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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia
JOVENS EM MOVIMENTO: O PROCESSO DE FORMAÇÃO DA PASTORAL DA JUVENTUDE DO BRASIL
Flávio Munhoz Sofiati 1 (flaviosofiati@uol.com.br)
(1. Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCar)
INTRODUÇÃO:
Este trabalho analisa, numa perspectiva sócio-histórica, o método de formação utilizado pela Pastoral da Juventude do Brasil (PJB) junto aos grupos de jovens da Igreja Católica (IC) que são influenciados pela Teologia da Libertação (TL). O objetivo é investigar o processo de formação dessa juventude e apresentar sua contextualização histórica, procurando identificar as mudanças ocorridas durante as décadas de 1980 e 1990. O processo de formação, composto por vários elementos que norteiam a evangelização do católico nas pastorais, corresponde aos métodos pedagógicos e opções políticas assumidas pela PJB em seu desenvolvimento. Dentre eles, destaca-se a opção pelo trabalho em pequenos grupos de base e a utilização do método ver-julgar-agir-rever-celebrar, concebido como um modo de inserção e olhar sobre a realidade social e religiosa do país. A interpretação do processo de formação da PJB, seu método pedagógico e suas opções políticas, possibilita o entendimento do que representa o modelo de IC, fundamentado pela TL, no contexto religioso e social brasileiro. Em virtude de sua influência nos movimentos sociais - a juventude inserida no método da PJB, na maioria das vezes, participa de algum movimento social como associações, sindicatos, ongs, partidos e leva a formação adquirida para esses movimentos -, torna-se importante a análise das linhas de pensamento que sustentam a IC e sua política pastoral referente à população jovem e católica.
METODOLOGIA:
Esta pesquisa se enquadra no tipo de análise descritiva que enfatiza o aspecto sociológico e histórico da PJB. O estudo de seu processo de formação e do contexto no qual está inserido sua proposta de trabalho entre os jovens é o suporte que possibilita compreender a questão das mudanças no método pedagógico e nas opções políticas dessa pastoral. Os dados para análise foram coletados a partir de fontes documentais e de pesquisa bibliográfica que estão classificados em cinco categorias, sendo as duas primeiras fontes primárias e as três últimas fontes secundárias: 1) documentos da PJB e livros de autores ligados a ela; 2) documentos oficiais da IC; 3) autores ligados à IC e que fazem sua análise, principalmente os que discutem Teologia da Libertação; 4) teóricos que pensam a Religião, isto é, autores das ciências sociais que auxiliam na análise do material coletado e norteiam a linha de pesquisa e de trabalho; 5) Autores que auxiliam na análise do contexto histórico brasileiro e na interpretação do conceito de juventude. Junto com a análise dos documentos, fez-se entrevistas semi-abertas e se utilizou questionário de apoio, enviados a jovens e assessores da PJB, que contribuiu com o entendimento dos dados recolhidos nos documentos e livros acerca da PJB. Os entrevistados são jovens que participam dos grupos de base e lideranças nacionais, principalmente personalidades que fazem parte de sua trajetória e que influenciaram em seu processo de formação.
RESULTADOS:
A pesquisa indica que a PJB é levada a assumir uma perspectiva subjetiva da vida e de privatização dos interesses do indivíduo, ou seja, as necessidades coletivas e políticas, presente nos anos 1980, cedem lugar, na década de 1990, para o pessoal e cultural, com uma ação voltada para o cotidiano sem o compromisso de participação na sociedade civil. A preocupação com a afetividade e a sexualidade encobre a dimensão social e ganha espaço na formação pastoral que passa a desenvolver seu método pedagógico nessa direção. As opções políticas continuam a mesma, isto é, a PJB continua defendendo a construção de uma nova sociedade, chamada pela Igreja progressista como Civilização do Amor, porém, optou-se por uma prática eclesial, comprometida com a resolução de problemas individuais. Nesse sentido, é possível afirmar que o processo de formação da PJB sofre interferência das conjunturas sociais, políticas, culturais e religiosas, já que utiliza a perspectiva indutiva na sua formação. Significa que a PJB parte da realidade interpretada pela ótica materialista para desenvolver sua teoria de ação, tornando o método muito ligado às conjunturas. Deste modo, nos anos 1980, quando havia uma forte presença social no contexto nacional, a PJB direcionava sua formação para a questão política e, nos anos 1990, com a eclosão do pós-modernismo, da conjuntura neoliberal e do desencanto pela atuação política, a PJB assume uma perspectiva mais espiritualista e de valorização do indivíduo.
CONCLUSÕES:
O processo de formação da PJB está intimamente relacionado com os meios específicos no qual os jovens católicos estão inseridos, principalmente a escola, o meio rural, a periferia e o espaço eclesial, ocorrendo o desenvolvimento de um método que busca partir das realidades juvenis, interpretadas por uma teoria orientada pela proposta do protagonismo juvenil. O método ver-julgar-agir é central na proposta de formação da PJB e, por isso, foi importante analisar sua evolução. As mudanças dos anos 1990 possibilitaram um processo que redireciona a perspectiva da PJB, ocorrendo uma verdadeira readequação ao contexto neoliberal. O problema é que, nos grupos da PJB, grande parte dos jovens estão em uma fase de iniciação no processo de formação. Portanto, o discurso presente nos documentos da PJB que norteia o método de formação é produzido e influenciado por uma minoria de militantes engajados na IC e nos movimentos sociais. Essa situação leva ao questionamento dos limites daquilo que é chamado de protagonismo juvenil. Assim, o protagonismo é apenas dos jovens militantes enquanto que os jovens iniciantes, na maioria das vezes, limitam-se à passividade da presença nas reuniões dos grupos e nos eventos de massa, promovidos periodicamente em todo o Brasil. Porém, o grupo também é provido de potencialidades que dão condições para os jovens desenvolverem sua ação que nos anos 1990 fica mais restrita em virtude da opção pelo trabalho intra-eclesial, isto é, voltada para o interior da IC.
Palavras-chave:  Sociologia da Religião; Processo de Formação; Juventude.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005