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H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 7. Música e Dança
AMPLIANDO OS HORIZONTES DA CIDADANIA NA ESCOLA PÚBLICA ATRAVÉS DA ARTE DA DANÇA
Maria Fátima Balestrin 1, 2 (maria.balestrin@ig.com.br) e Divanir Eulália Naréssi Munhoz 3, 4, 5
(1. Mestranda em Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR - UEPG; 2. Especialista, Instituto de Psicologia - USP/SP; 3. Prof. Pesquisadora, Mestrado em Ciências Sociais Aplicadas e na Graduação em Serviço Social, UEPG/PR; 4. Mestre, PUC/RS; 5. Doutorado em Serviço Social, PUC/SP)
INTRODUÇÃO:
A cidadania, como modo de viver em sociedade, está calcada em três princípios básicos: participação, critica/criação e autonomia. A arte é uma forma de comunicação, de aprendizado e de manifestação humana e contribui para o desenvolvimento desses três princípios a partir da relação arte-educação-sociedade. A arte possibilita à criança conhecer os seus sentimentos e aprender a conviver com eles. Na arte a criança busca concretizar os sentimentos numa forma que a consciência capta de maneira mais abrangente do que no pensamento rotineiro, apreendendo o mundo sem a mediação parcial que se dá através de símbolos ou de conceitos já prontos. Conhecer o mundo através de conceitos já formulados é pensar nele; conhecer o mundo através da arte é senti-lo diretamente. O movimento, as expressões do corpo são um constitutivo próprio do homem, que muitas vezes nos expressam muito mais a dimensão de um sentimento, de uma realidade do que a própria verbalização deles. O objetivo desta pesquisa foi compreender como a arte da dança enquanto atividade extra-classe na escola pública, contribui para ampliação do exercício da cidadania de seus alunos. Trata-se, pois, de tema relevante, tendo em vista ser a escola a primeira instituição em nossa sociedade, além da família, a passar as noções do que são direitos e deveres e de exercitá-los; e a arte um instrumento privilegiado nessa apreensão e exercício.
METODOLOGIA:
A pesquisa foi qualitativa a partir da abordagem dialética, tendo como instrumentos de coleta de dados a observação participante e a entrevista semi-estruturada, gravada e transcrita na íntegra. Os sujeitos foram: sete crianças do sexo feminino, com idade entre nove e dez anos, participantes do grupo de danças do Colégio Estadual Professor Meneleu de Almeida Torres - Ensino Fundamental, Médio e Profissional do Município de Ponta Grossa- PR e uma orientadora Educacional do referido Colégio. O método de análise foi o Método Hermenêutico Dialético, no qual a fala dos sujeitos é situada em um contexto (sócio histórico) para melhor ser compreendida. Este método apresenta dois tipos de interpretação, o primeiro, entre outros aspectos, diz respeito à conjuntura sócio-econômica e política e ao contexto institucional onde se situam os sujeitos em que se situa o grupo estudado e, no segundo, são considerados os sujeitos singulares, as comunicações individuais, as condutas.
RESULTADOS:
Os resultados foram obtidos a partir dos princípios da cidadania: participação, critica/criação e autonomia. Quanto à participação, as apresentações das danças se constituem uma forma de participação que vai além do contexto escolar para a comunidade/sociedade. A participação está relacionada à comunicação não-verbal, possibilitando transmitir uma mensagem coreografada, retratando uma realidade social e despertando a auto-consciência e a consciência social do aluno. A autonomia foi perceptível nas falas das crianças, onde o eu foi substituído pelo nós, pois autonomia supõe a participação consciente na sociedade e não independência individual, mas um sujeito com um grau de conscientização capaz de interferir no social a fim de transformá-lo. A participação supõe crítica/criação, e a arte é fator de descoberta ao desenvolver a imaginação a as potencialidades de criar. O ato criador faz com que se transcenda a imediaticidade das coisas projetando o que ainda não existe. As crianças ao criarem sua coreografia (por exemplo, a realidade das crianças que vivem na rua) se deparam com a possibilidade não só de criar uma coreografia, mas de projetar nela uma realidade social que vai além do espaço escolar e que faz parte do cenário brasileiro. Ao passar a mensagem pela dança, há a reflexão do que é e de como poderia ser, percebendo o mundo por várias perspectivas. O pensamento criativo leva à ampliação da cidadania, pois o saber, o conhecer, são formas de cidadania.
CONCLUSÕES:
Assim, esta pesquisa levou à seguinte conclusão: ao abordarmos a questão histórica de um temo como cidadania, produzido no ideário liberal e constituído como um direito adquirido no plano jurídico, é necessário que se dê armas àqueles a quem ela se destina para que possam lutar conscientemente no processo de sua efetivação na prática. Nesse sentido, a escola é a instância privilegiada da formação de sujeitos conscientes da sua presença histórica e de sua importância na constituição de uma sociedade mais justa, mais humana, mais igualitária. É assim que passamos a pensar a arte dança como atividade extra-classe em uma escola pública (assim como outras formas de arte), contribuindo no processo educativo de seus alunos, ou seja, pensando esse processo sob diferentes prismas. Num sistema educacional voltado para o tecnicismo - com o objetivo de formar homens competitivos para um mercado de trabalho altamente seletivo e excludente -, a arte da dança, como atividade extra-classe, abre um leque de possibilidades para os alunos, na medida em que cria espaços livres de desenvolvimento das potencialidades individuais e coletivas, de pensar formas de participação em outros segmentos da sociedade, de vivenciarem e objetivarem seus sentimentos e visão de mundo e de perceberem que a realidade histórica na qual estão inseridos vai muito além do espaço da sala de aula.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Cidadania; Arte da Dança; Escola Pública.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005