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D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 4. Saúde Pública
ACIDENTES DE TRABALHO: EXISTEM CULPADOS?
Ingrid Bezerra Costa 1 (ingridbezerra@bol.com.br), Ana Patrícia Pereira Morais 2 e Cíntia Florêncio Alves 2
(1. Depto. de Serviço Social, Universidade Estadual do Ceará - UECE; 2. Depto. de Ciências da Saude, Universidade Estadual do Ceará - UECE)
INTRODUÇÃO:
O presente estudo realizado com o fomento do programa IC/UECE, é um recorte da pesquisa “Saúde Mental e Trabalho: um estudo de caso com trabalhadores de industria metalmecânica”, que tem como objetivo analisar o processo do trabalho em linha de produção e suas repercussões na saúde mental dos trabalhadores metalúrgicos. No presente trabalho objetivamos analisar a partir da concepção do trabalhador de uma industria metalmecânica a origem de acidentes em decorrência de sua atividade laboral. Destacamos que no Brasil predomina a concepção de que o acidente é a expressão máxima do fracasso das estratégias de resistência adotadas pelos trabalhadores. É importante ressaltar, que os acidentes de trabalho possuem múltiplas faces já que concomitantemente a sua ocorrência revela-se os dramas existencial, técnico e jurídico na busca de suas causas. Segundo dados do INSS, em 2000 ocorreram 343.996 acidentes de trabalho, destes 3.094 foram fatais.
METODOLOGIA:
Trata-se de estudo transversal de natureza quantitativa, onde a amostra foi composta por 241 trabalhadores da linha de produção de uma industria metalmecânica de grande porte localizada em dos municípios da Região Metropolitana de Fortaleza. A coleta de dados apreciados por este estudo ocorreu nos meses de janeiro e fevereiro de 2005. Fizemos ainda, durante todo o ano de 2004, visitas a indústria para aproximação com o campo. Foram utilizados questionários semi-estruturados, observação direta e anotações constantes em diário de campo. A participação dos sujeitos da pesquisa foi voluntária e os resultados foram tratados com total confidenciabilidade em respeito aos preceitos éticos da pesquisa com seres humanos. Os dados foram analisados a luz da estatística inferencial.
RESULTADOS:
Foram entrevistados trabalhadores entre 17 e 58 anos de idade, onde 47% são solteiros e 96% do sexo masculino. Em relação a escolaridade 2,5% dos entrevistados apenas lêem e escrevem o próprio nome, 52,7% possuem ensino médio ou curso técnico completo e apenas 0,8% têm ensino superior completo. Dos entrevistados 42% possuem até cinco anos de trabalho em industria metalúrgica, 5,8% possuem até um mês de trabalho e 2,9% trabalham há mais de 20 anos no ramo metalúrgico. Dos entrevistados 38% consideram-se culpados pelos acidentes ocorridos no âmbito do trabalho, segundo eles os acidentes ocorrem por falta de atenção, negligencia e imprudência do trabalhador.
CONCLUSÕES:
Os achados estatísticos e as informações complementares nos permitem inferir que existe uma tendência acentuada do trabalhador identificar-se como culpado pela ocorrência do acidente. O operário vive o híbrido de ser vítima e vilão no acidente de trabalho. Dessa forma, concluímos que a tendência de culpabilizar a vítima pelos acidentes de trabalhos pode ser um modo manter os operários silenciados quanto às condições de trabalho, manter a impunidade e desobrigar o empregador de sua responsabilidade mediante ao acidente.
Instituição de fomento: Programa de Iniciação Científica da UECE
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Acidentes de trabalho; Saúde do Trabalhador; Trabalhador Metalúrgico.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005