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C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática
COMPOSIÇÃO DA COMUNIDADE DE CAMARÕES DE IGARAPÉS DA RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO TUPÉ, MANAUS, BRASIL (AMAZÔNIA CENTRAL).
Sandra Beltran-Pedreros 1 (beltranpedreros@hotmail.com), Luciene de Paula Ferreira 2, Alex Lee Araruna Mesquita 2, Deborah Pereira de Souza 2 e Marilene de Souza Rodriguez 2
(1. Profa., MSc. Coleção Didática Zoológica Paulo Bührnheim, Fac. de Biologia - CEULM-ULBRA; 2. Faculdade de Biologia - CEULM-ULBRA)
INTRODUÇÃO:
Dos camarões de água doce do Brasil, a superfamília Palaemonoidea possui duas famílias: Euryrhynchidae y Palaemonidae (Martin & Davis, 2001), sendo que da primeira três espécies estão distribuídas na Amazônia (Euryrhynchus amazoniensis, E. burchelli, E. wrzesniowskii) e da segunda, 13 espécies (Macrobrachium amazonicum, M. nattereri, Palaemonetes carteri, P. ivonicus, P. mercedae, Pseudopalaemon amazonensis, Ps. chryseus, Ps. gouldingi, Ps. nigramnis). Devido à sua importância para o consumo humano, bem como seu papel em comunidades aquáticas da Amazônia, as espécies de camarões de água doce merecem destaque como indicadores de funcionamento de ecossistemas. Os camarões, como os decápodes em geral, têm grande importância nos processos ecológicos dos ambientes aquáticos. Eles atuam em diferentes níveis na cadeia trófica desses ambientes, seja como herbívoros, predadores, necrófagos ou presas de outros grupos, sendo também encontradas no conteúdo estomacal de várias espécies de peixes da Amazônia (Goulding & Ferreira, 1984; Magalhães, 2000; Overal, 2001). Este trabalho teve o objetivo de apresentar os resultados de um estudo sobre a comunidade de camarões de igarapés da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Tupé, o qual abrange a composição específica, o cálculo comparativo da biomassa por espécie, por igarapé e por zona ecológica, além da relação sexual de cada espécie.
METODOLOGIA:
A comunidade de camarões de três igarapés da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Tupé, nas proximidades de Manaus-Brasil (Amazônia central), foi estudada de agosto de 2003 a setembro de 2004, por meio de coletas bimensais. Os igarapés foram divididos em três zonas ecológicas (foz, médio e alto) de 20 a 30m de comprimento cada. Em cada zona ecológica foram distribuídas dez armadilhas iscadas, totalizando 30 armadilhas por igarapé. As armadilhas ficaram expostas durante 24 horas com despescas ao final dos seguintes horários: 06:00–09:00; 09:00–13:00; 13:00–17:00; 17:00–20:00; 20:00–06:00. Os micro-habitats amostrados foram praia (fundo arenoso), barrancos marginais, serrapilheira submersa, vegetação aquática, vegetação marginal, pedral (amontoado de rochas e pedras no leito e margens dos corpos de água) e paulama (emaranhado de paus construídos por troncos e galhos mortos submersos ou expostos próximos à linha da água). Os camarões eram separados por zona, identificados, medidos, pesados e sexados. Calcularam-se a biomassa por espécie, horário de coleta, zona e igarapé, a proporção sexual número de fêmeas por macho (M:F), a diversidade de Shannon (H’) e riqueza em cada igarapé e zonas, o índice de ocorrência (C), considerando espécie constante para C≥50%, espécie acessória para 25%
RESULTADOS:
Macrobrachium nattereri foi constante no igarapé da Cachoeira (1007 indivíduos e 581,4g). Fêmeas mais abundantes que os machos (M:F=1:4,2). A proporção média imaturos por macho foi 1:1,4; mas no alto igarapé a proporção foi maior e inversa (2,3:1). Macrobrachium ferreirai foi constante na Terra Preta e acessória no Central (172 indivíduos e 205,8g). Fêmeas mais abundantes que os machos (M:F=1:1,7), proporções variando de 1:6,7 a 1:0,6. Macrobrachium inpa foi constante no Cachoeira e Central e acessória na Terra Preta (161 indivíduos e 166,5g). Fêmeas mais abundantes que os machos (1:3,3); com variação da proporção entre os igarapés de 1:2,8 a 1:5,6. Pseudopalaemon amazonensis foi constante na Cachoeira e no Central e acessória na Terra Preta (183 indivíduos e 28,7g). Euryhynchus amazoniensis foi acessória no Central e foram coletados 14 indivíduos (0,6g) no meio igarapé e durante a noite e no início da manhã.
Diversidades de Shannon (H’). Por igarapéi: Central (0,6), Terra Preta (0,4) e Cachoeira (0,1). Na foz: Cachoeira (0,8), Central (0,5) e Terra Preta (0,3). No médio: Central (0,5) e Cachoeira (0,1). No alto: Central (0,3), Terra Preta (0,4) e Cachoeira (0,2). Riqueza de espécies. Por igarapé: Central (4), Terra Preta e Cachoeira (3). Por zonas foi igual no igarapé Central (4) e na Terra Preta (3). No alto da Cachoeira 3 espécies; na foz e médio 2 espécies.
CONCLUSÕES:
Os dados indicaram uma marcada abundância de M. nattereri, mas esta espécie não foi coletada nos igarapés onde ocorre M. ferreirai, o que poderia indicar uma separação geográfica para evitar a competição, já que características como o tamanho corporal semelhante e as peças bucais adaptadas para explorar os mesmos tipos de alimento sugerem que estas espécies evitem ocupar os mesmos nichos.
Dados quantitativos e comparações da diversidade de crustáceos são poucas, em especial na Amazônia central. Nesta pesquisa foram encontradas cinco espécies de camarão, sugerindo que esta diversidade pode ser moderada, considerando os dados bibliográficos, porém representativa da diversidade e abundância dos sistemas de igarapés da região amazônica.
Dados bibliográficos indicam que a riqueza de espécies nas cabeceiras é menor. Porém os dados desta pesquisa indicam que no igarapé da Cachoeira a riqueza foi maior no alto igarapé, ainda que com baixo índice de diversidade.
Nos igarapés Central e da Terra Preta as diversidades foram similares nas três zonas ecológicas devido às características de igapó que perduram a maior parte do ano nestes igarapés, cujas bacias são mais baixas e ficam inundadas mais facilmente.
Instituição de fomento: FAPEAM, INPA
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  diversidade de crustáceos; Amazônia central; comunidades de camarão de igarapés.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005