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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação | ||
ESCOLA E HOMOSSEXUALIDADE: A EDUCAÇÃO DE JOVENS HOMOSSEXUAIS NO ENSINO MÉDIO (CUIABÁ, MATO GROSSO) | ||
Meire Rose dos Anjos Oliveira 1, 2 (meirerosegeo@yahoo.com.br) e Maria Aparecida Morgado 2 | ||
(1. Colégio Master; 2. Programa de Pós-Graduação em Educação - UFMT) | ||
INTRODUÇÃO:
A educação escolar tem tido dificuldade para dar conta do debate sobre a sexualidade humana. No caso da homossexualidade parecem predominar visões mais conservadoras. A homossexualidade pode ser definida de várias formas por muitos autores, em poucas palavras, é um desejo de se vincular emocionalmente com alguém do mesmo sexo. Pode ser vista simplesmente como uma ou única preferência dos desejos amorosos e sexuais por pessoas do mesmo sexo. O Movimento dos Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros tem conquistado importantes avanços políticos e jurídicos. Através dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), a escola tem a possibilidade de trabalhar orientação sexual com seus alunos, incluindo conceitos básicos e informações sobre homossexualidade. De acordo com a psicologia, para a constituição da homossexualidade na juventude pode ocorrer o processo de identificação, processo psicológico, em que o individuo se constitui a partir do modelo de outra pessoa, é a forma mais primitiva da relação emocional. Convém observar que o processo de identificação ocorre num mundo de complexidade e, que as escolhas homossexuais se efetivam em meio ao combate contra os constrangimentos a que tantas vezes estão submetidos os protagonistas dessa orientação. A experiência no cotidiano escolar despertou interesse em pesquisar jovens homossexuais para conhecê-los melhor e tentar oferecer elementos para intervenção pedagógica menos preconceituosa e mais tolerante. |
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METODOLOGIA:
A pesquisa se desenvolve numa perspectiva qualitativa. Envolve revisão bibliográfica a respeito de educação, juventude e homossexualidade, escolha dos sujeitos onde foram estabelecidos critérios de que seriam homossexuais assumidos, idade maior ou igual a dezoito anos, que cursem ou tenham cursado o Ensino Médio, as entrevistas foram realizadas fora do espaço escolar. Em 1997, foram publicados pelo Ministério da Educação, os PCNs, que sugerem o trabalho de orientação sexual nas escolas. Em função disso, foram escolhidos oito jovens que cursaram ou cursam o Ensino Médio antes e depois dos parâmetros, para comparar se houve mudança em como é encarada a homossexualidade no espaço escolar. Foi aplicada entrevista semi-estruturada com perguntas acerca da relação dos sujeitos com a família, professores, colegas de sala de aula, escola como espaço ou lugar e, constituição de espaços direcionados ao público homossexual. Com respaldo em vários autores foram feitas as análises e conclusões. |
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RESULTADOS:
Percebeu-se que muitos jovens por assumirem sua homossexualidade foram repudiados pelos colegas, professores e muitos, não todos, por pessoas da família. Muitas são as pressões para que o jovem homossexual mude seu comportamento, alguns tentam ser o melhor aluno da sala de aula para se contrapor a sua imagem, dizem que o homossexual é sempre apontado como o ruim na escola, por causa disso muitos acabam abandonando esse espaço. Todos os entrevistados concordam que a evasão escolar nem é a pior conseqüência da discriminação, muitos jovens não suportando a pressão, acabam cometendo suicídios. Os entrevistados dizem que alguns professores não conseguem sequer conversar sobre métodos contraceptivos, que dirá da homossexualidade. Os jovens que estudaram em escolas privadas afirmam que existe um forte preconceito e, quando um caso de homossexualidade é desvelado, a escola raramente age para evitar que o jovem seja excluído do grupo. Acontece a mesma coisa na escola pública, porém, em uma das escolas onde um dos entrevistados estudou, já existe um projeto sobre homossexualidade. Quando perguntados a respeito da escola ser um espaço para jovens homossexuais, a maior parte disse não ser, pois muitos colegas ainda preferem não ter um colega homossexual e que grande parte dos professores ainda demonstram rejeição. |
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CONCLUSÕES:
A escola é considerada um espaço de relações sociais, onde amizades são feitas e o mundo vai se constituindo juntamente com a construção de sua autonomia. Porém, constatou-se que nesse espaço existem entraves nas relações quanto à homossexualidade, como quando os professores enfrentam dificuldades no manejo escolar quando estudantes abertamente homossexuais são discriminados por colegas, podendo acarretar prejuízos à aprendizagem desses jovens discriminados à interação deles com colegas e professores. É na juventude que o interesse erótico passa a ser socialmente permitido e sua prática consentida: a escolha amorosa eclode, e na homossexualidade essa eclosão pode trazer conflitos que permeiam suas relações afetivas e sociais. Os jovens homossexuais entrevistados vêem que a escola não é um espaço próprio para eles, assim criam seus espaços para poder se permitir a manifestações de afeto e erotismo, para ter seus territórios de convivência, evitar constrangimentos e, mesmo agressões pelas quais poderiam passar em outros lugares. Na escola, a questão reveste-se de relevância substantiva: educar em relação à homossexualidade permite que os jovens não sejam estigmatizados por suas escolhas eróticas, e tenham o direito de vivencia-la com dignidade como cidadãos. |
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Palavras-chave: Educação; Juventude; Homossexualidade. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |