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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho
A IDENTIDADE DE TRABALHADORES EM EXPERIÊNCIA AUTOGESTIONÁRIA:
UMA RUPTURA VISÍVEL
Tarcísio Augusto Alves da Silva 1 (deescada@yahoo.com.br)
(1. Faculdades da Escada - FAESC)
INTRODUÇÃO:
A conjuntura mundial após a ofensiva neoliberal dos anos 80 colocou na ordem do dia a reestruturação produtiva como resposta à crise cíclica do capitalismo. A reboque de novas tecnologias então instauradas formas de gerir as empresas a partir de uma pseudoparticipação dos trabalhadores, pautadas na experiência japonesa, presenciamos as altas taxas de desemprego que atingiram o Brasil, principalmente na década de 90. A reestruturação produtiva afetou o sindicalismo brasileiro com grande força neste momento fazendo com que vários sindicatos assumissem uma postura não conflitiva em relação ao capital. Por outro lado, frente ao fechamento de diversas empresas os trabalhadores têm reinvidicado a massa falida através de lutas isoladas na tentativa de viabilizá-la através da autogestão. Uma das experiências em andamento tem sido a da Cia. Agrícola Harmonia (antiga Usina Catende) em Pernambuco, no ramo da agroindústria canavieira, que conta com mais de 2000 trabalhadores que se tornaram acionistas da empresa após o afastamento dos antigos proprietários. Neste sentindo, são objetivos do trabalho: a) compreender a crise identitária que se instaura no processo de autogestão em relação ao trabalhador rural; b) analisar a complexa relação entre sindicatos e acionistas levando em conta a multiplicidade de papéis e interesses a serem considerados, sejam elas: a identidade de trabalhador, patrão de si mesmo e empreendedor. A pesquisa justifica-se pela atualidade do debate em torno da autogestão que vem sendo visibilizada por meio das estratégias de Economia Solidária.
METODOLOGIA:
A área geográfica na qual nosso objeto de estudo se insere compreende a Zona da Mata Sul pernambucana, especificamente, a zona da mata meridional, onde está localizada a usina Catende, com sede na cidade de mesmo nome. A coleta de dados foi realizada através de entrevistas com os dirigentes sindicais, funcionários, assessor e trabalhadores associados, considerados em sua relação orgânica com os sindicatos. A escolha dos trabalhadores rurais entrevistados s deu-se de maneira aleatória, ou seja, foram entrevistados aqueles que compareceram ao sindicato nos vários momentos de visitação do pesquisador. Foram entrevistados 15 sindicalistas, 01 assessor, 03 funcionários e 07 trabalhadores rurais, sendo 02 aposentados e 05 trabalhadores da ativa, residentes na usina. O instrumento de coleta utilizado foi a entrevista guiada. Os dados secundários constaram de análises das atas de assembléias, noticiários da empresa escrita do estado de Pernambuco e relatórios das entidades.
RESULTADOS:
As relações entre o movimento sindical e a autogestão têm sido palco de acirrados debates que vão desde as críticas ao posicionamento de uma postura sindical que tem esboçado estratégias de convivência com o capital até a crise de identidade que tem se instaurado no âmbito das relações que se estabelecem entre os sindicatos e as empresas autogestionárias. Ao que concerne à convivência entre capital e trabalho, o sindicalismo vem elaborando tais ações, buscando atenuar os impactos de formas de organização social da produção visualizadas no desemprego, precarização e subcontratação da mão-de-obra. Na relação entre sindicatos e cooperados, existe uma multiplicidade de papéis e interesses a serem considerados, sejam eles: a identidade de trabalhador, patrão de si mesmo e empreendedor. Essa complexidade se amplia ante a multiplicidade de relações quando considerados casos específicos. Por exemplo, em Catende o trabalhador ainda continua sendo trabalhador, possui cotas de participação na Cia. Agrícola Harmonia e é também fornecedor de cana para a usina através do programa Cana de morador, criado pela atual gestão. A identidade é um elemento a ser considerado na dinâmica da experiência autogestionária se compreendermos que o grau de politização dos componentes tem repercussão sobre seu entendimento e engajamento na empresa visto que a condição para implementação e viabilidade do empreendimento só ocorrerá mediante o sentido conferido a participação dos indivíduos.
CONCLUSÕES:
A constituição de uma empresa administrada por trabalhadores gravita na órbita de vários desafios. Talvez o principal deles esteja na necessidade de mudança de percepção do papel do trabalhador dentro de uma nova condição que se materializa sob seus olhos, condição esta que implica numa participação ativa nos processos decisórios sobre os encaminhamentos necessários ao bom andamento do empreendimento. A pesquisa evidenciou uma crise de identidade entre os trabalhadores rurais e representantes sindicais. Nos depoimentos desses, se observou uma incompreensão do papel desse trabalhador dentro da empresa, ou seja, a concepção sobre a especificidade da experiência de gestão da empresa pelos sindicalistas desenvolve-se sem uma unidade sobre o papel do trabalhador e do sindicato em relação à identidade destas categorias dentro desta nova realidade. O resultado disso são as insatisfações que começam a tomar visibilidade e a comprometer o projeto. Por outro lado, cientes dessas dificuldades a organização dos trabalhadores na usina tem buscado instrumentos que favoreçam a desconstrução de alguns estigmas, favorecendo um processo de ressignificação do papel do trabalhador rural na usina. São exemplos disso a transformação da casa-grande e do chalé que hoje servem de centro de formação dos trabalhadores, Esta ação de ressignificação dos espaços na usina é uma estratégia utilizada para trazer o trabalhador à participação, uma vez que ele começa a perceber aquele espaço não pelo sentido de repulsão e exploração de seu trabalho, como historicamente aconteceu.
Instituição de fomento: CAPES
Palavras-chave:  Sindicalismo Rural; Autogestão; Identidade.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005