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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 7. Psicologia do Ensino e da Aprendizagem
INTERAÇÕES ENTRE CRIANÇAS E ESTRATÉGIAS DE MEDIAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO E SUBJETIVIDADE
Veriana de Fátima Rodrigues Colaço 1 (verianac@uol.com.br), Eleonora Pereira 1, Hamilton Viana Chaves 1, Maria Lidiane Araújo Mota 1, Tatiana Gomes da Rocha 1 e Ticiana Santiago de Sá 1
(1. Departamento de Psicologia, Centro de Humanidades, Universidade Federal do Ceará - UFC)
INTRODUÇÃO:
A análise dos processos de desenvolvimento e aprendizagem à luz da teoria histórico-cultural tem possibilitado uma compreensão dos mesmos como mutuamente implicados e socialmente construídos. Nesta perspectiva, as situações de interação social assumem papel decisivo e catalizador destes processos, e são concebidas como espaço simbólico gerador de conhecimentos, de apropriação de significados e de construção de subjetividades, por conseguinte, promotoras de aprendizagens que impulsionam o desenvolvimento. Desta forma, compreende-se que examinar os processos interacionais significa buscar entender o fenômeno intersubjetivo, com suas implicações sobre o movimento dialético do desenvolvimento, envolvendo processos interpsicológicos e intrapsicológicos constitutivos do mesmo. À luz dessa compreensão sobre desenvolvimento, processos de subjetivação e de conhecimento que se pauta nas teorias histórico-cultural de Vygotsky e da linguagem de Bakhtin, foi realizada a pesquisa em questão, a qual teve por objetivos investigar as estratégias de mediação simbólicas utilizadas por crianças em situação de interação no contexto de sala de aula, quando as mesmas realizam conjuntamente tarefas escolares, identificar a emergência de zona de desenvolvimento proximal (ZDP), entendida como espaço simbólico de construção compartilhada, e analisar o papel dessas interações nos processos de mediação social que implicam a construção de conhecimento e processos de subjetivação.
METODOLOGIA:
A abordagem teórico-metodológica do estudo seguiu a perspectiva da pesquisa histórico-cultural com um enfoque etnográfico, no que se refere à investigação empírica das interações infantis, e microgenético, na análise das atividades discursivas das crianças. Foram feitas observações em sala de aula, no decorrer do primeiro semestre de 2004, em duas turmas de quarta série do Ensino Fundamental de uma escola particular de Fortaleza, que apresenta uma proposta pedagógica com fundamento construtivista e interacionista. Em cada turma, foram escolhidas quatro crianças, sendo feitas gravações em vídeo de atividades escolares uma vez por semana, sempre no mesmo dia e horário para cada turma, sendo que as quatro crianças se organizavam num mesmo grupo e trabalhavam conjuntamente nas tarefas apresentadas pelas professoras para todos os alunos. Além das observações sobre o processo de construção compartilhada do conhecimento através da resolução dos problemas escolares, outros fatores foram também levados em consideração, como as situações de liderança, a negociação de papéis, relações de poder envolvidas e os vínculos afetivos. A atividade discursiva constituiu-se a unidade de análise em questão e a linguagem concebida não apenas em sua dimensão instrumental (função de representação), mas também como construtora de processos de subjetivação que dizem respeito à vivência entre os sujeitos e à maneira como essas práticas repercutem nos modos de singularizarão dos mesmos.
RESULTADOS:
As análises das atividades discursivas das crianças, desencadeadas em seus diálogos estabelecidos na realização conjunta das tarefas, dão conta da utilização de diferentes estratégias de mediação, as quais implicam emergência de ZDP, compreendida como espaço simbólico de construção numa relação dialógica que envolve negociação de papéis, aprendizagem sobre padrões de conduta e processos comunicativos. As estratégias comumente utilizadas são de natureza semiótica e possibilitam o compartilhamento dos conhecimentos envolvidos nas tarefas, na medida em que são expressas verbalmente pelas crianças ou através de gestos e sinalizações. Foram identificadas como estratégias mais importantes: leitura complementar de textos e enunciados de problemas; acentuação de sílabas ou de conteúdos específicos; silabação; complementação e negociação de idéias; construção e generalização de conceitos na produção textual; síntese e leitura conjunta do texto construído; dicas e pistas verbais para apoiar a ação do/a colega; revisão e correção da tarefa do/a colega; perguntas retóricas para retomar ou identificar partes essenciais do problema; e gesticulações, tais como: demonstração de contagem numérica, confirmação com a cabeça, localização de elementos essenciais na tarefa etc. Entende-se ainda que, não apenas os conteúdos específicos são compartilhados nas situações de interação, mas formas de comunicação, de conduta e de expressão de sentimentos que apontam para a construção de subjetividades.
CONCLUSÕES:
A partir dos resultados acima mencionados é possível fazer algumas reflexões acerca do papel potencializador das interações em sala de aula, não apenas do/a professor/a com os/as alunos/as, mas destes entre si. A riqueza percebida nas interações entre as crianças deixa claro a força construtiva dos processos mediacionais e estes circulam a todo momento nas relações sociais estabelecidas no contexto escolar. Seguindo a trilha dos autores que referenciaram teoricamente a pesquisa, as observações do cotidiano da sala de aula revelaram o papel da linguagem como organizadora do pensamento, integradora das ações e recurso privilegiado de mediações, que através de redes de significações construídas na intersubjetividade promovem as reconstruções singulares de cada sujeito, tanto no que se refere aos conhecimentos novos daí originados como na produção de suas subjetividades forjadas nessas interações. Assim, credita-se importância fundamental ao encaminhamento didático do professor, de modo a proporcionar espaços de convivência e intercâmbios no interior da sala de aula, estimulando a expressão discente e o trabalho em equipe.
Instituição de fomento: Universidade Federal do Ceará
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Mediação Simbólica; Interações Sociais; Conhecimento e subjetividade.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005