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F. Ciências Sociais Aplicadas - 1. Gestão e Administração - 9. Gestão e Administração
OS (DES)CAMINHOS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL (RSE): UM ESTUDO SOB A ÓTICA DO MODELO ETHOS
André Moura Xavier 1 (andmox@baydenet.com.br) e Washington Jose de Souza 2
(1. Faculdade Christus; 2. Universidade Federal do Rio Grande do Norte)
INTRODUÇÃO:
Na sociedade atual produto e mercado norteiam as relações sociais. Ao longo da história estudos são desenvolvidos no intuito de elevar a produção e conquistar novos mercados. Instaura-se a lógica de produzir mais com menos (tempo e pessoas) trazendo como resultados evidentes o desenvolvimento das organizações e o crescimento das sociedades. Entretanto, são inúmeros os efeitos negativos no bem-estar individual e coletivo.Tais efeitos negativos começam a ser percebidos e a fazer parte das discussões dos mais diversos grupos da sociedade, incluindo os empresariais. É neste cenário que ganha espaço ações de responsabilidade social (RS) desenvolvidas por empresas privadas. Concomitantemente a esta discussão surge o Instituto Ethos de Responsabilidade Social, que busca fomentar e orientar as organizações acerca da prática da RS. Para o Ethos a RSE é um modelo de gestão organizacional em que valores éticos e morais se fazem presentes e são os norteadores das ações dos membros das organizações com quem se relacionam direta ou indiretamente: acionistas, fornecedores (diretos e indiretos), consumidores, sociedade (comunidade local e outros), governo, empregados e dependentes, concorrentes e meio ambiente. Neste trabalho buscou-se compreender se as ações de um grupo de sete pequenas empresas, em benefício de jovens de comunidades carentes, estão em concordância com os princípios de RS defendidos pelo Instituto Ethos.
METODOLOGIA:
A pesquisa teve uma abordagem fenomenológica, uma vez que buscou compreender o comportamento e valores humanos a partir das experiências dos atores sociais, buscando examinar como o mundo é vivido. A tipologia, a investigação a ser desenvolvida foi classificada de duas formas. Quanto aos meios, foi do tipo pesquisa de campo e em relação aos fins, a pesquisa foi descritiva, pois mapeou as opiniões dos empresários em relação às ações de responsabilidade social das empresas envolvidas.Das empresas participantes 7 localizam-se na capital e uma panificadora esta localizada no interior do estado. Como espaço de investigação empírica foram consideradas as sete empresas do município de Fortaleza estando excluída, portanto, a empresa localizada no interior do estado.O instrumento norteador da coleta de dados, um questionário semi-estruturado, foi desenvolvido a partir do Modelo Ethos de Responsabilidade Social, considerando os sete temas do Modelo, e aplicado aos proprietários das empresas.Para o tratamento dos dados utilizou-se o método de análise categorial o qual buscou identificar a congruência entre a fala dos empresários e as idéias sustentadas pelo Instituto Ethos, interpretando as respostas dos entrevistados, através de seus depoimentos e das respostas dadas às questões subjetivas.
RESULTADOS:
Em essência, ao falarem sobre seu papel empresarial os empresários destacaram sua importância social e econômica, pois, oferecem produtos de primeira necessidade, geram empregos e contribuem com suas obrigações. Além disso, ultrapassam a dimensão legal ao atuar na comunidade. Lembre-se, porém, que não é socialmente responsável uma empresa que atua na comunidade, contribuindo para a melhoria de vida e a construção da cidadania e, em um outro momento, sonega impostos, oferece condições inadequadas de trabalho, concede ou recebe propina, ou, ainda, emprega trabalho infantil, conforme constatado. Uma vez que a RSE envolve compromisso ético incorporado à dinâmica organizacional. Quanto às expectativas acerca do retorno dos investimentos realizados, os empresários falam na mudança de consciência dos beneficiados, redução da violência e da criminalidade na comunidade. Esperam ainda, o reconhecimento da sociedade e dos beneficiados, a captação de novos clientes e a perpetuação da empresa. Um dos empresários deixou claro que sua motivação e expectativa estão relacionadas à redução dos assaltos em sua empresa, o que ocorreu após seu ingresso no projeto.Abordou-se ainda, o comportamento dos empresários frente à divulgação das ações sociais realizadas. A maioria dos panificadores já faz divulgação. Apenas um dos respondentes não se dispõe a investir recursos e/ou esforços na divulgação alegando que não pretende que “as atividades comerciais peguem carona no projeto”.
CONCLUSÕES:
De modo geral, a partir do depoimento dos entrevistados conclui-se que não há coerência entre as atividades desempenhadas e as idéias da responsabilidade social defendidos pelo Instituto Ethos. Vale lembrar que RSE contempla a ética na gestão organizacional. Muito embora, tenham sido evidenciadas informações que direcionem as empresas no caminho da RS, não se pode classificar estas organizações como socialmente responsáveis. Um dos empresários demonstrou que seu ingresso no projeto teve como objetivo proteger-se dos constantes assaltos que seu estabelecimento vinha sofrendo. O que de fato ocorreu. “Depois que ingressamos no projeto nossa empresa não sofreu nenhum assalto”.Um outro empresário ao ser perguntado sobre trabalho infantil informou que mantém um empregado menor de idade, justificando que “é melhor ele trabalhar aqui e aprender um ofício do que estar na rua aprendendo a ser marginal”. Não se adotará aqui uma discussão maniqueísta do moral e/ou legalmente certo ou errado. A abordagem será sob a luz da proposta do conceito de RSE defendido pelo Instituto Ethos.Os valores éticos e morais devem ser os balizadores das ações dos membros da organização, nesse sentido as ações dos empresários participantes do projeto não podem ser classificadas como RS. Por fim um alerta que se faz é que a proliferação de ações e a incorporação de princípios que se distanciam de um comportamento ético certamente colocarão em xeque o desenvolvimento e o poder de transformação destes projetos.
Palavras-chave:  Responsabilidade Social; Ética; Gestão.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005