇO NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DO VALE DO RIO PRETO, RJ | ||
José Grabois 1 (graboisj@yahoo.com.br), Lucia Helena da Silva Cezar 2, 3, Cátia Pereira dos Santos 2, 4, Silvia Salles Neves 2, Daniela da Silva Egger 5, Leonardo da Silva Lima 5 e Camilla Fernandes de Aquino 5 | ||
(1. Prof. Dr. Adjunto e Coordenador do Grupo de Estudos Agroambientais do Depto.de Climatologia e Meteorologia da UERJ; 2. Pesquisador colaborador do Grupo de Estudos Agroambientais do Depto. de Climatologia e Meteorologia da UERJ; 3. Mestra em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ; 4. Pós-Graduanda do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP; 5. Graduando em Geografia pela Faculdade de Formação de Professores da UERJ) | ||
INTRODUÇÃO:
Este trabalho resultou de uma pesquisa mais ampla sobre a agricultura na Serra Fluminense. As experiências decorrentes do seu desenvolvimento, o contato direto com a realidade multifacetada da economia agrária de São José do Vale do Rio Preto e sua originalidade nos levaram a escolher o município como objeto de estudo mais aprofundado. Tal singularidade está calcada na existência, em área de clima tropical de altitude, de atividades agrárias intensivas como a avicultura, horticultura e, de forma pontual, a fruticultura do caqui. A existência do campesinato, cujas origens reportam-se ao povoamento baseado na cafeicultura, tornou exeqüível a realização destas práticas de caráter intensivo de mão-de-obra. Tendo em vista o permanente processo de reordenação espacial, vinculado ao desenvolvimento capitalista, a proposta da pesquisa foi resgatar, desde meados da década de 1940 até a atualidade, as várias etapas do desenvolvimento da economia agrária no município e como o campesinato criou formas de adaptação aos diferentes contextos que se delinearam ao longo da história regional. A pesquisa prestou-se, enquanto estudo de caso, à comprovação da permanência do trabalho camponês, aí residindo sua relevância teórica. Tem, ainda, importância social, constituindo subsídio para implementação de políticas públicas traduzidas numa reforma agrária, visando melhorias das condições de vida do trabalhador rural. |
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METODOLOGIA:
De acordo com a proposta da pesquisa e corroborando o pensamento de autores como Ariovaldo Umbelino de Oliveira, Maria Emília Lisboa Pacheco, Marta Inez Medeiros Marques e João Pedro Stédile a respeito da permanência do trabalho camponês, abordamos a evolução econômica do município e seus reflexos nas sucessivas reordenações espaciais e nas transformações sofridas pelo campesinato. Apoiados no fato de que o estudo geográfico, entre outras coisas, possibilita a percepção dos termos concretos das relações sociedade-espaço, nas quais está implícita a consideração de uma perspectiva histórica e levando em conta no desenvolvimento do estudo o trinômio terra-capital-trabalho, contemplamos os seguintes assuntos: evolução da economia, morfologia agrária, sistemas agrícolas, estrutura fundiária, relações de trabalho, comercialização e impactos ambientais. No sentido de alcançar o que foi proposto, efetuamos inicialmente o levantamento e a análise de material bibliográfico, cartográfico e de dados secundários. Além do trabalho em gabinete e buscando criar condições de maior aproximação possível da realidade, enfatizamos o trabalho de campo, realizado em diferentes etapas. Ele compreende a aplicação e interação permanente de duas técnicas: a realização de entrevistas e a observação direta da paisagem na qual se materializa o processo de produção do espaço. |
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RESULTADOS:
O município, com 240 km2 de área, foi desmembrado de Petrópolis em 1989. Dos seus 19.278 habitantes, 53,3% vivem no campo. Seu povoamento liga-se à expansão da cafeicultura desde a primeira metade do século XIX, coexistindo grandes fazendas e inúmeros sítios de café. Nestes, unidades de produção camponesa, onde também se praticava a agricultura tradicional e a criação de pequenos animais, estão, em parte, as origens do atual quadro agrário do município.A estagnação econômica decorrente da débâcle do café com a crise de 1929 promoveu a busca por alternativas. A partir da segunda metade dos anos 1940, sobretudo nas duas décadas seguintes, desenvolveu-se a avicultura para produção de ovos e também a horticultura (chuchu e vagem) que cresceu progressivamente. A realização destas práticas intensivas tornou-se viável dada a existência do trabalho familiar. Desde os anos 1970, na medida em que a doença Newcastle afetou a criação de galinhas poedeiras, os produtores passaram a criar frangos para abate. Significativa atividade econômica local, a avicultura, com 22,3% do plantel estadual, está hoje na órbita da grande produção, capitalizada e modernizada. A pequena produção camponesa foi muito mais expressiva, mas a elevação dos custos de produção (rações e medicamentos) e a queda dos preços a excluíram do processo produtivo. Empobrecida, dedica-se hoje apenas à horticultura, alugando suas instalações para médios e grandes em troca do esterco, vendido e utilizado na lavoura. |
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CONCLUSÕES:
Este cenário nos permite afirmar que, no processo de mudança, o desenvolvimento de atividades intensivas, diversificadas e integradas foi possibilitado em grande parte pela permanência das unidades familiares de produção. No entanto, tal evolução nem sempre as beneficiou, consistindo este fato em exemplo paradigmático de como o capital interfere decisivamente na dinâmica social. A prosperidade ou declínio da família camponesa deu-se na medida das necessidades do desenvolvimento capitalista e isto nos faz lembrar Caio Prado Júnior, quando fala da "posição de privilégio" do grande proprietário. Esta realidade, necessariamente, nos conduz à reflexão sobre o caráter e as transformações que historicamente a pequena produção vem assumindo no Brasil, contemplando forçosamente a questão da sustentabilidade da agricultura. |
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Instituição de fomento: CNPq - FAPERJ | ||
Palavras-chave: Campesinato; Agricultura na Serra Fluminense; Economia agrária. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |