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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
UM PARADIGMA POLIFÔNICO: ALGUMAS HISTÓRIAS DA ANÁLISE INSTITUCIONAL NO BRASIL
Lívia Borges Hoffmann Dorna 1 ( liviadorna@ig.com.br), Aline de Araújo Gonçalves da Cunha 1, Camilla Martins de Oliveira 1 e Heliana de Barros Conde Rodrigues 2
(1. Graduanda de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); 2. Professora Doutora do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ))
INTRODUÇÃO:
O intento de realizar uma reconstrução histórica dos caminhos trilhados pela Análise Institucional (AI) no Brasil se defronta com alguns obstáculos epistemológico-políticos, solidificados, inclusive, pela própria atividade historiográfica. Muitos historiadores das práticas psicológicas situam a presença da Análise Institucional em nosso país como simples variante da difusão psicanalítica ocorrida durante os anos 1970, promotora, a seu ver, da produção de uma “cultura psicológica”. Com tal procedimento, nos termos de Walter Benjamin, esses pesquisadores se identificam com “os vencedores” e privam o paradigma institucionalista, aprioristicamente, de qualquer eventual singularidade de percurso. Mesmo quando não operam essa redução prévia, os historiadores da psicologia dificilmente se mostram atentos às interconexões geográfico-políticas que parecem constituir uma marca indelével da emergência e difusão do institucionalismo no Brasil. Por essas razões, a Análise Institucional ainda é, em termos da historiografia brasileira, um “paradigma sem passado”, circunstância que nossa investigação procura, ao menos em parte, superar.
METODOLOGIA:
Com o objetivo de enfrentar os obstáculos mencionados, a presente pesquisa optou por algumas orientações metodológicas de base: concedeu especial destaque aos depoimentos orais, procurando, com isso, desvencilhar-se do funesto destino de recair obrigatoriamente em uma história dos paradigmas que se tornaram hegemônicos; ampliou o olhar para além de um âmbito demasiado local, buscando dar lugar a liames entre movimentos político-intelectuais de diferentes países (ou mesmo continentes). Essa combinação entre o recurso a histórias orais de vida dos analistas institucionais brasileiros ou radicados no Brasil (favorecendo a apreensão de múltiplos sistemas normativos a cada momento histórico) e a pesquisa bibliográfica acerca das condições político-intelectuais das décadas de 1960, 1970 e 1980 na Europa e América Latina (facultando perceber nexos e transmissões nos âmbitos teórico e institucional) visa a elaborar uma história efetiva, em moldes genealógicos, da Análise Institucional no Brasil, da qual este trabalho retrata alguns resultados e conclusões.
RESULTADOS:
Através dos procedimentos metodológicos citados, emergência e trajetória da Análise Institucional em três grandes cidades brasileiras - Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo - surgem em interferência com diferentes conjunturas e “idiomas”, quais sejam, respectivamente: a Ditadura Militar (início da década de 1970, presença da Análise Institucional socioanalítica francesa, cujos agentes haviam sido muito atuantes no Maio de 68 parisiense, no Setor de Psicologia Social da Universidade Federal de Minas Gerais); a redemocratização (final dos anos 1970, transmissão do paradigma institucionalista por parte de psicanalistas argentinos ligados ao Grupo Plataforma, exilados em função do Golpe Militar em seu país, que se reuniram no Instituto Brasileiro de Psicanálise, Grupos e Instituições - IBRAPSI); e a Nova República (decorrer da década de 1980, ressonâncias do caráter desinstitucionalizante da reforma psiquiátrica italiana, cuja atuação redundara à época na aprovação da lei antimanicomial 180, entre grupos e organizações vinculados à reestruturação de nossa assistência pública em saúde mental).
CONCLUSÕES:
Pode-se concluir, neste sentido, que o “sotaque” da Análise Institucional no Brasil está permeado do francês, do espanhol (ao modo portenho) e do italiano, devendo-se levar em conta que essas “línguas” sofreram inflexões bastante notáveis ao serem não apenas faladas “em outro lugar” político e sociocultural, como mescladas ao nosso “português brasileiro”. As polêmicas que cercaram a estada de Georges Lapassade, um dos criadores franceses da Análise Institucional, em Belo Horizonte (1972); o papel inovador e mesmo disruptivo, embora invariavelmente alvo de críticas, do IBRAPSI no panorama analítico e assistencial carioca (1978-1982); e a trajetória ascendente, não obstante jamais livre de obstáculos, de nossa reforma psiquiátrica, tanto na cidade de São Paulo como no restante do país (a partir dos anos 1980) constituem significativos indicadores históricos com os quais prosseguimos trabalhando no intuito de apreender condições, emergências e efeitos da “polifonia” institucionalista na formação e atuação dos psicólogos brasileiros.
Instituição de fomento: CNPq; UERJ
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Análise Institucional; História oral; História da psicologia.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005