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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social | ||
REFORMA CURRICULAR DO CURSO DE PSICOLOGIA: A EXPERIÊNCIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG) NOS ANOS 1970 E OS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS QUANTO À GESTÃO DO PROCESSO | ||
Aline de Araújo Gonçalves da Cunha 1 (alineagcunha@yahoo.com.br), Camilla Martins de Oliveira 1, Lívia Borges Hoffmann Dorna 1 e Heliana de Barros Conde Rodrigues 2 | ||
(1. Graduanda de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2. Professora Doutora do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro) | ||
INTRODUÇÃO:
No ano de 2004, os estudantes de psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) desencadearam um movimento em favor da ampla participação dos alunos, bem como dos demais segmentos universitários (professores e funcionários), no processo de reforma curricular. O movimento iniciou-se quando as instâncias dirigentes determinaram que a reforma seria conduzida por uma comissão, composta por alguns professores (chefe e sub-chefe de cada departamento) e dois representantes dos alunos, indicados pelo Centro Acadêmico. Cumpre lembrar que a reforma curricular dos cursos de psicologia é, hoje, uma exigência do Ministério da Educação, devido à aprovação, em 2004, após cinco anos de debates, das Diretrizes Curriculares nacionais. Tais circunstâncias nos convidam a trazer à luz um aspecto da pesquisa que vimos realizando sobre a história da Análise Institucional no Brasil, relativo à atuação, na década de 1970, do Setor de Psicologia Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Núcleo pioneiro, entre nós, quanto ao interesse pelo institucionalismo, o Setor recebeu, em 1972, a visita de Georges Lapassade, um dos criadores franceses do paradigma e ardente defensor da autogestão. Lapassade esteve em Belo Horizonte durante cerca de um mês, num momento em que a reforma universitária estava em implantação na UFMG. Na esteira de sua presença, em 1974, o curso de psicologia realizará sua reforma curricular, na qual a prática autogestionária terá grande relevo. |
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METODOLOGIA:
A fim de elaborar uma história da Análise Institucional no Brasil, temos recorrido a dois procedimentos metodológicos principais: a coleta de depoimentos na forma de “histórias orais de vida” e a pesquisa bibliográfica - esta, com ênfase tanto na especificidade do campo “psi” quanto nos fatores econômicos, políticos e socioculturais que caracterizam cada momento em análise. No aspecto que aqui focalizamos - o estudo do Setor de Psicologia Social da UFMG -, foram entrevistados quatro ex-integrantes do setor - Celio Garcia (professor e coordenador), Marília Mata Machado (professora), José Francisco da Silva e Esther Arantes (alunos) -, além de dois ex-estudantes da UFMG - Gilbert Lemos Gouveia e Eduardo Vasconcelos. Este último, particularmente, tendo ingressado na universidade na primeira metade da década de 1970 e participado do movimento do alunado que transformou os rumos da reforma curricular levada a cabo em 1974, nos pôde oferecer ricas memórias sobre todo o processo, com suas lutas e alternâncias. Cumpre frisar ainda que foi possível contar, em nossa investigação, com uma bibliografia historiográfica ou memorialística razoavelmente ampla, tanto sobre o curso de psicologia da UFMG, em geral, quanto acerca do Setor, em particular. Esta bibliografia vem sendo elaborada, nos últimos anos, por historiadores das práticas psicológicas no Brasil, muitos deles, por sinal, antigos membros do Setor. |
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RESULTADOS:
Em um período de repressão política, o Setor era um dos poucos espaços universitários do país em que se podia encontrar abertura à ação coletiva e ao pensamento crítico. Ao mercado, oferecia treinamento em dinâmica de grupo e comunidade terapêutica, intervenções psicossociológicas, pesquisas de opinião e atitudes. Promovia, com isso, a formação profissional de seus membros, aliada à preparação dos mesmos para o magistério.O funcionamento interno apoiava-se em seminários, cujos temas abarcavam alfabetização de adultos, saúde pública, análise do discurso, anti-psiquiatria etc. Quando da estada de Lapassade, integrantes do Setor estavam envolvidos, de forma reticente, com a implantação-piloto da reforma universitária em algumas unidades da UFMG. Os contatos com o institucionalista acabaram com as hesitações remanescentes: embora não apoiasse uma reforma decretada pelo governo militar, Lapassade nela percebia certos aspectos democratizantes (como a extinção da cátedra) e avaliava que uma ativa participação no processo facultaria a emergência de “acontecimentos analisadores”, aptos a desencadear uma análise institucional. Dois anos após a partida do institucionalista, os modos de ação por ele defendidos tiveram grande repercussão: a reformulação do curso de Psicologia se deu com base em um movimento autogestionário, que redundou em participação paritária de alunos e professores, repudiando qualquer reforma vinda de cima, que prescindisse de construção e análise coletivas. |
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CONCLUSÕES:
Muito se têm debatido as virtuais contribuições da História da Psicologia para a formação dos psicólogos brasileiros. Somente um acrítico continuísmo poderia pensar, neste sentido, em alguma evolução (noção biológica) ou progresso (noção moral) a guiar a trajetória dos saberes e práticas psicológicos. Alternativamente, em vertente genealógica, prefere-se falar em “história do presente”, ou seja, elaborada a partir de problemas atuais e capaz de oferecer, quanto aos mesmos, perspectivas desnaturalizadoras. É justamente nesta linha que se situa o presente trabalho. A reconstrução histórica do processo de reforma curricular ocorrido na UFMG em 1974, lançando luz sobre o modo autogestionário que o caracterizou, não busca linearidades nem modelos exemplares. Visa, isto sim, a promover o encontro com certa “linha solta” de história e memória, geralmente menosprezada pelas historiografias positivistas, voltada a desestabilizar, hoje, aqueles modos de pensar instituídos que só admitem, quanto a problemas de formação universitária, planejamentos centralizadores e gestões tecnocráticas. Em relação a este ponto, vale ressaltar, para concluir, que o coletivo da UFMG não apenas realizou sua reforma a contento, como foi capaz de incorporar, ao currículo do curso, disciplinas então raríssimas na formação dos psicólogos brasileiros (ou dela aprioristicamente expulsas), como Intervenção Psicossociológica, Psicolingüística, Psicologia da mulher, Psicologia Comunitária e Ecologia Humana etc. |
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Instituição de fomento: CNPq; UERJ | ||
Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: Reforma curricular; Análise Institucional; Autogestão. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |