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D. Ciências da Saúde - 2. Medicina - 8. Medicina
EFEITOS COMPORTAMENTAIS E NEUROQUÍMICOS DA CAFEÍNA EM RATOS SUBMETIDOS À LESÃO ESTRIATAL COM 6-OHDA.
Lissiana Magna Vasconcelos Aguiar 1 (lissianamagna@hotmail.com), Danielle Silveira Macêdo 1, Maria Izabel Gomes Silva 1, Aline de Albuquerque Oliveira 1, Jeferson Falcão do Amaral 1, Francisca Clea Florenço de Souza 1 e Glauce Socorro de Barros Viana 1
(1. Depto. de Fisiologia e Farmacologia, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Ceará - UFC)
INTRODUÇÃO:
A doença de Parkinson (DP) é uma patologia que envolve a degeneração dos neurônios dopaminérgicos da substancia negra. A crescente perda de dopamina causa a maior parte dos distúrbios motores associados a DP. O tratamento para a doença de Parkinson é apenas sintomático, porque até o presente momento não existem agentes capazes de inibir a degeneração neuronal. Estudos epidemiológicos mostraram que o consumo de café está relacionado a uma redução do risco de desenvolvimento de DP. Foi demonstrado que a cafeína, bem como os antagonistas mais específicos de receptores da adenosina são capazes de atenuar a neurotoxicidade e reverter os déficits motores em modelos experimentais de DP. Estudos recentes demonstraram efeito neuroprotetor da cafeína contra a toxicidade induzida pelo MPTP. Além disso existem evidências de que a cafeína poderia apresentar atividade antioxidante e assim reduzir o estresse oxidativo, implicado como sendo uma das causas primárias da DP. Antagonistas de receptores da adenosina, incluindo um não seletivo, como a cafeína, podem produzir menos efeitos colaterais do que os agentes antiparkinsonianos utilizados atualmente no tratamento da DP. O objetivo deste trabalho foi investigar os efeitos neuroprotetores da cafeína em um modelo animal de DP produzido pela injeção estereotáxica unilateral da neurotoxina 6-OHDA em corpo estriado de rato.
METODOLOGIA:
Ratos Wistar machos (200-250g) receberam injeção estereotáxica de 6-OHDA no corpo estriado direito. A cafeína foi administrada (10 e 20 mg/kg, i.p.) 1 hora após a lesão com 6-OHDA e depois diariamente por 14 dias. Os controles foram tratados com salina. Duas semanas depois foi observado o comportamento rotacional induzido por apomorfina (3 mg/kg, i.p.), o número de rotações completas em volta do próprio eixo foi observada durante 60 minutos. Os animais que não apresentaram pelo menos 100 rotações contralaterais durante 1 h do teste foram eliminados do estudo. Vinte e quatro horas depois do teste rotacional o corpo estriado foi removido para determinação de monoaminas (ng/mg de tecido ) em HPLC-EC. Para a análise das monoaminas, uma coluna CLC-ODS(M) com comprimento de 25 cm, da Shimadzu-Japão, foi utilizada. A fase móvel foi constituída de tampão ácido cítrico 0,163 M, pH 3,0, contendo ácido octanosulfônico sódico, 0,69 M (SOS), como reagente formador do par iônico, acetonitrila 4 % v/v e tetrahidrofurano 1,7 % v/v. Noradrenalina (NE), Dopamina (DA), Ácido diidroxifenilacético (DOPAC), Ácido homovanílico (HVA), Serotonina (5-HT) e Ácido 5-hidroxiindolacético (5-HIAA) foram eletronicamente detectados usando um detector amperométrico (Modelo L-ECD-6A da Shimadzu, Japão) pela oxidação em um eletrodo de carbono vítreo fixado em 0,85 V relativo a um eletrodo de referência de Ag-AgCl.
RESULTADOS:
A cafeína reduziu o número de rotações induzida pela apomorfina (6-OHDA: 156,4±13,3; CAF10: 94,2±3,8; CAF20: 55,3±3,5), quando comparada ao grupo controle lesionado (6-OHDA). A injeção estereotáxica de 6-OHDA causou dano oxidativo e conseqüente destruição tecidual evidenciada pela diminuição em cerca de 51 à 78% dos conteúdos das monoaminas e de seus metabólitos no lado ipsilateral (estriado direito lesionado). Nos grupos tratados com cafeína nas doses de 10 e 20 mg/kg houve uma diminuição em cerca de 34 e 18 %, respectivamente, nos conteúdos de DA no lado ipsilateral (lado lesionado, DA – CAF10: 1646,4±189,6; CAF20: 2056,9±227,0) quando comparado com o lado contralateral (lado não lesionado, Cont C: 2504,5±119,1) dos controles, e em cerca de 57 e 33 % nos conteúdos de DOPAC (CAF10: 658,2±54,7; CAF20: 1023,6±132,0), enquanto os conteúdos de HVA diminuíram cerca de 20 e 13% (HVA - CAF10: 301,5±39,7 e CAF20: 321,7±29,9) também quando comparado com o lado contralateral dos controles (DOPAC - Cont: 1529,6±45,4 e HVA Cont: 370,6±26,7). O tratamento com a cafeína nas doses de 10 e 20 mg/kg diminuiu em cerca de 46 e 38%, respectivamente, os conteúdos de 5HT no lado ipsilateral (lado lesionado, 5HT – CAF10: 355,3±38,3; CAF20: 407,0±15,4) destes grupos quando comparado com o lado contralateral (lado não lesionado) dos controles (5HT - Cont: 659,1±42,8). Nenhuma diferença significativa foi vista entre quaisquer dos grupos com relação aos níveis de 5-HIAA.
CONCLUSÕES:
A cafeína produziu uma recuperação motora parcial evidenciada pela diminuição do número de rotações dos animais tratados em comparação com o grupo controle, e melhorou a função dopaminérgica estriatal recuperando os níveis das monoaminas no lado lesionado quando comparado com os controles tratados com salina. Este estudo estabelece uma relação entre o efeito protetor da cafeína e o desenvolvimento da doença de Parkinson, confirmando o potencial dos antagonistas do receptor da adenosina como um possível tratamento a ser melhor avaliado para essa doença neurodegenerativa.
Instituição de fomento: CNPq
Palavras-chave:  Parkinson; 6-hidroxidopamina; Cafeína.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005