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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho
DESEMPREGO E FORMAS DE EXCLUSÃO: IMPLICAÇÕES SOBRE A CARREIRA PROFISSIONAL ENTRE TRABALHADORAS (ES) FABRIS EM SERGIPE
Maria Helena Santana Cruz 1 (helenacruz@uol.com.br) e Silmere Alves Santos de Souza 1
(1. Departamento de Serviço Social e Mestrado em Educação, Universidade Federal de Sergipe - UFS)
INTRODUÇÃO:
O setor industrial têxtil sergipano inscreve-se no processo de industrialização e integração da região na dinâmica de desenvolvimento brasileiro, no qual os limites geográficos perderam o sentido. Por sua condição de setor tradicional, utiliza a demissão de grandes contingentes de trabalhadores. Estruturam-se processos de fragmentação e reconstrução de identidades entendidas em um universo em que ocorre um fluxo em aceleração crescente de contextos de mudanças, de encontros sociais e comunicativos, e uma múltipla exposição a agências socializadoras e normalizadoras, elas mesmas também viajando em um fluxo acelerado de mudanças. O estudo desvenda os impactos das inovações tecnológicas, implicações nos processos de exclusão, expressas por desemprego, priorizando-se o ponto de vista das(os) trabalhadoras(es) demitidas(os) e o movimento em busca da reconstrução de suas trajetórias profissionais. Questiona-se: Qual o perfil das (os) trabalhadoras (es) demitidas (os) do setor têxtil e que condições de empregabilidade e ampliação da cidadania encontram? Como redirecionam e reconstroem seus projetos de requalificação? Em que medida os atributos de gênero constituem obstáculos para o reingresso de mulheres ao mercado de trabalho? Como elas encaram o retorno (exclusivo) ao espaço privado da família, como se auto-definem enquanto identidades segmentadas e fragmentadas e como homens e mulheres são representados de forma simétrica na hierarquia do trabalho doméstico?
METODOLOGIA:
A perspectiva histórica e a opção metodológica estudo de caso organizacional, mostraram-se relevantes para captar os impactos macro/micro, objetivo/subjetivo das mudanças tecnológicas sobre a experiência cotidiana dos trabalhadores, pela necessidade de se conhecer situações concretas de desemprego e trabalho. A mediação do Sinditextil (Sindicato da Indústria Têxtil) possibilitou o acesso aos respondentes, trabalhadoras(es) demitidas(os) da indústria Ribeiro Chaves S. A., por utilizar sistematicamente, nestes últimos anos, da demissão de trabalhadores. Fontes diversas documentais, bibliográficas e empíricas, por meio da entrevista semi-estruturada realizada com trabalhadores desempregados de diversos segmentos da população. O levantamento inicial de fábricas (06) ligadas ao Sinditêxtil ocorreu através dos Termos de Rescisão de Contrato de Trabalho no período de 2002/2003, quantificando-se os tipos de rescisões efetivadas. A amostra do tipo não-probabilística intencional integra 11 demitidos(as), privilegiando-se o ponto de vista das mulheres para mostrar como o tempo e o espaço, duas categorias imbricadas, são construídas por elas, e se relacionam com a condição de opressão/dominação feminina, e como a mulher reconstrói suas trajetórias profissionais e se reconstrói no tempo e no espaço, diferentemente dos homens. Entendeu-se que a condição feminina se (re)constrói no tempo e pelo espaço pelo imaginário. A representação do tempo é, pois, o resultado de temporalidades, de condições de construção de subjetividades dos trabalhadores.
RESULTADOS:
Os desempregados do setor têxtil enfrentam situações de precariedade e utilizam estratégias diversificadas de enfrentamento: inserção no setor informal, atuação na mendicância, exercício de pequenos “bicos” e atividades remuneradas no âmbito doméstico (diaristas). No período estudado (2002-2003) a Fábrica Ribeiro Chaves efetuou 135 rescisões contratuais, entre as quais, 117 / 86,7% por iniciativa da empresa, 06 por iniciativa do empregado e 12 aposentadorias por tempo de serviço e idade. Os trabalhadores não percebem a baixa escolaridade e a introdução de novos equipamentos como motivos para a demissão. Esta é atribuída ao enxugamento do quadro de funcionários, a falta de material para produzir e má administração e o compromisso do trabalhador. Os trabalhadores utilizam estratégias de enfrentamento do desemprego: empregos vulneráveis, precários (trabalho informal, autônomo, emprego de meio período) e pela instabilidade (trabalho sazonal, temporário, intermitente, assalariamento sem carteira assinada,). As mulheres dirigem-se para o emprego doméstico, atividades de cuidados com crianças e idosos. A baixa escolaridade ainda atrela as mulheres às tarefas domésticas mais tradicionais, fazendo-as encarar o retorno (exclusivo) ao espaço privado da família.
CONCLUSÕES:
Assim como a oferta e a demanda de trabalho apresentaram mudanças nos últimos anos, o desemprego também registrou alterações importantes, seja na quantidade, seja no perfil do desempregado. O desemprego é acompanhado por vulnerabilidade crescente, desigualdades salariais, de condições de trabalho e de saúde. O núcleo protegido dos empregos diminui e aumenta a margem dos vulneráveis e precários. A dinâmica da exclusão expressa-se por condições de pobreza, desigualdade, segregação e desemprego, com conseqüências em termos de perda de qualidade de vida, da dignidade dos trabalhadores e de sua cidadania. A construção da cidadania plena para as mulheres não pode, portanto, ser pensada sem que seja inserida na formulação de políticas públicas dirigidas para o trabalho e a formação do trabalhador, tendo em vista propostas de mudanças para atingir a igualdade e diversificação nas escolhas de carreira, profissão, qualificação, para apoiar a inserção das mulheres em setores e níveis de responsabilidade nos locais de trabalho. A promoção da eqüidade e da igualdade de oportunidade entre homens e mulheres constitui um fato fundamental de discussão em diversas conferências internacionais recentes. As imagens de gênero persistentes no imaginário social (e às vezes nas próprias mulheres) reforçam as simetrias ou as divisões/exclusões incapacitando os indivíduos mulheres para a conquista da cidadania.
Instituição de fomento: FAP-SE
Palavras-chave:  GÊNERO; DESEMPREGO; TRABALHO.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005