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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
A VIDA ADOLESCENTE - UM OLHAR ATRAVÉS DA DANÇA
Sueli Salva 1 (susalva@cpovo.net)
(1. UFRGS)
INTRODUÇÃO:
Este trabalho apresenta resultados da pesquisa que teve como objetivo investigar as significações relativas a dança, construídas por meninos e meninas adolescentes estudantes de uma escola da Rede Pública Municipal de Porto Alegre. Esses adolescentes participavam de um projeto de dança oferecido de forma extra-curricular. A pesquisa buscou saber se essas significações apontavam indícios de (re)significação do espaço escolar, possibilitou ainda a realização de uma análise reflexiva acerca do espaço escolar e da corporeidade, isto é, o próprio ser - sujeito - adolescente - aluno, que constroe cotidianamente novos modos de ser na escola. Os sujeitos da pesquisa foram meninos e meninas na fase dos onze aos dezesseis anos que fizeram o seu itinerário entre dois modos de ser na escola. Aquele construído por eles e aquele desejado por nós, professores; entre um mundo adolescente ‘produzido’ pela teoria da modernidade e um mundo adolescente possível de ser vivido por eles; entre os valores do meio social em relação à dança e os seus próprios valores. Esses sujeitos pareciam reivindicar o direito de se expressar com liberdade e de usufruir, com mais dinamismo, o espaço e o tempo escolar que eles tinham direito. A pesquisa também envolveu o corpo docente e os familiares dos alunos.
METODOLOGIA:
Para realizar essa pesquisa foi utilizada a metodologia do ‘tipo etnográfico’. Os recursos utilizados para isso foram a entrevista semi-estruturada, a observação e registro no diário de campo e diálogos em grupo. Esse recurso metodológico permitiu a utilização de instrumentos variados para a produção de dados. A escolha deu-se também em virtude do contato direto e prolongado com os sujeitos e com a realidade pesquisada, variando a intensidade desse contato e analisando permanentemente os prós e contras das opções feitas. Foi possível também a obtenção de uma grande quantidade de dados descritivos, utilizando a observação participante, com o objetivo de acumular descrição das relações, fatos, ações, ‘jeitos’ e modos de vida. Dessa forma foi possível estruturar o quadro figurativo da realidade estudada e análises do contexto.
RESULTADOS:
Ao finalizar este trabalho foi possível perceber que: para os alunos, mais importante do que a dança, foi a possibilidade de conviver com o grupo. Houve a construção de uma nova identidade, além da identidade de aluno. A corporeidade adolescente expressou a oposição entre o tempo interno e o tempo social. A dança tornou explicito o preconceito em relação a essa arte. Foi possível (re)significar o espaço escolar à medida que se (re)significou a presença de quem constituía o espaço escolar. A vida adolescente é constituída de polaridades - se por um lado eles buscam autonomia, por outro eles desejam controle e proteção. Os adolescentes constroem “territórios simbólicos” para conviver com seus pares, em geral, próximos da casa ou da escola. Os meninos - vivem a “moratória social”, porém sem poder dela usufruir, pois desejariam estar trabalhando. Não trabalhar significa ‘vagabundear’. As meninas vivem uma condição de adultas, porém não são tratadas como adultas. Sua permanência no grupo é curta e quando elas se afastam, normalmente, é para trabalhar como babá, ou então assumir a casa para a mãe poder trabalhar. As meninas parecem não ter uma condição ‘juvenil’. Elas não vivem a “moratória”, pois o trabalho as envolve desde muito cedo.
CONCLUSÕES:
Desse trabalho é possível concluir que a dança pode ter múltiplas significações como: expressão, gesto, movimento, espetáculo, diversão, controle, aprendizagem, preconceito. Para os alunos ela é movimento, alegria, motivo de união, agregação, aprendizagem. Para os pais ela pode ser uma forma de proteger os filhos ou uma forma de distração. Para os professores ela pode ser instrumento de controle, pode ser arte em si, pode ser criatividade. Enfim, a dança é o espaço escolar e (re)significar é dar um novo sentido ao que está colocado. Sendo a dança o próprio espaço escolar ela pode (re)significá-lo, porque produz novos significados, e estes são produzidos à medida em que alguém interfere em um determinado contexto. Através da dança e no contato com os alunos é possível refletir sobre as trajetórias dos sujeitos no espaço escolar, uma vez que essas são construídas por tudo que lhes é possível ter acesso. Entretanto, é necessário admitir que incluir a dança na escola não é uma tarefa simples, modificar o espaço escolar tampouco, mas pode-se refletir sobre isso e buscar aliados para que se construa, em conjunto, a escola que se deseja.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  escola; dança; adolescência.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005