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A. Ciências Exatas e da Terra - 6. Geociências - 3. Geografia Física
ESTUDO COMPARATIVO DOS FATORES GEOECOLÓGICOS DO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO MAR, NÚCLEO PICINGUABA E DO PARQUE ESTADUAL DA ILHA ANCHIETA - SÃO PAULO.
Kelly Cristina Melo 1 (kellycmelo@yahoo.com.br), Nádia Gilma Beserra Lima 1, Diego Emanuel Campos Oliveira 1, Silvio Fernandes Villar 1, Sueli Ângelo Furlan 1, Andressa Machado 1 e Linda Kubota 1
(1. Departamento de Geografia - USP)
INTRODUÇÃO:
As Matas Atlânticas são compostas por uma série de tipologias, que constituem um mosaico vegetacional, com gradativos níveis de endemismo. O litoral norte do Estado de São Paulo abriga grande parte dos remanescentes de Matas Atlânticas existentes que, muitas vezes, localizam-se dentro de Unidades de Conservação. Tendo em vista a biodiversidade das Matas Atlânticas levantou-se a questão da fragilidade de ambientes em áreas reduzidas. Assim, foi proposta a comparação de dois ambientes próximos, pertencentes ao mesmo domínio natural, mas que apresentam condições diferenciadas em relação ao seu isolamento: o Parque Estadual da Ilha Anchieta e o Núcleo Picinguaba, do Parque Estadual da Serra do Mar.
O estudo partiu da caracterização física de condicionantes da vegetação, levando em consideração a presença da Serra do Mar e o posicionamento de suas escarpas, fator determinante para a ocorrência das florestas, fazendo com que regimes de ventos, salinidade e precipitação influenciem nas características das mesmas. Mapeou-se a disposição espacial das espécies bioindicadoras nas duas áreas, com objetivo de registrar a ocorrência de espécies endêmicas e exóticas, destacando suas particularidades e semelhanças, levando em consideração a relação existente entre a vegetação, os fatores climáticos, geomorfológicos e pedológicos, assim como a análise da alteração nas duas Unidades de Conservação, visando alternativas para recuperação.
METODOLOGIA:
Além da bibliografia, o apoio metodológico partiu do levantamento fitossociológico, que consistiu na escolha de uma área e na distribuição aleatória de um certo número de pontos de amostragem. Utilizou-se em cada área escolhida um transecto de 100m com 10 pontos de amostragem eqüidistantes. Em cada ponto estabeleceu-se de modo aleatório quatro quadrantes por meio da técnica dos Quadrantes Centrados. O limite inferior do perímetro (PAP-10 cm) foi escolhido com base no estrato mais baixo que se desejava incluir na amostragem. As árvores mortas foram levadas em consideração e os pontos localizados em áreas que não representavam a vegetação, como, por exemplo, os pontos localizados em clareiras no interior da mata, foram excluídos. As espécies foram identificadas e os dados coletados foram utilizados para o cálculo dos valores relativos de riqueza, dominância (índice de Simpson) e diversidade Alfa (índice de Shannon-Weaver). No Núcleo Picinguaba optou-se por uma área na margem esquerda do Rio Fazenda, enquanto que na Ilha Anchieta a área escolhida foi um trecho da Trilha da Praia Sul.
RESULTADOS:
No levantamento fitossociológico foram amostrados 61 indivíduos (51 vivos e 10 mortos) pertencentes a 14 famílias e 17 espécies arbustivas-arbóreas. No Núcleo Picinguaba foram amostrados 31 indivíduos, pertencentes a 14 famílias, entre as quais destacam-se: Leguminosae, Myrtaceae e Melastomataceae. Na Ilha Anchieta foram encontrados 30 indivíduos pertencentes a 8 famílias, com Leguminosae, Euphorbiaceae e Sapindaceae presentes na maioria dos pontos.
A vegetação da Trilha da Praia Sul apresenta fisionomia característica de áreas que sofreram fortes alterações. As clareiras criadas há mais de 40 anos, hoje em recuperação, estão sendo ocupadas pela vegetação arbórea secundária em diferentes estádios sucessionais. No decorrer da trilha verificou-se a presença de muitos indivíduos exóticos àquela área, espécies que foram introduzidas no ambiente insular e que ali se adaptaram.Constatou-se que o Núcleo Picinguaba não só apresentou maior riqueza de espécies em relação à área amostrada na Ilha Anchieta como também destacou-se por uma maior distribuição do número de espécies entre as famílias. Foi observado que a Ilha destaca-se quanto a Dominância devido ao fato de ocorrer um menor número de espécies concentradas em um menor número de famílias. Com os parâmetros calculados foi possível chegar ao índice de Similaridade (grau de semelhança) entre comunidades biológicas das duas áreas, que no presente estudo representou uma baixa similaridade.
CONCLUSÕES:
A vegetação é um dos indicadores mais importantes das condições ambientais, pois resulta da interação entre os demais componentes do meio no tempo e no espaço. Sua estabilidade no espaço permite identificar unidades cuja fisionomia e composição florística correspondem a condições ecológicas homogêneas.
Analisando os dados levantados constatou-se alterações na cobertura vegetal tanto na Ilha Anchieta quanto em Picinguaba devido às inúmeras fases de ocupação ocorridas em ambas, resultando na substituição de matas primárias por secundárias e na introdução de exemplares de espécies exóticas.
Diante da complexidade de uma floresta tropical, a área de estudo e amostragem foram pequenas, permitindo a identificação de um pequeno número de famílias e espécies. A constatação de endemismo nas áreas estudadas ficou comprometida, pois os dados colhidos foram insuficientes para tal atestação. Entre as espécies que apresentaram maior freqüência, houve o predomínio das seguintes famílias: Leguminosae-Papilionoidaea, Euphorbiaceae, Melastomataceae, Sapindaceae e Myrtaceae.
Palavras-chave:  Fatores Geoecológicos; Biogeografia; Unidade de Conservação.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005