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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 6. Lingüística
A POLIFONIA COMO ESTRATÉGIA ARGUMENTATIVA: UMA ANÁLISE DO GÊNERO CARTAZ DE CAMPANHA PREVENTIVA DO GOVERNO FEDERAL
Mila Bastos Morais 1 (moraismila@ig.com.br)
(1. Depto. de Língua Portuguesa, Universidade Estadual do Ceará - UECE)
INTRODUÇÃO:
O cartaz é um gênero de grande circulação social que pode ter como objetivo informar, convidar, convencer, divulgar etc. Especificamente os cartazes de campanhas publicitárias preventivas relacionadas ao Ministério da Saúde do Governo Federal têm como objetivo orientar a população para cuidados que se deve ter em relação à saúde e convencer os leitores de que é necessária uma mudança de pensamento e de atitudes para que se tenha uma melhor qualidade de vida. Sendo assim, tal gênero apresenta uma forte carga argumentativa constituída por aspectos como a presença da polifonia. Levando-se em conta que as estratégias de persuasão na publicidade são fundamentais para a sua constituição e para a sua eficácia, pretendemos apresentar os resultados da análise de 11 cartazes de campanhas preventivas contra a AIDS elaboradas pelo Ministério da Saúde, com o intuito de observar como a incorporação de diferentes discursos que possam influenciar o interlocutor a aderir à idéia transmitida funciona como uma das estratégias de argumentação presentes em gêneros publicitários. Objetivamos, dessa forma, mostrar que a polifonia está presente em gêneros como o cartaz de campanha publicitária preventiva como um elemento de grande valia para as intenções do produtor e, conseqüentemente, para colaborar com a melhoria da vida do público ao qual se refere.
METODOLOGIA:
Para a realização deste trabalho, fizemos, inicialmente, um levantamento teórico sobre a noção de sujeito e heterogeneidade discursiva e sobre as formas de manifestação da polifonia e sua relação com a argumentação. Em seguida, coletamos aleatoriamente de sites relacionados ao Ministério da Saúde 11 cartazes de campanhas de prevenção do vírus da AIDS, elaboradas pelo Governo Federal no período de 1985 a 2004. Finalmente, realizamos a análise dos cartazes tendo como base a perspectiva da teoria polifônica de Ducrot (1987), que considera relevante a presença de diferentes vozes dentro do texto para a construção do sentido.
RESULTADOS:
Como resultados dessa análise observamos a presença da polifonia tanto ao nível do locutor, quanto ao nível do enunciador. A polifonia ao nível do enunciador ocorreu em maior quantidade em todos os cartazes, de formas bem variadas, a partir de fenômenos como aspeamento (em que ocorre uso e menção de uma expressão aspeada), detournement (alteração de formas de linguagem de sabedoria popular com o objetivo de captação ou subversão), presença de implícitos (pressuposição e subentendido), heterogeneidade da imagem ou policromia (jogo de formas, cores, luz, sombra que remetem a diferentes perspectivas), argumentação por autoridade (presença de enunciados fundadores que constituem crenças e verdades) e interdiscursividade. Ao nível do locutor, o Ministério da Saúde aparece, na maioria dos cartazes, como o responsável pelo que é enunciado. Dependendo dos objetivos das campanhas, surgiram outras vozes como a de escritores, músicos, cantores e do público em geral que ajudaram a dar o sentido pretendido pelo anunciante.
CONCLUSÕES:
Entendemos, portanto, que a polifonia é um elemento que pode contribuir com a eficácia das campanhas, tornando-as mais interessantes e bem elaboradas. Em gêneros publicitários, ela se mostra como uma estratégia argumentativa relevante para o efeito que se quer produzir no interlocutor, como, por exemplo, no gênero analisado, em que tal estratégia consegue apresentar pontos de vista que podem influenciar a população a, de alguma forma, refletir sobre a prevenção de doenças como a AIDS.
Palavras-chave:  Polifonia; estratégia argumentativa; gênero cartaz.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005