IMPRIMIR VOLTAR
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica
O INGRESSO DO JOVEM DO ENSINO MÉDIO NO MERCADO DE TRABALHO
Marilza Larranhagas da Cruz 1 (larranhagas@bol.com.br) e Izumi Nozaki 2
(1. Instituto de Educação, UFMT - SEDUC - FCARP; 2. Instituto de Educação, UFMT)
INTRODUÇÃO:
A partir da aprovação da LDB, em 1996, o Ensino Médio passou a compor a Educação Básica, de caráter obrigatório e gratuito, e no Art. 35 determinou como sua finalidade, “a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores”. Desde então, houve um crescimento de 84% no número de matrículas no Ensino Médio (SAEB, 2004), e as razões pelas quais a população passou a buscar o Ensino Médio foi “para ser alguém na vida”, “para ser um cidadão” e “para conseguir trabalho” (UNESCO, 2003). Entretanto, apesar da crescente valorização do Ensino Médio, implicada pelo sentido humano, de cidadania e do trabalho, dados estatísticos revelaram, além de altos índices de evasão, repetência e distorção idade-série, que os estudantes apresentavam habilidades e competências incompatíveis com a série em curso, e que aqueles que trabalhavam encontravam-se em estágio crítico em Língua Portuguesa enquanto os que não trabalhavam se encontravam no estágio intermediário (SAEB, 2004). Diante da situação, o presente estudo buscou compreender como os jovens estudantes do Ensino Médio ingressam no mercado de trabalho, como este os recebe e que competências e habilidades lhes são exigidas. Deste modo, o presente estudo buscou refletir sobre as condições requeridas e as condições encontradas nos jovens pelo mercado de trabalho na perspectiva dos administradores.
METODOLOGIA:
Com o objetivo de compreender como os jovens estudantes do Ensino Médio ingressam no mercado de trabalho, como este os recebe e que competências e habilidades lhes são exigidas, foram entrevistados doze administradores representantes das áreas da indústria, do comércio e de prestação de serviços do Município de Araputanga, Estado de Mato Grosso. Especificamente, foram entrevistados proprietários e/ou gerentes administrativos responsáveis pela contratação de funcionários, das seguintes empresas: Coopnoroeste – Cooperativa do Noroeste de Mato Grosso Ltda, Juba Supermercados Ltda., Gráfica OSCA, Rádio Difusora Arco-Íris de Araputanga, Lojas Oba-Oba Center, Sicredi – Cooperativa de Crédito Rural do Noroeste de Mato Grosso, Móveis Stillus, Hospital Geral e Maternidade Araputanga, Hotel e Restaurante Psiu, Curtuara – Curtume de Araputanga, Cooperativa de Trabalhadores e Lojas City Lar. As entrevistas foram realizadas in-locu, nas empresas, no período de outubro de 2004 a março de 2005, através de um roteiro de questões semi-estruturadas, com perguntas abertas e fechadas. Todas as entrevistas foram gravadas, e após, transcritas e analisadas.
RESULTADOS:
No que se refere ao modo como os estudantes do Ensino Médio ingressam no mercado de trabalho, o estudo revelou que o ingresso pode se dar por indicação de terceiros, por meio de um contrato de experiência temporária, através da análise de formulários preenchidos ou de provas, entrevistas, avaliação psicológica e de aptidão física. Quanto ao modo como o mercado de trabalho recebe os jovens, observou-se que a exigência da escolaridade depende da função a ser desenvolvida não sendo, de maneira geral, um importante pré-requisito para a contratação; a participação dos trabalhadores em cursos é esporádica; das 12 empresas, apenas uma delas conta com um Programa Institucional por meio do qual o funcionário passa pelo processo de adaptação e recebe informações sobre o funcionamento da empresa, legislação, organogramas, etc.; e em geral, a preparação dos jovens trabalhadores para o serviço fica a cargo dos empregados mais experientes. Quanto às competências e habilidades exigidas, segundo os administradores, estas se referem à comunicação, criatividade, responsabilidade, compromisso, respeito aos colegas e chefes, atenção, economia no material utilizado, assiduidade e pontualidade no trabalho; a despeito destas habilidades serem as mais requeridas, é amiúde a reclamação dos administradores quanto às dificuldades dos jovens em aprender os modos de realização das atividades, desde as mais simples até as mais complexas, principalmente, daquelas relacionadas à linguagem e à comunicação.
CONCLUSÕES:
O estudo concluiu que a) para a admissão dos jovens, o mercado de trabalho não dá a devida importância à escolarização e faz uso de estratégias (indicação, contrato de experiência temporária, análise de formulários preenchidos ou de provas, entrevistas, avaliação psicológica e de aptidão física) que pouca relevância dão aos conhecimentos escolares; b) o mercado de trabalho não fornece programas de preparação para o trabalho e responsabiliza os funcionários antigos pela mediação e socialização dos jovens trabalhadores frente aos conhecimentos específicos do serviço; c) após o ingresso, o mercado de trabalho requer dos jovens, habilidades e competências (comunicação, criatividade, responsabilidade, compromisso, respeito, atenção, economia, assiduidade, pontualidade) que refletem mais uma natureza comportamental do que uma aprendizagem e aplicação dos conteúdos escolares. Finalmente, no que diz respeito ao fato dos jovens apresentarem dificuldades para aprender o modo de realização de atividades, pode-se dizer que a) se o aprendizado precede o desenvolvimento, conforme teoria de Vygotsky, a aprendizagem de conteúdos escolares não tem promovido nos jovens o desenvolvimento das capacidades de aprendizagens para o trabalho, e b) se as dificuldades de aprendizagem referem-se especialmente às atividades relacionadas à linguagem e à comunicação, pode ser que este resultado seja um reflexo dos estágios críticos de desenvolvimento de habilidades e de competências em Língua Portuguesa.
Palavras-chave:  Ensino Médio; Mercado de Trabalho; Fracasso Escolar.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005