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H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 1. Literatura Brasileira | ||
ÚRSULA E IDENTIDADES MASCULINAS DO SÉCULO XIX | ||
Renato Kerly Marques Silva 1 (renatokerly@yahoo.com.br), Conceição de Maria Corrêa Feitosa 1, Ellen Amêniten do Nascimento Pachêco 1 e Sandra Maria Nascimento Sousa 2 | ||
(1. Depto. de Letras, Universidade Federal do Maranhão - UFMA; 2. Depto. de Sociologia e Antropologia, Universidade Federal do Maranhão - UFMA) | ||
INTRODUÇÃO:
Este trabalho é uma análise do romance Úrsula, escrito por Maria Firmina dos Reis, romance romântico de 1859, redescoberto em 1959, por Horácio Almeida e considerado o primeiro romance de autoria feminina do Brasil. Relacionando Úrsula (romance não biográfico de autoria feminina), com a crítica realizada por Showalter, onde esta descreveu três fases da produção literária feminina, segundo ela, Úrsula estaria inserido na primeira fase, observando um período que vai de 1840 a 1960, chamada literatura ‘feminine’ “longa fase de imitação dos modos privilegiados pela tradição dominante, e internalização dos padrões de arte e pontos de vista das regras sociais”.(SHOWALTER, 1986). Segundo essa classificação, o romance “reduplica os valores patriarcais, construindo um universo onde a donzela frágil e desvalida é disputada pelo bom mocinho e pelo vilão da história” (XAVIER, 2004). Essa reprodução da dominação masculina não aparece apenas nesse momento e sim em todas as personagens femininas da obra, todas sofrem, comprimidas, no lugar que a sociedade lhes reservava, sustentando a passividade que lhes devia ser o comportamento de praxe. O homem descrito no romance também tem seus problemas, decorrentes, em sua maioria, da necessidade de reprodução das práticas patriarcais. É esse homem em crise, o foco deste trabalho. |
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METODOLOGIA:
Este romance foi analisado focalizando-se os tipos de personagens masculinos descritos no Romance Maranhense já citado. Foram observados os personagens masculinos descritos pela autora e o papel destes na narrativa, observando as relações de poder constituintes e constituídas pelas relações de gênero descritas na obra. Utilizando para isso o referencial teórico de XAVIER (2004); BADINTER (1992), entre outros. |
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RESULTADOS:
Em Úrsula, é evidente o conflito que se desdobra entre os dois principais perfis masculinos descritos na obra, um caracterizado pelo refinamento dos modos, retratando um tipo masculino ideal, que encontra seus representantes nas personagens Túlio e Tancredo, curiosamente um escravo e o outro branco e rico jovem, herói da história; em oposição a este homem idealizado, pensado por Maria Firmina, encontramos Fernando, tio de Úrsula e o pai de Tancredo, representantes legítimos do poder de opressão patriarcal. Destes quatro personagens masculinos o único que não disputa determinada mulher é Túlio, enquanto os outros, Tancredo, seu pai e Fernando de P., lutam incessantemente por uma mulher, parecendo ser este o bem mais almejado pelo homem romântico, uma mulher bela e prendada. Nesta luta os vilões Fernando e o pai de Tancredo aparecem em situações, que simbolizam uma disputa contra Tancredo, ilustrando a luta entre o homem rude e o homem suave. Embora represente esse homem ideal, Tancredo não nega uma possessividade similar à de Fernando sendo esse o grande problema desse homem do século XIX, que sente-se obrigado a provar constantemente sua masculinidade e tanta prová-la possuindo uma mulher. Esse homem idealizado, Tancredo, acaba morrendo assassinado por Fernando P., constatação da dificuldade que enfrenta o homem que se opõe, pelo menos em parte, a certas práticas patriarcais. |
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CONCLUSÕES:
Neste romance, escrito por uma mulher, mestiça e professora do interior da Província do Maranhão, em meados do século XIX, a autora, além de mostrar a realidade passiva da mulher maranhense desse momento histórico, sob a máscara de um romance feminino, fala de homens e de homens em crise. Com sensibilidade, a autora desvela, desconstrói seus personagens masculinos, mostrando suas fraquezas e sua constante luta consigo. Considera-se, no entanto, que o conflito entre o “homem suave” e o “homem rude” que poderia ser entendido como a idealização por uma sociedade não-patriarcal, trata apenas de uma oposição entre atitudes possíveis no próprio Patriarcalismo, já que essa ‘luta’ não oferece direitos às mulheres. Não importa qual parte saia vencedora, à mulher, o único papel reservado é o de esposa, mãe e dona de casa, submissa do ponto de vista moral e legal ao marido. |
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Palavras-chave: Literatura Feminina; Estudos de Gênero; Masculinidade. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |