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D. Ciências da Saúde - 9. Ergonomia - 1. Ergonomia
INFLUÊNCIA DA POSTURA CORPORAL NA ATENÇÃO DOS ALUNOS DA 1ª SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL
Vanessa Fernandes Pontes 1 (vanessafpontes@yahoo.com.br) e Marilene Calderaro da Silva Munguba 1
(1. Depto. de Ciências da Saúde, Universidade de Fortaleza - UNIFOR.)
INTRODUÇÃO:
Os vícios posturais são em geral adquiridos desde a infância por fatores ambientais, levando a formação de dores em várias partes do corpo. Este trabalho se propõe a investigar os fatores ambientais referentes ao meio escolar, observando quando este interfere na mecânica postural e as suas conseqüências. Nos referiremos a mudança que ocorre quando o aluno passa a cursar a 1ª série do ensino fundamental. Ao ingressar nesta, a criança se depara com um ambiente que impõe maior tempo de permanência sentado, além da inadequação do mobiliário à necessidade da mesma. Consoante com Silva (1994), a somatória destes fatores acarretará tensões e fadiga muscular, principalmente na região do pescoço, costas e ombros, levando a desconforto, mal-estar, dores no corpo e cefaléia. Estes incômodos aliados à inquietação do aluno para aliviar o desconforto poderão gerar uma diminuição da atenção, o que pode prejudicar no rendimento escolar.
Considerando o conceito de atenção e suas três características, a tenacidade, a vigilância e o estado de ânimo, referidos por Ballone (1999), surge a indagação de como os vícios posturais influenciam no nível de atenção da criança que cursa a 1ª série do Ensino Fundamental. Observando-se as três características da atenção, julgamos que, ao passar um longo período sentado, somado aos desconfortos, os alunos têm seu estado de ânimo e a tenacidade diminuídos; a vigilância aumentada, reduzindo a capacidade de concentração e atenção, afetando o seu rendimento escolar.
METODOLOGIA:
Pesquisa desenvolvida com uma análise descritiva; de caráter observacional em que as crianças foram observadas em seu ambiente escolar; longitudinal, com abordagem qualitativa.
A coleta de dados ocorreu em uma escola da Rede Municipal de Ensino, na cidade de Fortaleza, com uma população de 35 crianças da 1ª série do Ensino Fundamental. As técnicas de coleta adotadas foram a observação direta do aluno em seu ambiente escolar e a entrevista estruturada com o aluno, tendo como instrumentos de coleta de dados o roteiro de observação e o roteiro de entrevista estruturada, realizada em dois momentos: na segunda semana de agosto e no mesmo período de dezembro.
Amostra composta de 12 crianças, sendo 5 do sexo feminino e 7 do masculino. Como critério de inclusão se adotou a condição de aluno da referida escola, que estivesse cursando a 1ª série do Ensino Fundamental, sendo excluídas da pesquisa as crianças que não se encontrem na série ou na escola indicada.
Durante o período de agosto a dezembro de 2004, os alunos foram observados com a freqüência de uma vez por semana.
O tipo de análise dos dados da investigação foi a análise do conteúdo do tipo Temática, qualitativa organizada em três etapas: 1. pré-análise, 2.exploração do material e 3. tratamento dos resultados obtidos e interpretação.
O estudo em tela vem sendo pautado nos princípios éticos, adotando a Resolução 196/96 do Ministério da Saúde.
RESULTADOS:
Os dados da pesquisa foram organizados nas categorias de adequação do mobiliário, condições do ambiente de estudo, nível de atenção e porcentagem de dores em regiões do corpo. Detectou-se que 87% das carteiras eram altas demais; 9,3% adequadas e 3,7% mais baixas; 12,7% conseguiam apoiar os pés no chão; 87,3% ficavam com os membros inferiores pendentes, dificultando o retorno venoso; 34,1% utilizavam o encosto da cadeira para apoiar as costas. O assento grande fazia com que sentassem na região da frente, não utilizando o encosto, ou em apoio isquio-sacral, apoiando somente a região superior das costas. Constatou-se na entrevista que 75% referiram dores nas costas; 68,2% mantinham os ombros muito abduzidos durante a escrita, 66,7% referiram dor nos ombros. Imputaram ao peso excessivo da mochila, e ao escrever muito, as dores nas costas e nos ombros.
A sala tem ventilação e iluminação reduzidas, e quadro baixo, dificultando a visão. Observou-se que 38,7% visualizavam o quadro sem assumir posturas inadequadas; 66,7% afirmaram não conseguir isso; 75% referiram cefaléia, provavelmente devido a esses fatores. Percebeu-se que as crianças não conseguiam manter bom nível de atenção. Na entrevista, 41,7% afirmou manter a atenção após muito tempo sentada. Observou-se que 71,4% apresentavam comportamento inquieto quando sentados, sendo perceptível a diminuição no nível de atenção de 46,4% entre 10 a 20 minutos sentados; 41,1% entre 20 a 30 minutos e 12,5% entre 30 a 40 minutos.
CONCLUSÕES:
Constatou-se que a sala de aula da 1ª série do ensino fundamental da escola investigada não está adequada para atender o seu público-alvo, possuindo várias falhas ergonômicas.
Além da permanência durante cerca de 1 hora e 40 minutos antes e depois do intervalo na posição sentada, as crianças precisam se adaptar a cadeiras altas, sem o adequado apoio dos pés no chão, há uma dificuldade em apoiar as costas no encosto, ficando com os ombros muito abduzidos para escrever; associado à reduzida iluminação e ventilação da sala de aula.
Estes fatores deixam as crianças inquietas, levando a assumir posições inadequadas quando variam na postura sentada; a maioria costuma se levantar e andar pela sala por não conseguir manter-se sentado por muito tempo. Em geral, o ato de levantar-se durante a aula é visto como um mau comportamento, não como uma necessidade orgânica do aluno, que, devido à permanência prolongada na posição sentada, passa a ter dificuldade de retorno venoso e a desenvolver dores em várias partes do corpo, como os ombros, as costas e a cabeça. Foi visto que a permanência prolongada do aluno na posição sentada pode levar a uma diminuição do seu nível de atenção.
Dessa forma, há uma necessidade de mudanças ergonômicas para atender adequadamente os alunos, diminuindo consideravelmente os riscos a sua saúde e à aprendizagem, além de uma mudança metodológica que permitam que as crianças possam ficar em pé, deambular e sentar durante o período que ficam em sala de aula.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Ergonomia; Vícios Posturais; Atenção.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005