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H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 9. Artes
A FIGURA, O OBJETO E O COTIDIANO NA OBRA DE RUBENS GERCHMAN
Jocély Peixoto Osorio da Rosa 1 (jocely.p@terra.com.br)
(1. Profª. Me.do curso de História e Pedagogia da Faculdade Cenecista de Osório – FACOS)
INTRODUÇÃO:
A pesquisa cobre um período da arte brasileira, entre 1964-67, aproximadamente, enfocando questões e linguagens que dominaram a obra de Rubens Gerchman, artista plástico representante deste período. O objeto de estudo não é, nem poderia ser, todo o contexto visual importante que aconteceu na arte naqueles anos. Assim, foi eleita a obra de um deles, a de Rubens Gerchman. A conseqüência desta escolha foi um novo olhar, uma nova análise introduzindo questões que consideram o momento cultural da Nova Figuração, tendo, em Opinião 65 e Nova Objetividade Brasileira/67, pontos centrais. Ambos refletem aspectos do processo de pesquisa e investigação do artista como a persistência e transformação da figura, a anexação de objetos do cotidiano e a abertura a construções tridimensionais. Dentro deste quadro, uma questão pontuou esta trajetória: o que a obra que nos olha quer revelar?
O objetivo do presente trabalho foi justamente tentar responder e compreender criticamente esta questão, através do estudo de um momento específico da história nacional e pessoal do artista focados em sua obra.
A relevância está em trazer uma abordagem transversal, implicando num olhar oblíquo sobre as imagens, o que Vovelle considera importante, pois concebe tanto o aparente quanto o implícito.
METODOLOGIA:
Marc Le Bot ressalta a necessidade de delimitar novos pontos de vista teóricos para pensar a arte sem criar diferentes categorias entre presente e passado: uma retrospectiva conjunta com uma prospectiva para um melhor entendimento do passado e do presente, pois o legado cultural de Gerchman permanece. Durante a análise das obras utilizou-se o cruzando transversal de disciplinas e acontecimentos que as rodeavam, ampliando conexões, cercando-as para melhor entendê-las; uma análise interpretativa em que a obra não pode ser lida nem considerada um texto, nem lisíveis são os elementos que a constituem. O importante é tirar conclusões claras utilizando elementos de outras áreas, dentre outros métodos sem que haja contradições em suas diretriz.
Lynn Hunt adverte da necessidade de um exame minucioso das imagens e sobre a abertura de espírito diante daquilo que será revelado por esse exame. Parte-se das relações micro para o macro. Ao esmiuçar seu entorno e sua procedência, tenta-se mostrar o que está implicado, levando em conta os subsídios que auxiliam na desmontagem da imagem: textos, crítica de arte, imagens da mídia, recursos técnicos da época, trajetória do artista, estruturas sócio-culturais, com as quais o artista se relacionou e extraiu elementos para as suas práticas, o que propiciou a manutenção das especificidades da disciplina arte, sem negar os recursos de outras, e convenções pelas quais a imagem foi construída.
Alguns autores balizaram o referencial teórico: Roger Chartier, Marilena Chauí, Nelson Brissac Peixoto, Régis Debray, Georges Didi-Huberman.
RESULTADOS:
A imagem, por muito tempo, permaneceu um objeto de análise reservado apenas à história da arte, sendo negligenciada pelos historiadores em geral. A atenção que era dispensada às imagens - análise, serial ou não, dos materiais iconográficos - desloca-se para a apreensão dos usos e das compreensões possíveis destas. Verifica-se a importância de uma história análítica, em que a imagem seja apreendida como um documento histórico visual cujos aspectos estéticos, contexto, transversalidade com outras áreas do conhecimento têm dem ser considerados, nunca esquecendo a instância da arte, muito importante para a análise do todo.
CONCLUSÕES:
As obras revelam a existência de uma coerência: percepção do artista, inquietação sobre a realidade, recorrência ao universo urbano, desdobrando este universo numa composição plástica própria, revelando o kitsch, dando-lhes um sentido crítico, a aparência advinda de notícias de jornais: o drama, a tragédia e o humor de uma cidade cosmopolita, na qual o processo de massificação é crescente. O homem e tudo aquilo que o envolve tem sido a preocupação central de toda a obra do artista: habitação, transporte, poluição, lazer, ou melhor, o que o artista retrata é a solidão do homem como conseqüência de um certo tipo de vida urbana e as faltas que a acompanham: desemprego, moradia, desilusão. Quanto ao aspecto formal, houve uma ampliação do repertório de expressão através de técnicas e materiais variados, ocorrendo um trânsito contínuo entre imagem e palavra, entre cor e desenho, entre pintura e objeto, entre emoção e contenção. Às vezes, predomina um desses pólos, o mais comum é o convívio, implicando num novo exercício do olhar, numa nova estética ou antiestética, no desatrofiamento da memória, em laços conceituais, na relação obra/espectador, arte/vida e artista/procedimentos tradicional. Gerchman pertence a uma vanguarda polêmica, que introduz o aspecto crítico, colocando em questão o papel da arte na sociedade.
Palavras-chave:  Rubens Gerchman; Nova Figuração; Nova Objetividade Brasileira.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005