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C. Ciências Biológicas - 3. Bioquímica - 2. Bioquímica dos Microorganismos
AÇÃO TRIPANOCIDA “in vitro” DE EXTRATOS DE Pterodon pubescens (SUCUPIRA): POTENCIAL MEDICAMENTO CONTRA A DOENÇA DE CHAGAS?
Juliana Maria Lima de Souza 1 (jmju83@yahoo.com.br), Amanda N. Diógenes 2, Gustavo A.T. Laranja 3, Maria Cristina C. Silva 3, Marsen G. P. Coelho 3 e Mecia M. Oliveira 3
(1. Universidade Estadual do Ceará- UECE; 2. Universidade Federal do Ceará- UFC; 3. Universidade do Estado do Rio de Janeiro- UERJ)
INTRODUÇÃO:
A Tripanosomíase americana ou Doença de Chagas foi descrita por Carlos Chagas, que também descobriu seu agente etiológico, o Trypanosoma cruzi, caracterizou o ciclo vital do parasita e o seu vetor. A Organização Mundial de Saúde estima que 15 a 20 milhões de pessoas estão infectadas com o T. cruzi. Não existem vacinas e a droga usada atualmente para controlar a doença mostra aplicabilidade restrita em pacientes crônicos, além de apresentar severos efeitos colaterais. A investigação de atividades antiparasitárias de produtos naturais irá trazer a oportunidade de descobrir novas moléculas de estrutura única com alta atividade e seletividade, que podem ser posteriormente otimizadas com o uso da síntese química. Pesquisadores do Departamento de Bioquímica do Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes- UERJ vem se dedicando ao estudo das propriedades biológicas de Pterodon pubescens (sucupira branca) e Baccharis trimera (carqueja). Extratos dessas plantas mostraram propriedades imunomodulatórias, anti-edematogênicas e curativas no modelo murino de artrite induzida por colágeno. A avaliação da toxicidade dos extratos dessas plantas foi também realizada, facilitando novas pesquisas nessa área. Não há nenhum relato, que seja de nosso conhecimento, de estudos envolvendo extratos destas plantas e T. cruzi.
METODOLOGIA:
EXTRATOS: Os extratos etanólicos de folhas B. trimera (EeBt) e da semente de P. pubescens (OEP) foram obtidos no Departamento de Bioquímica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, bem como o fracionamento de OEP . A fração PF1 (fase de hexana da cromatografia líquido/líquido) foi submetida a cromatografia de alta pressão (HPLC), dando as frações: PF1.1, PF1.2, e PF1.3 (Silva et al., J.Pharm. Pharmacol., 55: 135-141, 2004).
TESTE DE BIO-ATIVIDADE: Culturas de T.cruzi epimastigotas (clone Dm 28), obtidas originalmente do Departamento de Protozoologia, Instituto Oswaldo Cruz, FIOCRUZ, eram mantidas a 28 ºC durante sete dias em BHI (brain-heart infusion médium) e suplementado com hemina e 10% de soro fetal bovino (FCS). Para os ensaios, as células foram incubadas em placas de cultura de 24 poços de 2mL durante 6 dias a 28°C , na concentração de 5x105 céls/ mL. Os efeitos desses sobre T.cruzi foram monitorados por observação da morfologia celular, por microscopia óptica (Zeiss-Axioplan), contagem das células em um hemocitômetro e determinação da concentração de proteína, em alíquotas retiradas do meio de incubação. As células eram lavadas três vezes com salina e a proteína determinada pelo método de Lowry (adaptado Lowry et al., 1951) em espectrofotômetro (B 395 Micronal) a 660nm. Realizou-se eletroforese em gel de agarose 1,5% (P/V) com a finalidade de verificar a qualidade do DNA genômico extraído.
RESULTADOS:
Os extratos etanólicos de P. pubescens (OEP) e de B. trimera (EeBt) tiveram efeitos muito diversos, sendo que o último foi totalmente inócuo para os parasitas. Isto foi observado por microscopia óptica e determinação da concentração de proteína dos tripanosomas tratados pelos extratos. Assim, as células tratadas com o extrato OEP apresentaram 100% de lise na concentração 50μg/mL. Já as células tratadas com o extrato EeBt, não apresentaram alterações mesmo em concentrações dez vezes maiores: 500μg/mL. O passo seguinte foi o de investigar a atividade das frações derivadas de OEP. A fração obtida por cromatografia líquido/líquido (PF1) teve maior ação tripanocida do que OEP, pois seu efeito causou lise em 65% das células a 10μg/mL, contra 15% de lise causada por OEP na mesma concentração. Prosseguindo com a investigação, testamos a bio-atividade do fracionamento de PF1 por HPLC, gerando as frações PF1.1, PF1.2 e PF1.3. A fração a PF1.2 teve uma ação 10 vezes maior do que o extrato original OEP (relação dose/dose), e três vezes maior do que a PF1. Foi feita a curva dose-efeito da fração PF1.2 e verificou-se 100% de lise de tripanosomas na concentração 5μg/mL.
CONCLUSÕES:
Nossos resultados indicaram que componentes do extrato etanólico de sementes de sucupira branca (P. pubescens) apresentaram atividade tripanocida sobre epimastigotas. O extrato foi purificado e a separação por HPLC revelou uma fração 30 vezes mais ativa do que o extrato inicial. Esta fração tem propriedades hidrofóbicas e sua completa caracterização está em andamento. Os resultados são promissores, apontando para um potencial fármaco contra a Doença de Chagas.
Instituição de fomento: CNPq e FAPERJ
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Pterodon pubescens; Medicamento; Doença de Chagas.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005