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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 11. Ensino-Aprendizagem
A TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL DA ATIVIDADE E A EDUCAÇÃO FÍSICA NA PERPECTIVA DA CONSTRUÇÃO DO SUJEITO
Mara Medeiros 1 (maramedeiros@yahoo.com.br)
(1. Profa. Dra. Faculdade de Educação Física/ UFG)
INTRODUÇÃO:
O que motivou a busca de novas metodologias no âmbito da Educação Física Escolar foi a crença de que esta área tem uma relação “amorfa” com o “conhecimento” (instrumento cognitivo capaz de ampliar a forma de pensamento), já que se estruturou nas escolas como uma mera atividade e, hoje, encontra dificuldades de se identificar como uma disciplina. É importante evidenciar que essa identificação histórica como atividade física não seria necessariamente por omissão ou má-fé dos seus profissionais e daqueles que compõem o contexto escolar, mas por uma histórica inadequação de conteúdos e métodos e pela falta de objetivos educacionais que localizem esta disciplina na rota do conhecimento e da construção do sujeito.
Uma vez partindo do princípio que os pressupostos filosóficos da lógica formal trazem limitações ao conhecimento, partiu-se do estudo da teoria histórico-cultural formulada no âmbito da filosofia marxista, na busca de novas metodologias e conceitos para uma educação física calcada na aprendizagem do pensar e integralizada aos objetivos de preparação do cidadão que permeiam a escola, procurando tornar claro de que educação e de que escola se está falando.
Para atender à finalidade de buscar novas metodologias para a educação física escolar, foi relevante trabalhar com o objetivo de observar o trajeto entre o pensamento empírico e o pensamento teórico dos alunos e identificar as características das operações conscientes demonstradas por eles durante o processo.
METODOLOGIA:
Na presente pesquisa, após elaboração teórica, o trabalho de campo se desenvolveu por um período de 14 aulas, com 30 alunos da 5a.Série B do CEPAE/UFG e teve como base o quadro teórico da Teoria Histórico-Cultural da Atividade, mais especificamente o de Davydov, considerado da terceira geração de Vigotsky. A base da proposição de Davydov é a relação entre ensino e desenvolvimento e que “a escola deve ensinar os alunos a pensar” (Davídov 1988, p.03). Na perspectiva desse autor os objetos científicos, ou seja, os conteúdos devem ser apropriados pelos alunos por meio da descoberta de um princípio interno do objeto reconstruído sob a forma de conceito teórico na atividade conjunta entre professor e aluno. Nesta perspectiva o conteúdo dança foi desenvolvido com os alunos no ambiente escolar.
O trabalho de pesquisa foi desenvolvido dentro dos preceitos da pesquisa-ação a partir de um processo de planejamento, atuação, observação e reflexão, com vistas à utilização do conhecimento produzido para a transformação imediata do grupo pesquisado.
Na busca de um conceito teórico da dança, foi apresentado aos alunos um material preparado em VHS com seis tipos de dança, para que partissem da generalização para chegarem a um conceito teórico e, conscientemente, pudessem estabelecer as devidas conexões. O desenvolvimento do trabalho se deu a partir da experimentação prática do que foi considerado por eles como sendo dança, ou seja, movimentos expressivos dentro de um determinado ritmo.
RESULTADOS:
De acordo com o levantamento diagnóstico, os alunos apresentavam o seguinte conceito empírico de dança: para 31% era movimento; para 20,6% movimento com música; 20,6% responderam que se tratava de arte; 10,3% consideravam dança um esporte, 10,3% uma forma de relaxamento e 7,2% descreveram vários tipos de dança.
No exercício de generalização, a cada trecho da fita os alunos concordavam que se tratava de dança. Ao final perguntou-se o que havia de diferente nas diversas danças, para se chegar à pergunta fundamental: o que existe de igual em todas elas, ou o que faz que um determinado movimento seja dança. A primeira resposta foi movimento com ritmo, como alguns apresentaram como conceito empírico. Após um movimento de acompanhar o ritmo com batidas da mão sobre a cabeça e perguntado se era dança, todos admitiram que o conceito não era completo. Após rever uma das danças apresentadas (filme Cantando na Chuva), uma aluna disse “já sei! Não é qualquer movimento, são movimentos expressivos dentro de um ritmo”.
Não foi trabalhado o conceito de ritmo por se tratar de uma turma com idade média de 11 anos e este ser um conceito complexo até para profissionais de música, de acordo com o maestro Joaquim Jaime, entrevistado para este fim. Nos primeiros trabalhos de vivência prática do conceito trabalhou-se com o metrônomo (instrumento que regula os andamentos musicais) para não utilizar músicas conhecidas, evitando os passos já estabelecidos e viabilizando a criatividade.
CONCLUSÕES:
A Passagem do conceito empírico para o conceito teórico de dança pelos alunos foi um processo bastante rápido devido à percepção aguçada de alguns alunos. Durante todo o tempo o grupo sabia que era esperado algum tipo de raciocínio por parte deles. Essa situação ficou clara quando uma aluna, em fração de segundos exclamou, “já sei! Não é qualquer movimento, são movimentos expressivos”. Era como se estivesse estabelecida uma competição para ver quem descobre primeiro. Esse exercício, além de ter dado mostra do processo de generalização de Davydov, tornou evidente a zona de desenvolvimento próximo de Vigotsky, com a mediação do professor e de alunos melhores preparados para a discussão ajudarem a turma a superarem os seus patamares de condutas.
As características das operações conscientes demonstradas durante o processo foram bastante significativas para o resultado do trabalho, uma vez que além de orientarem quanto à metodologia levaram o pesquisador a uma idéia do conteúdo significativo para atender ao conceito. Ou seja, os próprios alunos deixaram claro em que momento e de forma a dança vem se apresentando em suas vidas e que dar conta dessas formas seria papel da escola.
Também ficou evidente que se a dança são movimentos expressivos dentro um ritmo, isso a torna acessível a qualquer pessoa independente de habilidades especiais, como foi o caso de um aluno especial, de 17 anos, portador de deficiência mental que está incluído na turma e fez parte da pesquisa.
Palavras-chave:  Teoria Histórico-Cultural da Atividade; Educação Física; Construção do Sujeito.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005