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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia | ||
APOSENTADOS NA OUTRA MARGEM DO TEMPO | ||
Maria Izabel de Souza Lopes 1 (beltramilopes@click21.com.br) e Dalva Marim Beltrami 2 | ||
(1. Profa. Dra. do Depto.de Ciências Sociais, CCH, UEM; 2. Profa. Dra. do Depto.de Educação Física, CCS, UEM) | ||
INTRODUÇÃO:
A vida do homem no mundo moderno é predominantemente marcada pelo tempo de trabalho. Algumas conquistas no mundo do trabalho tentam romper com essa vida social regulatória, mas ainda há muito por fazer para que a sociedade aceite a aposentadoria como um direito universal no mundo do trabalho e reconheça que a contribuição produtiva dos trabalhadores deva ser contemplada por um tempo de não-trabalho futuro que permita a construção de uma nova narrativa de vida com fruição qualitativa diante de uma expectativa de vida prolongada. A fruição livre do tempo não pode continuar sendo prerrogativa de uma classe social que subtrai de outra essa condição. As legislações sobre o direito à aposentadoria são expressões do estatuto social vigente. A classe trabalhadora parece ainda ter dificuldade em assimilar, em seu quadro de valores, possíveis avanços sociais e culturais do mundo do não-trabalho. Os trabalhadores parecem responder apenas individualmente ou como categorias profissionais e não como classe social ao embate sobre o direito a uma aposentadoria com qualidade de vida. O mesmo parece ocorrer com professores universitários, pertencentes à categoria de trabalhadores do ensino superior. Esta pesquisa teve por objetivo verificar como professores universitários aposentados organizam e usufruem de seu tempo de não trabalho obtido com a aposentadoria. Supôs-se que essas pessoas, diante da natureza de seu trabalho, pudessem ter mais acesso aos bens culturais produzidos na sociedade. |
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METODOLOGIA:
Os sujeitos investigados são servidores públicos, professores aposentados de uma universidade pública, no Paraná, de ambos os sexos. O período abrangido foi de 1992 a 2001. Em 1992 foi instituído o Regime Jurídico Único no Estado e as Instituições de Ensino Superior puderam controlar o processo de aposentadoria quando anteriormente era feito pelo INSS. O limite em 2001 configura o período que abrange a primeira reforma previdenciária que atingiu os servidores públicos em 1998 e início dos debates para uma nova reforma que passou a vigorar em 2003. A população foi constituída a partir de um levantamento nominal dos que se aposentaram na Instituição para a elaboração de dados quantitativos demonstrativos. Em seguida constituiu-se uma amostra estratificada por sexo, de diferentes idades, para a realização de entrevistas com questões abertas. Os entrevistados foram constituídos por doze sujeitos que ainda residiam na cidade onde a pesquisa foi realizada, pois parte deles havia se mudado para outras localidades ou já eram falecidos. Buscou-se verificar seu estilo de vida na condição de aposentado. |
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RESULTADOS:
Foi de 228 o número de professores aposentados no período de 1992 a 2001. Desses, 51% eram homens e 49% mulheres e 32% tinham 60 anos ou mais. Do total, 4,9% foram aposentados compulsoriamente quando atingiram a idade de 70 anos, 53,5% aposentaram-se com tempo de serviço como professores e outros 23,2% aposentaram-se com tempo acumulado como professor e outras atividades realizadas anteriormente. A aposentadoria proporcional por tempo de serviço ocorreu para 12,3%. Neste caso grande parte deles retornou às atividades na própria instituição ou em outras instituições públicas mediante concurso e ingressando novamente na carreira já que acumular uma nova aposentadoria aos 70 anos é possível. Na perspectiva qualitativa verificou-se que os professores aposentados conseguiram acumular algum patrimônio pessoal tanto acadêmico como material; que os estilos de vida, para alguns, ficou restrita à família; e que os que tiveram a oportunidade, durante suas trajetórias de vida, de se envolverem e de participarem em atividades culturais e políticas incorporaram e/ou ampliaram tais atitudes em seus estilos de vida como atividade ou novo projeto de vida. Muitos deles revelaram que se sentem discriminados como aposentados tanto no novo ambiente de trabalho como fora dele. Mas nenhum deles indicou a instituição de origem ou a associação docente ou sindicato a que estivessem associados como responsáveis em prepará-los para a aposentadoria, principalmente para a aposentadoria compulsória. |
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CONCLUSÕES:
Considerando as regras previdenciárias em vigor e a partir das informações obtidas na instituição de docentes que mantém sua vida profissional documentada pôde-se apurar que 197 docentes podem solicitar suas aposentadorias a qualquer tempo. As razões pelas quais não o fazem, segundo se apurou, são: compromisso assumido com a instituição para cumprir o tempo em que esteve afastado para sua qualificação profissional; o medo de deixar o ambiente social no qual permanece a maior parte de seu tempo; não ter pensado sobre o que fazer quando se aposentar; esperança de melhoria das condições de trabalho para realizar projetos acadêmicos após qualificação recente, principalmente doutoramento. Diante das informações obtidas neste trabalho verificou-se que atividades culturais e políticas, são atividades pós-aposentadoria de qualidade para alguns dos investigados porque foram forjados nos embates sociais e políticos travados em suas trajetórias de vida. Mas vencer a apreensão da condição de aposentado requer hábitos, atitudes que podem ser desenvolvidos e incorporados em processos pedagógicos formais a cargo da instituição de origem ou de suas associações e sindicatos de classe. Nesse sentido a instituição onde a pesquisa foi realizada e a partir dela está implantando um programa de apoio ao aposentando. No caso das entidades e sindicatos de classe local a atenção dispensada ao aposentado ainda é preponderantemente marcado pelo assistencialismo social e jurídico. |
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Palavras-chave: Professores Universitários Aposentados; Aposentadoria; Tempo de trabalho, tempo de não-trabalho. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |