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A. Ciências Exatas e da Terra - 6. Geociências - 8. Mineralogia e Petrologia | ||
O ARENITO ESPICULÍTICO DA LAGOA DO MEIO: PRIMEIRO REGISTRO E CARACTERIZAÇÃO | ||
José Luiz Lorenz Silva 1 (lorenzjl@terra.com.br), Rony Carlos Barcelos Blini 1 e Itamar Ivo Leipnitz 2 | ||
(1. Departamento de Ciências Naturais, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS; 2. PPGEO - Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS) | ||
INTRODUÇÃO:
Em Três Lagoas, município da fronteira oriental do Estado de Mato Grosso do Sul, ocorre um depósito psamítico de características até então inéditas. Formando a base de um depósito lacustre lajiforme, foi constatada a ocorrência de um arenito bem litificado, em cuja matriz predominam espículas (elementos esqueletais de esponjas de água doce). Tal litologia ocorre exclusivamente nos entornos lacustres ou em posição subaquosa e sob poucos centímetros de sedimentos. A descrita ocorrência, até então só constatada na Região do Alto Paraná, vincula-se ao sistema lacustre, típico dos terraços fluviais, onde as cotas aproximam-se aos 350 m. A morfologia da região é escalonada e, para o oeste, mostra colinas elevadas (518 m) onde afloram os Arenitos Marília e Adamantina. Para leste, baixos terraços fluviais (270 m), abrigam pacotes conglomeráticos que sobrejazem discordantes aos Arenitos Santo Anastácio. Com o presente registro, objetiva-se apresentar à comunidade científica nacional, a primeira caracterização desse novo psamito e considerar a inferência do respectivo ambiente de gênese a partir do conteúdo biogênico da rocha. |
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METODOLOGIA:
Amostras da referida rocha foram submetidas à análises micropaleontológicas, petrográficas, geoquímicos e datadas via termoluminescência. Para a análise micropaleontológica, amostras do arenito espiculítico foram laminadas após desagregação via agitação em meio aquoso e ataque químico com ácido nítrico. A identificação dos elementos biogênicos foi feita com base em estampas e descrições de Volkmer-Ribeiro (1981, 1992 e 1999) e Volkmer-Ribeiro & Motta (1995). A impregnação polifásica com resina acrílica foi, dentre as técnicas testadas, a que proporcionou a melhor laminação para a análise petrográfica da rocha em apreço. Os ensaios geoquímicos foram realizados inicialmente via espectometria de fluorescência de Raios X (Rigaku/RIX 3100 ). A análise de fases minerais foi realizada com difratômetro de Raios-X (Philips/PW1710). A análise quali-quantitativa para óxidos foi realizada via fluorescência de Raios X e fusão com tetracloreto de lítio. Para datação via termoluminescência, foram preparados seis conjuntos de amostras; cada um contendo a amostra principal, isenta de iluminação atual, e uma segunda para calibração, de solo exposto nas imediações do ponto de coleta. Essas amostras foram enviadas à dois laboratórios independentes: o Laboratório de Vidros e Datação da Faculdade de Tecnologia de São Paulo (FATEC) e o Laboratório de Datação da Universidade de Washington, sediado em Seattle, nos Estados Unidos. |
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RESULTADOS:
Além das espículas de esponjas foram observados na matriz do arenito, fragmentos de frústulas de diatomáceas. Da espongofauna foram identificadas mega e microscleras dos Gêneros Dosilia e Metania. Da diatomoflora foram identificados fragmentos de frústulas atribuídas ao Gênero Pinnularia. A análise petrográfica revelou que mais de 80 % dos elementos identificáveis no arcabouço da rocha são grãos subarredondados de quartzo com contatos flutuantes ou pontuais, esses constituem os únicos elementos minerogênicos destacáveis. Os ensaios geoquímicos revelaram teores de 78 % de sílica; 12 % de alumina e 1,8 % de óxido e ferro. A quantidade de sílica necessária à geração es depósito da Lagoa do Meio seria plausível a temperaturas mais amenas do que as atualmente registradas na região dos cerrados do alto curso do Rio Paraná, onde as litologias do Grupo Bauru constituem a mais provável fonte de sílica e a maior parte do substrato que drenado aporta à região sob estudo. A análise petrográfica revela que a alta coesão do psamito resulta da ação coesiva da sílica, constatação apoiada pela existência sobrejascente ao arenito espiculítico, de um nível pelítico também litificado e de espessura centimétrica; um biólito que, por sua composição foi denominado de espongilito e corresponde ao fácies pelítico da mesma laje. A existência de duas litofácies é sugestiva de uma deposição sob restrição hidrodinâmica, passando de um meio semi-lótico para um contexto lêntico. A datação de amostras do arenito espiculítico revelou idade de 39.000 ± 4.000 anos AP. |
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CONCLUSÕES:
O objeto de estudo é uma rocha sedimentar; é indeformável sob pressão de lâmina de espátula, tem alto grau de litificação e uma matriz espiculítica até então desconhecida entre os psamitos. O ambiente de vida da cenose geradora dos constituintes biogênicos identificados, possuía águas rasas, calmas e ácidas e uma arquitetura variada, desde uma zona marginal bem vegetada até uma zona mais hidrodinâmica e profunda e menos provida de vegetação; inferências levantadas a partir do conhecimento dos atuais nichos das esponjas de água doce identificadas na matriz da rocha e ainda presentes no registro biológico. A geoquímica constatada é compatível com a encontrada na base de ambientes palustres holocênicos da mesma região. A datação posiciona a deposição dos sedimentos geradores da rocha no Pleistoceno superior; intervalo de tempo que correspondente ao Andar Würm médio/superior da Glaciação Alpina, quando a temperatura média global foi inferior aos 12°C. A gênese da rocha, necessariamente vinculada a uma grande disponibilidade de sílica no meio, ocorreu pela captura e transformação orgânica desse óxido, depois retornado ao ambiente como sedimento. O depósito bio-silicoso da Lagoa do Meio sugere a ocorrência de variações climáticas de origem orbital, mas também vinculadas aos basculamentos que estabeleceram os terraços fluviais da região do Alto Paraná. |
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Palavras-chave: Arenito; Matriz bio-silicosa; Pleistoceno. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |