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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 6. Educação Especial
ANÁLISE DA PRODUÇÃO TEXTUAL DE ALUNOS SURDOS ATRAVÉS DE ATIVIDADES MEDIADAS NO COMPUTADOR
Ligiane de Castro Lopes 1 (lilopes2001@yahoo.com.br) e Vanda Magalhães Leitão 1, 2
(1. Programa de Pós-Graduação em Educação, UFC; 2. Departamento de Estudos Especializados, Faculdade de Educação, UFC)
INTRODUÇÃO:
A maioria dos alunos surdos sente dificuldade no manejo da língua escrita portuguesa. Estas não se devem apenas à capacidade ou não desses alunos, mas ao modo como a língua portuguesa vem sendo trabalhada: de maneira fragmentada e descontextualizada. Essas dificuldades são naturais, uma vez que esses alunos estão lidando com uma língua da qual não têm domínio e que difere da sua língua natural, a língua de sinais. Muitos professores não avaliam que esses erros acontecem porque a língua de sinais tem uma estrutura gramatical diferente da língua portuguesa. Outros desconhecem a especificidade destes alunos, ou estão imbuídos de preconceitos sobre sua capacidade para aprender, em função do seu déficit sensorial. Tanto o despreparo quanto o preconceito influenciam o processo de ensino-aprendizagem, tornando-o pouco significativo. Se os surdos têm dificuldades no emprego do Português, por outro lado, também muitos professores não descobriram a melhor forma de ensiná-los esta língua. O objetivo geral desta pesquisa é analisar a produção textual de dois surdos a partir de atividades propostas no computador. Nos objetivos específicos pretende-se: trabalhar com softwares que explorem a imagem e favoreçam a produção textual, relacionar o desempenho lingüístico com as experiências que esses sujeitos tiveram com a língua portuguesa. Sua relevância está na discussão de um tema ignorado por muitos, e na metodologia adotada para explorar a língua escrita com estes surdos.
METODOLOGIA:
O público alvo dessa pesquisa inclui uma surda de 22 anos, oralizada e com pouco conhecimento da língua de sinais e um surdo de 35 anos, não oralizado e com um bom domínio da língua de sinais. Os sujeitos em questão participaram de sessões em um laboratório de Informática, no qual o computador foi utilizado como suporte para a elaboração e realização de atividades voltadas para a produção textual. Nas primeiras sessões, ao todo oito, os sujeitos tinham que elaborar frases ou dar continuidade a frases a partir de figuras, criar pequenos textos obedecendo a uma seqüência de figuras, relacionar pequenos textos com figuras correspondentes. Em um segundo momento, no qual foram realizadas mais oito sessões, escolheu-se um software de histórias em quadrinhos propício para a produção textual. A partir do software, os sujeitos puderam criar espontaneamente cenários ilustrados e, em seguida, elaborar textos escritos que correspondessem aos mesmos. O desempenho lingüístico dos dois alunos foi observado durante a realização das atividades e registrado em um diário de campo. Os textos produzidos por eles também foram salvos para a análise posterior.
RESULTADOS:
Os resultados revelaram diferenças no desempenho lingüístico dos dois sujeitos. No caso da surda que recebeu o nome fictício de Charlene, os erros cometidos se referem principalmente ao emprego dos verbos, preposições e conjunções, não chegando a prejudicar a compreensão dos seus enunciados. Apresenta um domínio razoável do vocabulário, das classes gramaticais e da sintaxe. Conseqüentemente, escreve de maneira autônoma, recorrendo a vários desses elementos o que torna suas frases mais condizentes à estrutura do Português. Seus textos, todavia, são geralmente sucintos, sem muitos detalhes e fluidez. Com relação ao surdo, que chamamos de Wagner, a produção textual revelou-se uma tarefa árdua, devido ao vocabulário restrito e ao desconhecimento da estrutura sintática do Português. Quando Wagner era solicitado a escrever a partir das imagens, se atinha na descrição e narração das figuras na língua de sinais, mas na hora de escrever o que tinha narrado, esbarrava no desconhecimento das palavras. Seus erros mais comuns foram os de ortografia, demonstrando sempre insegurança quanto à escrita dos vocábulos. Já os enunciados, apresentaram uma linguagem truncada, ao invés do encadeamento fluido das palavras. Outro resultado muito interessante foi a relação que este aluno estabeleceu entre o contexto das figuras e suas próprias experiências, pois ao narrar o contexto das figuras, trazia muitos fatos que tinham acontecido na sua vida ou dos quais tinha conhecimento.
CONCLUSÕES:
Conclui-se que as diferenças entre os dois sujeitos estão relacionadas ao acúmulo de experiências que cada um teve com a língua portuguesa. No caso de Charlene, estas foram bem mais numerosas e significativas do que para Wagner que começou a estudar somente depois de adulto. Por esta razão, Charlene já está mais familiarizada com a língua portuguesa, enquanto Wagner desconhece a maioria de seus elementos. Graças à análise da produção textual dos dois surdos, foi possível diagnosticar suas principais dificuldades e o nível de conhecimento que têm do Português. No que se refere a Wagner, a produção de textos não foi fácil mesmo com o apoio visual. O maior obstáculo foi o vocabulário restrito que impedia a continuidade dos textos. Por outro lado, as mesmas atividades puderam desafiar Charlene e serem realizadas de maneira autônoma. Averiguou-se que com relação a esta surda, as atividades puderam incrementar sua produção textual. Já para Wagner, faz-se necessário trabalhar primeiramente habilidades mais básicas como o vocabulário e as classes das palavras. Com relação à utilização do apoio visual, como as figuras e o software de histórias em quadrinhos, verificou-se que foi um elemento capaz de despertar a motivação para escrever, bem como estabelecer uma maior proximidade com o cotidiano dos sujeitos, permitindo a ambos extrapolar o contexto das imagens apresentadas e recorrer às suas próprias imagens e experiências.
Instituição de fomento: CAPES
Palavras-chave:  surdez; linguagem; imagem.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005