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D. Ciências da Saúde - 9. Ergonomia - 1. Ergonomia | ||
GINÁSTICA LABORAL: SEUS LIMITES E POSSIBILIDADES NA PROMOÇÃO DA SAÚDE DO TRABALHADOR | ||
REGINA HELOISA MACIEL 1 (rhmaciel@fortalnet.com.br) e ANA MARIA DE FREITAS COSTA ALBUQUERQUE 1 | ||
(1. UNVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE, MESTRADO EM SAÚDE PÚBLICA) | ||
INTRODUÇÃO:
As descobertas científicas e tecnológicas do final do século XX têm modificado o modo de viver e de agir das pessoas, assim como a sua forma de trabalhar. Apesar do avanço em várias áreas do conhecimento, as doenças ocupacionais, notadamente a LER/DORT, continuam sem receber o tratamento adequado. As causas e conseqüências são em parte conhecidas, apesar de ainda haverem controvérsias quanto ao seu diagnóstico e tratamento. Na busca de encontrar soluções rápidas, práticas e de baixo custo, os programas de ginástica laboral têm sido amplamente implantados em diversos seguimentos como a solução para a prevenção destas patologias. A ginástica laboral é uma atividade física realizada no local de trabalho, dentro da jornada, por um período de dez a quinze minutos diariamente, que se propõe a melhorar as condições de saúde dos empregados e a sua produtividade. Não há estudos que comprovem a eficácia da ginástica laboral (GL) na diminuição do absenteísmo e aumento da disponibilidade para o trabalho. No entanto, alguns estudos, por exemplo Longen (2003), apontam um melhor clima organizacional e satisfação com as condições de trabalho decorrente dos programas de GL. O objetivo desta pesquisa foi investigar, em duas empresas do mesmo setor econômico, seus programas de ginástica laboral, bem como as expectativas de empregadores e trabalhadores em relação a ele e seu impacto sobre a saúde dos trabalhadores. |
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METODOLOGIA:
O estudo foi realizado em duas fábricas de produtos farmacêuticos do estado do Ceará. As duas fábricas serão denominadas aqui de “X” e “Y”. A empresa “X” se localiza no município do Eusébio-Ce, tem três anos de funcionamento e aproximadamente 150 trabalhadores. A fábrica “X” já adota um programa de ginástica laboral há três anos, desde o início de seu funcionamento. A empresa “Y” fica localizada no município de Aquiráz-Ce, é uma multinacional de médio porte, com aproximadamente 500 trabalhadores que se dividem em três turnos. Vale ressaltar que a pesquisa não abrangeu os trabalhadores do turno da noite. A empresa “Y” iniciou o programa de ginástica laboral no mesmo período que foi iniciada a pesquisa. Na época da pesquisa o programa de GL tinha apenas 30 dias. O estudo é de natureza qualitativa, constituindo-se em dois estudos de caso. O método adotado consistiu de quatro fases, procurando-se abordar as duas empresas e seus trabalhadores de uma maneira que espelhasse melhor a realidade da implantação, acolhimento e conseqüências dos respectivos programas de ginástica laboral. As fases que compõe o método são: 1. Observações dos processos de trabalho através de visitas à área de produção; 2. Entrevistas com gestores de Recursos Humanos das duas fábricas; 3. Acompanhamento da implantação do programa de GL na fábrica “Y”; 4. Grupo focal com trabalhadores da fábrica “X”, multiplicadores do programa de ginástica laboral. |
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RESULTADOS:
Observação dos processos de produção. As fábricas possuem processos produtivos similares. Nas duas fábricas os trabalhadores exercem funções repetitivas em máquinas semelhantes, sem rodízio de funções e em ritmos elevados. A única pausa, além do intervalo para o almoço, é a da GL. As observações mostraram que nas duas fábricas os trabalhadores estão expostos aos fatores de risco de LER/DORT na mesma proporção. Entrevistas. As duas gestoras se mostraram satisfeitas com o programa de GL e com altas expectativas em relação a ele, incluindo a possibilidade de um menor número de casos de afastamento por LER/DORT e aumento de produtividade. Implantação do Programa na Fábrica Y. O treinamento dos “multiplicadores” do programa de GL é feito em três sessões de uma hora cada, em que a profissional responsável tenta repassar informações gerais e como realizar os exercícios. A implantação no chão de fábrica é feita rapidamente (5 minutos) sem grande participação. No entanto, após uma delas, a médica do trabalho disse a um dos multiplicadores: “vocês devem avisar os colegas que quem não fizer será punido.” Grupo Focal na Fábrica X. Participaram 8 multiplicadores do programa. Na análise do discurso percebe-se que os funcionários gostam do programa de GL e se sentem esperançosos quanto à sua eficácia no combate e prevenção da LER/DORT. No entanto, queixam-se de dores decorrentes do trabalho e relatam casos de afastamento por LER/DORT, mesmo depois da implantação do programa. |
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CONCLUSÕES:
Nas fábricas o trabalho é realizado manualmente, baseado nos princípios da teoria da administração científica. A esteira rolante, a divisão e repetição de tarefas estão presentes nos processos de trabalho das duas fábricas pesquisadas. Nas entrevistas ficou claro que o motivo da existência dos programas é, principalmente, a prevenção da LER/DORT, visto a existência de casos comprovados em ambas as fábricas. A implantação da GL na fábrica Y mostrou que há uma obrigatoriedade na realização dos exercícios, como mostrou a fala da médica do trabalho. Na fábrica X, os trabalhadores são obrigados a assinar um documento para “controle administrativo”. Vale a pena refletir sobre o fato da GL ser orientada por multiplicadores: Será que os multiplicadores têm condições de coordenar tal programa com um treinamento de três encontros com duração de uma hora? Será esse treinamento suficiente para preparar uma pessoa a executar tal função? No grupo focal ficou claro que os multiplicadores são pessoas escolhidas pela chefia, portanto pessoas de sua confiança para averiguar o cumprimento da ordem de realizar a GL. O fato da GL ser realizada com obrigatoriedade comprova a preocupação pelo aumento da produção e não com a promoção da saúde dos trabalhadores. A expectativa dos trabalhadores também é a prevenção da síndrome. Há a crença de que a GL diminuirá as dores decorrentes do trabalho. Parte dos trabalhadores nota que a GL não é a solução para o problema. |
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Instituição de fomento: FUNCAP-Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Ceará | ||
Palavras-chave: Ginástica laboral; Prevenção; Ler/Dort. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |