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C. Ciências Biológicas - 13. Parasitologia - 6. Parasitologia
ESTUDO DA OCORRÊNCIA DE PARASITAS EM PEIXE TELEÓSTEO DE ÁGUA DOCE DA AMAZÔNIA
Valdomiro Farias de Sousa 1 e Carlos Alberto Machado da Rocha 2
(1. Coordenação de Biologia, Colégio Podium.; 2. Coordenação de Recursos Pesqueiros, Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará - CEFET.)
INTRODUÇÃO:
A ictioparasitologia é uma ciência que tem, entre seus objetivos, auxiliar o entendimento das interações entre os seres vivos de uma maneira geral, uma vez que as relações parasito-hospedeiro (peixe) influenciam e são influenciados de maneira direta e indireta pelos demais elementos constituintes da biosfera. É necessário considerar que o ambiente aquático é um meio no qual o acesso e a penetração de agentes patogênicos tornam-se facilitados e o confinamento dos peixes favorece ainda mais o parasitismo. Assim, o estudo de parasitas de peixes é um campo de crescente interesse em virtude da expansão mundial da piscicultura. Entre os milhares de espécies que parasitam peixes destacam-se as dos grupos de protozoários e helmintos diversos. Metynnis maculatus é uma espécie de peixe da família Characidae, conhecida como “pacu”, com distribuição nas bacias amazônica, Araguaia-Tocantins, Prata e São Francisco; habita água doce, preferencialmente em salinidade entre 0 e 10‰, com temperatura variando de 20o a 30oC; tem importância tanto para a pesca quanto para o cultivo. No presente estudo pretendemos comprovar, através da microscopia óptica, a presença de parasitas em espécimes de pacu; avaliar a prevalência de parasitismo nesses espécimes; verificar quais os órgãos do hospedeiro mais freqüentemente atacados; verificar o(s) grupo(s) de parasita em cada órgão.
METODOLOGIA:
As capturas de M. maculatus foram realizadas no Município de Peixe-Boi, Estado do Pará, sendo obtidos 30 indivíduos, os quais foram transportados em baldes com aeração até o Laboratório de Histologia de Animais Aquáticos, do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará. Uma vez no laboratório, procedeu-se o exame da superfície externa, cavidade branquial e demais órgãos do hospedeiro (através de uma incisão longitudinal sobre a linha mediano-ventral, desde as nadadeiras peitorais até o ânus). A exposição dos órgãos permitiu que os mesmos fossem analisados através de observações em microscópio estereoscópico. Os cistos encontrados nos órgãos do hospedeiro foram retirados e examinados entre lâmina e lamínula para verificar se eram realmente cistos de parasitas ou formações gordurosas. Essa observação foi feita através de microscópio óptico. As amostras de órgãos parasitados foram fixadas em Formol a 10% e mistura fixadora de Davidson (em partes iguais) por 24 horas. A seguir foram desidratadas com álcool em solução crescente: 70%, 80%, 90%, 95%, álcool absoluto I e álcool absoluto II, uma hora cada. Foram diafanizadas em Benzol por duas horas. Em seguida, as amostras sofreram impregnação pela parafina a 60oC por 20 minutos e foram incluídas em parafina. Depois foram feitos os cortes, com espessura variando entre 5 e 7 µm e coradas com Hematoxilina e Eosina.
RESULTADOS:
Os parasitas detectados pertencem a dois grupos taxonômicos distintos: a) Myxosporea: protozoários que formam esporos encistados nos tecidos dos hospedeiros, variando em tamanho, desde menos de um milímetro até mais de um centímetro. Tais cistos são encontrados dentro e sobre as brânquias, na pele e no interior de órgãos internos, tais como músculos, fígado, baço e parede intestinal. Os cistos subcutâneos, algumas vezes, causam deformações que podem ser observadas a olho nu; b) Monogenea: classe de platelmintos ectoparasitas, hermafroditas e que têm ciclo de vida direto. Em peixes, habitam as brânquias, pele e fossas nasais. A característica mais usual para reconhecer os indivíduos do grupo é o órgão de fixação situado na extremidade posterior (haptor). A extremidade anterior dos monogenéticos pode também fixá-lo ao tecido do hospedeiro por meio de lóbulos cefálicos e glândulas de cimento ou por meio de uma ventosa oral. Este complexo de artifícios anteriores para fixação tem sido, algumas vezes, chamado de prohaptor. A análise revelou que 27 dos 30 espécimes (ou 90%) estavam parasitados, sendo que 16,6% por Myxosporea, 60% por Monogenea e 13,3% por Myxosporea e Monogenea simultaneamente. Foram examinados 18 hospedeiros fêmeas e 12 hospedeiros machos, entre os quais havia 13 fêmeas (72,2%) e 11 machos (91,6%) parasitados. As brânquias e os rins foram os órgãos mais freqüentemente encontrados parasitados, tanto por Myxosporídeos quanto por Monogenóides.
CONCLUSÕES:
Trabalhos anteriores sugerem que os protozoários da classe Myxosporidea, especialmente as espécies dos gêneros Myxobolus e Henneguya, estão entre os mais comuns parasitas de peixes. Apesar disso, a prevalência encontrada em nosso estudo não chegou a ser muito elevada. Esses protozoários causam a deformação e alteração do comportamento do peixe. A invasão desses parasitas provoca uma reação inflamatória no hospedeiro que, em alguns casos, pode tornar a morte do peixe inevitável. Os monogêneos são principalmente parasitas de peixes de peixes, embora anfíbios, répteis e moluscos cefalópodos também sirvam de hospedeiros. A maioria é encontrada como ectoparasita, mas alguns migraram para o interior de câmaras do corpo com aberturas externas, tais como a boca, as brânquias e câmaras urogenitais. A maioria dos monogenéticos, encontrados nos espécimes de pacu que estudamos, ataca superficialmente o epitélio branquial. Eles induzem uma excessiva produção de muco pelos filamentos branquiais. Aparentemente, alimentam-se deste muco e a presença irritativa do haptor combinada com as secreções das glândulas cefálicas pode estimular ainda mais a produção de muco. Os filamentos branquiais, cobertos pelo muco, têm assim reduzida a sua capacidade respiratória. Desta forma, o peixe que parece tolerar grandes infestações pode morrer repentinamente quando o nível de oxigênio cai levemente.
Palavras-chave:  Ictioparasitologia; Myxosporea; Monogenea.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005