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D. Ciências da Saúde - 2. Medicina - 5. Psiquiatria | ||
ANÁLISE SAZONAL DA DISTRIBUIÇÃO DE NASCIMENTOS DE PACIENTES COM ESQUIZOFRENIA NO CEARÁ, | ||
Erick Leite Maia de Messias 1, 2, 3 (emessias@hotmail.com), Carine Mourão Melo 3, Luciana Alves Ribeiro 3 e João Paulo Queiroz 3 | ||
(1. Centro de Estudos, Hospital de Saude Mental de Messejana - HSMM; 2. Centro de Ciências da Saúde, Universidade Estatual do Ceará - UECE; 3. Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Ceará - UFC) | ||
INTRODUÇÃO:
A identificação de fatores de risco é importante na busca pela etiologia e no desenvolvimento de intervenções preventivas e curativas das doenças. Os transtornos mentais graves são responsáveis por um crescente percentual da carga total das doenças nas populações humanas. Dentre esses transtornos se destaca a esquizofrenia, afetando 1% da humanidade e causando sofrimento em pacientes e familiares, sendo um desafio para a ciência. A epidemiologia é uma ferramenta importante na investigação das doenças e transtornos que acometem a comunidade. Nessa pespectiva, a epidemiologia psiquiátrica tem contribuido para o avanço no conhecimento sobre os transtornos mentais. Desde o começo do século XX há relatos de uma sazonalidade na distribuição de nascimentos daqueles que desenvolvem esquizofrenia. Esse padrão é bem descrito no hemisfério norte, onde o pico de nascimentos se dá nos últimos meses do inverno. Apesar de poucos, os estudos no hemisfério sul também apresentam uma sazonalidade significativa de nascimentos de esquizofrenicos no decorrer do ano. Em Mossoró, no Rio Grande do Norte, foi descrita uma sazonalidade de nascimentos de pessoas com o diagnóstico de esquizofrenia, sendo o período de maior risco aquele compreendido entre os meses de maio e junho. No presente estudo, analisamos a sazonalidade de nascimentos de pessoas admitidas com o diagnóstico de esquizofrenia no maior hospital psiquiátrico público do estado do Ceará. |
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METODOLOGIA:
Foi realizada uma revisão dos prontuários de pacientes admitidos com diagnóstico de esquizofrenia e outros transtornos psicóticos (n=1387). A partir dessa revisão foi construído um banco de dados epidemiológicos incluindo naturalidade, mês e ano de nascimento, ano e diagnóstico da primeira internação, número de internações subseqüentes e respectivos diagnóstico, sexo e estado civil, e subtipo de esquizofrenia, quando presente. Os dados foram analisados utilizando o programa Stata versão 7. Gráficos e curvas de tendência foram utilizados para representar a distribuição anual, teste de sazonalidade de Walter e Elwood, baseado em análise de harmônicas, foi utilizado na comparação entre grupos de pacientes com diferentes diagnósticos, e o odds ratio de nascimento do período de risco foi calculado. Nos testes estatísticos foram consideradas significantes as diferenças com um p < 0,05. |
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RESULTADOS:
Um total de 1175 foram incluídos na análise por apresentarem dados completos de diagnóstico e mês de nascimento. A curva de distribuição anual de nascimentos de pacientes com pelo menos um diagnóstico de esquizofrenia (n=459) apresenta um padrão de sazonalidade cuja curva de tendência obedece a uma regressão polinomial do segundo grau (R2=0,79). O teste de sazonalidade de Walter e Elwood, utilizando como comparação os pacientes que nunca tiveram um diagnóstico de esquizofrenia (n=716), demonstrou sazonalidade na distribuição de nascimento no decorrer do ano entre pacientes com história de diagnóstico de esquizofrenia (Qui-quadrado, com 2 graus de liberdade = 21,15; p<0,001). O período de maior risco para nascimento de pessoas com esquizofrenia foi identificado entre maio e julho. O odds ratio de nascimento nesse período do ano, entre estes grupos, foi de 1,44 (95% I.C. 1,11-1,86). |
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CONCLUSÕES:
Pessoas que receberam o diagnóstico de esquizofrenia possuem um padrão sazonal de distribuição de nascimentos diferente daquele esperado numa distribuição aleatória e diferente da distribuição apresentada por pacientes com transtorno psicótico não especificado. Essa diferença pode ser produto de variações sazonais ambientais, como flutuações na disponibilidade de nutrientes na dieta, aumento na incidencia de viroses, como influenza e parainfluenza, ou em sobrevivência seletiva de pacientes com esquizofrenia. As limitações do estudo incluem: uso de dados de prontuário, cuja confiabilidade pode ser baixa, falta de controle populacional, estratégia retrospectiva. Essas limitações no entanto, levam a um viés no sentido da não associação, o que reforça a possibilidade da existência do fenômeno. Esses resultados apontam para algumas conclusões: primeiro, que há algum fator flutuante no ambiente, que atua sobre o desenvolvimento embrionário do sistema nervoso, aumentando o risco de esquizofrenia; segundo, que o processo fisiopatologico da esquizofrenia tem início ainda na formação intra-uterina do indivíduo, e terceiro, que esse fator é específico para esquizofrenia não atuando nas psicoses não especificadas. A existência de fatores ambientais sazonais que influenciam no risco para desenvolvimento de esquizofrenia abre a possibilidade de intervenções preventivas populacionais, e informa sobre possíveis mecanismos etiológicos para esse grave transtorno mental. |
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Instituição de fomento: CNPq -FUNCAP | ||
Palavras-chave: Esquizofrenia; Epidemiologia; Sazonalidade. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |